É Fernando Maia de
Marsillac quem conta, em maio de 2002: "Apesar de toda a
veneração que temos pelos trens, confesso que no fundo sinto mais
saudade é dos bondes. O bonde era mais próximo, mais íntimo.
O trem andava no campo em velocidade alta, o bonde andava na cidade,
em velocidade baixa, de modo que do trem você via paisagens à distância,
enquanto que do bonde você via quem estava na calçada, dava até para
cumprimentar algum conhecido. Se o bonde se punha em movimento quando
alguém ainda estava tentando embarcar ou desembarcar, todos "chiavam"
e o bonde parava imediatamente; isto no trem seria impossível. O bonde
fazia curvas a 90 graus (virava a esquina), subia e descia ladeiras;
o trem não podia fazer isso. O trem parava numa estação, geralmente
longe de casa; o bonde parava na esquina de casa, parava na porta
do colégio. Uma viagem de trem era algo solene: você devia fazer uma
bagagem, uma maleta que fosse e dirigir-se até a

Inauguração do bonde do Bom Retiro, o
primeiro bonde elétrico de São Paulo, em 6 de maio de
1900
estação para aguardar o trem em horário determinado; freqüentemente,
a viagem de volta não seria no mesmo dia. No caso do bonde, você ia
pegá-lo na esquina, ia ao centro fazer alguma coisa e uma hora depois
já poderia estar de volta. Eu gostava muito do bonde. Nos anos 1960,
quando se intensificou o assassinato em massa dos bondes, cheguei
a dizer quase poeticamente: Para mim, cada linha de bonde que desaparece
é como um amigo que morre. Os bondes atrapalham o trânsito? Diziam
os "inimigos": o bonde não pode sair dos trilhos. Isto significa que
se houver um acidente sobre a linha, o bonde não poderá desviar-se
dele e terá que esperar talvez horas até que tudo se resolva. Neste
caso, ou se o próprio bonde quebrar, os demais bondes que forem chegando
irão parando atrás e formando uma verdadeira muralha chinesa que tornará
um caos o trânsito na cidade. Além disso, por ser muito lento, o bonde
ficou para trás e não pode, nem de longe, pensar em competir com o
ônibus. Quanto a quebrar e obstruir a linha, perguntaríamos: por que
não acontece isso com o metrô? Porque há manutenção adequada e se
houver algum problema que impeça o metrô de prosseguir por si mesmo,
logo virá um socorro para rebocá-lo até o pátio. No caso do bonde,
havia, provavelmente, sabotagem do próprio Poder Público para desmoralizá-lo
e acabar com ele o mais rapidamente possível. Quanto a ser vagaroso
e atrapalhar o trânsito (mesmo que ninguém quebrasse), é preciso ver
o outro lado da questão: como o bonde poderia ser útil se tivesse
uma faixa exclusiva para ele. Dois exemplos: a praia de Santos e a
Avenida Ibirapuera. Nestes casos a linha dupla dos bondes corria numa
área sem calçamento, com pedra britada entre os trilhos como uma estrada
de ferro, em Santos entre a avenida e o jardim da praia e na Avenida
Ibirapuera no canteiro central. Na Avenida Ibirapuera poderia ser
aproveitado como uma linha de metrô, já 50% pronta. Ao invés disso,
preferiram destruir o bonde e usar o seu espaço para mais duas pistas
asfaltadas em favor dos automóveis. Isto é resultado de uma política
urbana equivocada que privilegiou excessivamente o automóvel particular
em detrimento do transporte coletivo. Com o aumento da população,
o número crescente de automóveis particulares associado à inexistência
de um transporte coletivo digno e eficiente vai tornando as cidades
inviáveis. Quando você sai com seu carro particular, você arrasta
em torno do seu corpo físico uma "caixa" de 10 m2; já pensou se metade
das pessoas que fossem ao centro tentassem fazê-lo em carros particulares?
Lembro-me das frases e avisos típicos dos bondes: "Cuidado sempre!
prevenir acidentes é dever de todos" "O motorneiro cuidadoso
não conversa em serviço" "Cinco lugares em cada banco"
"Espere o carro parar" "É proibido fumar nos três primeiros
bancos". Além destes, havia muitos anúncios de propaganda comercial
que marcaram época.
No centro de São Paulo, o bonde "atrapalhando
o trânsito".
Se não me engano,
os bondes eram alimentados a 600 VDC (volts em corrente contínua).
No caso dos trens (3000 VDC), havia um único fio trolley e não dois
como nos ônibus elétricos, porque o retorno era pelos trilhos. Havia,
é claro, divisores de tensão, pois a iluminação do veículo devia ser
feita por lâmpadas comuns de 110 Volts. Em São Paulo a tomada de força
se fazia por uma carretilha (rodinha) que na ponta de uma haste ia
girando ao longo do fio trolley, enquanto as rodas do bonde giravam
nos trilhos. Nas outras cidades, os bondes tinham um arco tipo pantógrafo
que ia encostado no fio. Ao iniciar a marcha, o bonde não podia acelerar
muito rapidamente. A aceleração tinha de ser gradual, por "pontos".
Se o motorneiro tentasse sair acelerando bruscamente, o disjuntor
estourava desligando a energia do veículo e deveria ser rearmado manual
ou automaticamente, para recomeçar do zero a aceleração. Um dispositivo
interessante que vi em pleno funcionamento em Santos, mas que existia
também em São Paulo e no Rio e certaente não em Campinas era a chave
elétrica. Em bifurcações com grande movimento de bondes, para evitar
que os motorneiros precisassem parar os veículos a fim de mudar a
chave com uma alavanca de mão. existia poucos metros antes uma ligação
especial no fio trolley. Quando o pantógrafo passava por esse ponto,
o motorneiro acionava o controle de uma certa maneira e a chave mudava
sua posição, sem interferência manual. Quando acontecia falta de energia,
o bonde parava, é óbvio. Se fosse dada a partida com voltagem baixa,
para pôr o bonde em movimento seria puxada uma corrente muito alta
que poderia queimar o motor. Então,o motorneiro ligava o interruptor
das lâmpadas, mesmo que fosse meio-dia com sol quente, para usá-las
como voltômetro, aproveitando-se do fato de que elas não seriam afetadas
pela voltagem baixa. As lâmpadas apagadas acendiam-se fraquinhas,
ficavam mais fortes, mais fracas, mais fortes de novo, apagavam-se
outra vez. Essa oscilação durava alguns minutos. Somente quando as
lâmpadas atingiam o seu brilho pleno e assim permaneciam por algum
tempo, demonstrando que a voltagem tinha retornado ao normal é que
o motorneiro apagava as luzes e dava a partida no bonde. Eu achava
bonito aquele polígono funicular formado pelo fio que preso a dois
postes sustentava o fio trolley nas curvas. Cada louco com a sua mania.
Será que existe mais alguém nos dias de hoje que pense num detalhe
desses?
Bonde na avenida Paulista e a sua linha, quando a avenida
era bem mais estreita que hoje, em 1966
No princípio, os
bondes eram todos abertos, tinham duas frentes e acesso pelos dois
estribos, esquerdo e direito. Quando chegavam no ponto final viravam
os bancos e o motorneiro mudava de lado. Aos poucos, a região do ponto
final, sobretudo junto ao centro, foi se tornando mais movimentada,
algumas ruas passavam a ter mão única e o sistema de virar os bancos
começou a tornar-se inconveniente. Nesses locais construiram-se para
o retorno "balões"em praças ou uma volta na quadra. Nas ruas de maior
movimento começava a tornar-se perigoso embarcar ou desembarcar pelo
lado esquerdo. Usava-se, então, a entrevia, um sarrafo de cerca de
10 cm de altura, cujo comprimento ia do primeiro ao último banco.
A entrevia ficava embutida na parte superior do bonde, junto ao teto
e era descida até a altura dos bancos nos locais de maior movimento,
para lembrar aos passageiros que não deveriam descer ou subir por
aquele lado. Com o progresso, muitos carros, bondes com linha dupla
nas avenidas principais e gente que não respeitava a entrevia, pondo
em risco a própria vida, em São Paulo e no Rio de Janeiro acabaram
por fechar o lado esquerdo, retirando uma das frentes, de modo que
esse bonde nunca mais viraria os bancos e andaria sempre na mesma
direção, a menos, é claro, de uma eventual marcha a ré. Em São Paulo
foi colocada uma chapa de aço até um pouquinho acima dos bancos, onde
viria a ser mais ou menos uma janela de ônibus. No Rio, uma cidade
bem mais quente, foi colocada uma tela de aço reticulada.
Havia dois tamanhos de
bonde: os de 10 bancos, com 4 rodas e outros mais longos com alguns
bancos a mais e 8 rodas (dois truques). Em 1927 a Light introduziu
em São Paulo um bonde grande de 8 rodas, fechado, que recebeu o apelido
de camarão, por causa de sua cor vermelha. Esse camarão, a meu ver,
era uma humilhação para o passageiro: com exceção de quatro lugares
normais na frente e um atrás, todos os outros lugares eram de lado;
dois compridos bancos encostados às janelas, em toda a extensão do
veículo. Qual a finalidade disto? Tirar conforto de quem estivesse
sentado e oferecer muitos lugares em pé. Nunca me conformei com isso.
Anos depois veio um outro camsrão chamado CENTEX, importado de Nova
York, este sim, bonito, confortável, rápido e silenciosoo. Em todas
as cidades de que estamos falando os bondes eram sempre abertos, só
havendo camarões em São Paulo, que coexistiam com os bondes abertos,
pois estes continuaram circulando. A "curtição" mesmo era o bonde
aberto; o camarão penso que foi uma tentativa para evitar evasão de
rendas: como no ônibus você era obrigado a entrar por uma porta, passar
por uma borboleta onde pagava a passagem e saía por outra porta. No
bonde aberto você entrava e saía por onde quisesse e o condutor é
que tinha de ir até você para cobrar a passagem. Quando o bonde estava
cheio, as mulheres viajavam de pé entre os bancos. Os homens, por
uma questão de exibicionismo machista, viajavam no estribo, embarcavam
e desembarcavam com o bonde em movimento. As mulheres nunca viajavam
no estribo e sempre esperavam o carro parar. Perto do ponto final
nos bairros, era inevitável, meninos e cachorros sempre corriam atrás
do bonde. Quando chovia, o bonde aberto era um problema, mas ele tinha
umas cortinas de lona que ajudavam. E naquele tempo, tudo era festa.
Tripulação e controles - Eram dois os tripulantes principais: motorneiro
e condutor. Havia também o fiscal, mas ele não viajava o tempo todo
no bonde; só em alguns trechos. De onde viria essa palavra híbrida,
motorneiro? Penso que viesse de motor + torneira. Motor, porque ele
dirigia o veículo, e torneira talvez porque para dirigi-lo, girava
manivelas. Seria isso? Quem sabe? Com a mão esquerda, o motorneiro
acionava uma manivela pequena chamada "controller". Era o acelerador
do bonde e variava por pontos e não de forma contínua, como o acelerador
de um carro ou de um ônibus elétrico. Era uma resistência variável.
O número máximo de pontos era 9. A expressão "um bonde a 9 pontos"
queria dizer que ele estava na velocidade máxima, "voando" sobre os
trilhos, quem sabe, a uns 30 ou 40 km/hora. Na mão direita o motorneiro
acionava uma manivela grande ou roda, que girava e travava com o pé.
Era o breque, o freio. Disso depreende-se que o freio era mais importante
que o acelerador e, assim sendo, o motorneiro não deveria ser canhoto.
Se o fosse, melhor seria mudar de profissão. O atrito das rodas de
aço nos trilhos de aço era menor que o dos pneus de borracha no asfalto
ou mesmo nos paralelepípedos, de modo que o freio do bonde poderia,
em certos casos, não responder com a devida presteza. Se houvesse
dúvida de que a força muscular do braço direito do motorneiro e o
seu tempo de reação não fossem suficientes para deter o bonde a tempo,
havia um recurso extremo: com a mão esquerda no controller, ele podia
acionar uma contra-corrente ou seja marcha a ré; as rodas giravam
ao contrário expelindo faíscas dos trilhos e o paquidérmico veículo
parava bruscamente num tranco. Geralmente dava certo. Depois, para
alegria dos motorneiros e maior segurança de todos, instalaram-se
freios a ar comprimido nos bondes, comandados por uma pequena alavanca
entre o controller e a roda de freio, ficando esta em repouso, para
ser usada apenas eventualmente. O ar comprimido melhorou muitíssimo
as condições de freagem. Foi usado de forma definitiva em São Paulo,
Santos e Rio. Aqui em São Paulo, os compressores dos bondes foram
aproveitados nos ônibus elétricos. Alguns motorneiros trabalhavam
em pé, outros dispunham de um banquinho para sentar. A buzina do bonde
era um sino e era acionada com o pé. O condutor tinha esse nome porque
além de cobrar as passagens, era ele quem dava o sinal de partida
(bonde aberto). Estando de costas, o motorneiro não podia ver se ainda
havia alguém embarcando ou desembarcando. Cabia ao condutor fazer
essa verificação e liberar a partida. O condutor tinha de ser um tanto
malabarista. Para cobrar as passagens percorria o veículo pelo estribo,
com um maço de dinheiro na mão esquerda (notas, moedas e passe), e
com a mão direita fazendo as cobranças e o troco, agarrando-se aos
balaúsres e contornando os passageiros que viajavam no estribo; tudo
isso, é claro, sem cair, sem perder dinheiro e com a agilidade para
cobrar todas as passagens de um bonde cheio de gente. (O condutor
podia ser canhoto). Para cada passagem cobrada, ele puxava uma alavanca
que adicionava 1 ao mostrador mecânico designado como "relógio". Embarcando
em certo ponto, o fiscal via quanto estava marcando o relógio, contava
quantas pessoas havia no bonde, fazia algumas anotações numa ficha
de controle, prosseguia a viagem por algum tempo observando tudo e
depois desembarcava para continuar seu trabalho de fiscalização em
outro bonde. Contava-se a piada de um condutor que registrava duas
passagens quando cobrava três, fazendo esta contabilidade: "dois pra
Light, um pra mim". Isso é que é participação nos lucros, 33,33 %.
O bonde aberto hoje, em locais de grande movimento, seria a apoteose
da evasão de renda, praticamente ninguém pagaria a passagem, mas naqueles
tempos não existiam a má-fé, o desrespeito e o banditismo dos dias
atuais. Somente um ou outro, esporadicamente, pensaria em não pagar
a passagem. Um capítulo importante nesta história era o reboque, um
bonde sem motor, puxado pelo bonde principal. Originalmente, o reboque
era uma espécie de segunda classe do bonde, bonde operário ou bonde
de tostão (100 réis), sendo 200 réis a passagem do bonde principal.
O reboque era menor e menos confortável. Depois acabou essa diferença,
fizeram-se reboques iguais aos bondes e unificou-se o preço da passagem.
Provavelmente, os primeiros reboques eram os antigos bondinhos puxados
por burros. Com a eletrificação e a conseqüente aposentadoria dos
burros, os bondinhos sem motor foram promovidos a reboques dos "modernos"
bondes elétricos.
São Paulo tinha bondes abertos de 4 e de 8 rodas e fechados (camarões)
todos de 8 rodas. Eram cerca de 60 linhas. Algumas das principais
foram as indicadas a seguir. Para o lado leste: 6 e 7 PENHA Pça Clovis,
Rangel Pestana, Celso Garcia. Para oeste: 35 LAPA Pça do Correio,
Av. São João, etc. Para o norte: 42 e 43 SANTANA Largo de São Bento,
Florêncio de Abreu, Av. Tiradentes, etc. Para o sul: 23 DOMINGOS DE
MORAIS, depois prolongada até São Judas, com o número 66, Pça João
Mendes, Liberdade, Vergueiro, Dom. Morais, Av. Jabaquara. Para sudoeste:
29 PINHEIROS Pça Ramos de Azevedo, Xavier de Toledo, Consolação, Dr.
Arnaldo, Teodoro Sampaio, Largo de Pinheiros. Para sudeste: 32 (?)
VILA PRUDENTE Pça joão Mendes, Glória, Lavapés, Independência, etc.
Para nordeste: 34 VILA MARIA E 67 ALTO DE VILA MARIA Para noroeste:
CASA VERDE Lgo São Bento, Florêncio de Abreu, Estação da Luz, José
Paulino, etc. Uma linha central importante era 36 AV. ANGÉLICA. Fazia
Pça do Corrreio, São João, Angélica, Maceió, Consolação, Paulisra,
Paraíso, Vergueiro, Liberdade, Pça João Mendes, e daí voltava. Nos
anos 20 existiu uma linha VILA MARIANA - PONTE GRANDE, que, de certa
forma, pode ser considerada a "vovó" da linha Norte-Sul do Metrô.
Isto mostra que, pelo menos nos eixos principais, os bondes não estavam
errados em seus itinerários. Para continuarem prestando bons serviços
faltava-lhes apenas uma faixa exclusiva. O 40 JARDIM PAULISTA ia pela
Brigadeiro Luiz Antonio, Paulista e Pamplona. Atravessava a Av. Brasil
e terminava nas ruas de um bairro bonito que já não era mais Jardim
Paulista e sim Jardim América ou Jardim Europa. As linhas 44 JARDIM
EUROPA e 45 JARDIM PAULISTANO, que iam pelas ruas Augusta e Colômbia
para esses "bairros-jardins", foram substituídas por ônibus elétricos,
no início dos anos 50. Como estes ônibus eram uma novidade, não faziam
barulho e não emitiam fumaça, julgaram os luminares da época, que
eles deviam ser instalados em bairros de gente rica. E assim foram
colocados nesses bairros e naquelas ruas estreitas do Pacaembu próximas
à FAAP. Por que? Para ornamentar os bairros dos ricos. Na verdade,
os ônibus elétricos deveriam isto sim, ser implantados em grandes
avenidas, para transporte de massa, como é hoje no "atropelódromo"
da Av. Sto. Amaro. E os ônibus elétricos que foram colocados na rua
Augusta estão lá do mesmo jeito há 50 anos, sem nenhuma melhoria ou
progresso. Na falta de um culpado, ponha-se a culpa nos bondes.
Augusto Barbosa,o Bailarino,
motorneiro número 1877 da CMTC, que fazia a linha de Santana. Por
que Bailarino? Porque ele dançava. Estava sempre dançando. Trabalhava
dançando, cantando e fazendo diversas brincadeiras. Era alegre, brincalhão
e muito atencioso, principalmente com as senhoras, senhoritas, idosos
e crianças. Antigos moradores da região de Santana contam muitas estórias
pitorescas a respeito dele. Quando alguém tomava o bonde e via que
o motorneiro era o Bailarino, essa pessoa já se sentia feliz, não
só pela viagem, mas pelo resto do dia. Ele transmitia coisas boas.
Era querido por todos, o preferido dos passageiros, mas estava sempre
na mira dos fiscais e foi punido algumas vezes porque para fazer as
suas gentilezas cometia pequenas irregularidades, como parar fora
do ponto, esperar passageiros atrasados, etc. Morreu em 1984, provavelmente
por volta dos seus 60, cerca de 20 anos após a extinção dos bondes.
Uma figura tão simpática, a gente até lamenta não ter tido a oportunidade
de conhecê-lo pessoalmente."
Outro antigo passageiro é quem conta mais sobre o Bailarino:
"Lembro que uma vez o Bailarino contava estar com o bonde camarão
completamente lotado e quando parou para fazer descer passageiros
na altura da Ponte Grande, evitou abrir a porta de entrada. O bonde
estava completamente lotado e não caberia mais ninguém. Dada, porém
a insistência e às constantes batidas na porta, solicitando fossem
abertas, resolveu mostrar o quanto se tornara difícil fazer alguém
entrar no coletivo. Dito e feito. Ao abrir as portas, quatro passageiros
do bonde foram arremessadas para fora. Era realmente uma demonstração
cabível que o bonde estava bem lotado. Depois da sua aposentadoria,
ainda encontrava com ele pelas ruas de Santana. Não tinha mais o élan
dos velhos tempos. Estava muito entristecido. Mas, hoje sem dúvida,
próximo dos meus 65 anos, é uma referência de profissionalismo e bom
humor, na minha vida" (Romeu Landi, julho de 2005).
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