Rua 25 de Março
Centro, SP
Início: túnel sob a avenida Rangel Pestana
Final: Rua Paula Souza

2010
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Em 1930, a rua terminava sem saída pouco antes da rua Paula Souza e se iniciava na Ladeira do Carmo. Hoje ela se inicia na Rangel Pestana (ex-ladeira do Carmo), mas em um túnel que a liga à rua Frederico Alvarenga, sua continuação, e termina dirtamente na rua Paula Souza; a casa que interrompia a passagem foi derrubada há muito tempo.

O jornal "O Estado de São Paulo" de 25 de março de 2010 publicou uma reportagem sobre a história da rua 25 de Março. Mais abaixo, a íntegra. Antes, porém, ele publicou também uma espécie de prólogo contando um tempo anterior a 1865, quando a rua recebeu o nome atual:


O nome da rua - Sete Voltas: A origem desta rua remonta ao século 18, quando era chamada de beco das Sete Voltas. Naquela época, acompanhava, mais ou menos, as margens do rio Tamanduateí. No século 19, o beco recebeu a denominação popular de Rua de Baixo, na comparação com a colina do Pátio do Colégio (nota do autor deste site: as denominações Rua de Cima, rua do Meio e rua de Baixo eram comuns nas cidades anteriores ao século 19. Assim como São Paulo, diversas cidades fundadas até o início do século 19 as tiveram. Nomes que mais tarde não se mantiveram, como neste caso da cidade de São Paulo). No dia 28 de novembro de 1865, por proposta do vereador Malaquias Rogério de Salles Guerra, a rua de Baixo passou a chamar-se 25 de Março e issod esde a atual Carlos de Souza Nazareth, um de seus limites, até a projetada Praça do Mercúrio, a atual Praça Fernando Costa, e desse ponto em diante até a Ladeira do Carmo, atual avenida Rangel Pestana. Pouco tempo depois, e em todo o traçado, manteve-se 25 de Março. A data lembra a 1a. Constituição do Brasil, promulgada por d. Pedro I em 1824. (segue abaixo)


Mapa da região da rua da rua 25 de Março - trecho rua Paula Souza à rua Itobi. A rua começava (em 1930)num túnel sob a ladeira do Carmo (hoje avenida Rangel Pestana) e seguia até quase a rua Paula Souza, onde acabava sem saída depois de atravessar a rua (hoje avenida) Senador Queiroz (Sara Brasil, 1930)

Mapa da região da rua 25 de Março - trecho rua Itobi à ladeira do Carmo.
A rua começava (em 1930) num túnel sob a ladeira do Carmo
(hoje avenida Rangel Pestana) e seguia até quase
a rua Paula Souza, onde acabava sem saída depois
de atravessar a rua (hoje avenida) Senador Queiroz (Sara Brasil, 1930)

Neste mapa de 1877, a rua 25 de Março aparece ainda sem laterais definidas e acompanhando o rio Tamanduateí ainda não retificado. Seguia desde o Aterrado do Gasometro
(avenida Rangel Pestana)
até o rio Anhangabaú (hoje canalizado debaixo da rua Carlos de Souza Nazareth naquele ponto) e fazia uma curva fechada para a esquerda chegando
na rua Florencio de Abreu (então rua da Constituição). Notar a continuação para o Sul, sem nome citado, hoje Frederico Alvarenga, uma alameda arborizada naquela época.
Não havia túnel para ligar as duas ruas.

Transcrito de O Estado de S. Paulo de 25/3/2010. Texto de Valéria França

Uma das ruas de comércio mais famosas do Brasil, a 25 de Março, no centro de São Paulo, completaria hoje 116 anos. Sim, completaria, porque, para a surpresa dos comerciantes, até dos mais antigos da região, um livro que chega às livrarias paulistanas no domingo, Mascates e Sacoleiros (Scortecci Editora, 158 páginas, R$ 30), revela que a rua é bem mais velha. "O primeiro ofício de registro é de 1865. Portanto, a rua tem 145 anos", diz o autor Lineu Francisco de Oliveira, economista e mestre em Administração. Fruto de uma pesquisa que começou como um trabalho acadêmico, o livro é um apanhado de curiosidades desse tumultuado centro de comércio, que chega a receber nas vésperas de grandes datas comemorativas 1 milhão de pessoas - o suficiente para lotar 12,5 Estádios do Morumbi. Ali, o autor descobre, por exemplo, que o compositor Adoniran Barbosa trabalhou, em 1935, como vendedor e entregador de uma loja de tecido. "O mais intrigante é que ele foi demitido por ter o hábito de atender os clientes batucando no balcão", diverte-se Oliveira. "Mas ele preferia ficar na rua a ficar na loja."

É com a ajuda de detalhes como esse que o autor vai traçando o perfil da região ao longo do tempo. E mostra, assim, que alguns problemas persistem desde os primórdios. Enchentes. A primeira grande enchente registrada na história da região ocorreu em 1.° de janeiro de 1850. Um temporal de seis horas alagou as casas às margens dos Rios Tamanduateí e Anhangabaú. Das 27 casas destruídas, 14 eram de taipa. As consequências das águas foram tão aterradoras que a cidade de Santos ajudou financeiramente a capital na recuperação dos estragos. A Rua 25 de Março começou numa região de porto (daí o nome de uma de suas travessas, a Ladeira Porto Geral), de onde partiam mercadorias diversas pelos Rios Tamanduateí e Anhangabaú. Depois da grande enchente houve, segundo o autor, a mudança da rota do rio. Mais tarde houve a canalização, concluída em 1914. Mas até hoje a região é vítima das enchentes.

Segurança. Outro problema é a criminalidade. Quem frequenta a rua sabe que é preciso sempre tomar muito cuidado com a carteira. As calçadas estreitas, tomadas por camelôs, e o excesso de pessoas deixam a via propícia para pequenos assaltos. Em 2006, a Guarda Civil Metropolitana inaugurou um projeto de monitoramento eletrônico, instalado nos pontos de maior incidência de roubos. Na época, Oliveira era gerente de sistemas da Prodam, empresa de processamento de dados, e coordenou a colocação das câmeras de segurança. "A equipe de trabalho foi ameaçada pelas gangues, que chegaram até a cortar os fios do sistema. Tivemos de contar com reforço policial." Desde o início do século 20, a rua é palco de episódios policiais. Em 1908, o comerciante Elias Farah, dono de uma loja de tecidos, foi estrangulado, esquartejado e colocado dentro de uma mala por um de seus empregados, Miguel Traad, um imigrante árabe de Beirute. O criminoso pretendia jogar o corpo ao mar.

Segundo o autor, são os crimes contra a Fazenda Pública que mais preocupam as autoridades atualmente, referindo-se à questão do contrabando, que hoje tem como figura emblemática o empresário chinês Law Kin Chong, multado em R$ 2.436.448 e preso, em 2007. Negócios. A Rua 25 de março é conhecida por ter bons preços. Ali se encontram mercadorias a partir de R$ 1, caso de acessórios para cabelo vendidos nos camelôs. As lojas, porém, vendem de tudo, a preços variados. Cristais para lustres, roupas indianas, tecidos, cortinas e tapetes, entre outros artigos. "Nos andares mais altos dos prédios há joalherias", conta Oliveira. O consumo é alto. Segundo dados da Prefeitura, 48% dos compradores gastam até R$ 2,5 mil. "A 25 de Março recebe todo tipo de público", diz Camila Abdala, da Loja Doural, com 150 funcionários. "Nossa gama de clientes vai da sacoleira até a madame, que chega acompanhada de seguranças. Ela escolhe e vai embora. A secretária paga a conta e a loja entrega em casa."

Classe alta. De olho nesse público, a loja, que é uma das mais antigas - inaugurada em 1905 -, passou por uma modernização. Famosa por vender tapetes, tecidos e cortinas, a Doural sofisticou as prateleiras com uma série de produtos importados para cozinha, como panelas de cobre e máquinas de café expresso. Para isso, abriu uma importadora, a Abdala Import. "No início foi difícil porque marcas como a Nespresso tinham muita resistência em vender suas mercadorias na 25 de Março", comenta Camila. "Achavam que o lugar depreciaria o produto. Agora, mudaram de ideia." A Doural é um exemplo de novos tempos. Os funcionários usam uniforme. No mezanino, uma copeira serve café expresso e água para os clientes. "Também vendemos pela internet." Apesar das mudanças, a casa ainda preserva a fachada do início do século passado. "Essa rua era muito diferente", diz Jorge Ghachache, dono do restaurante Gebran, que fica nas redondezas. "Esses prédios eram residenciais, na parte de cima, e comerciais em baixo", conta. "Muitos hospedavam clientes que vinham do interior", diz Oliveira.

FATOS QUE MARCARAM A REGIÃO: 1865, Rua de Baixo vira a 25 de Março; 1905, Inaugurada a Doural; 1950, Enchentes são comuns; 2000, Camelôs causam insegurança; 2010, Modernização do comércio atrai classe A.
(Final da reportagem d'O Estado)


A rua em março de 2010. Foto da reportagem de O Estado de S. Paulo de 25/3/2010



 



Atualização: 26.03.2010