E. F. Central Paulista (Municípios de Paulista, Igarassu, Nazaré da Mata e Paudalho, PE) |
As ferrovias particulares brasileiras
- aqui classificando-as como sendo ferrovias que não eram
de uso público, sendo utilizadas apenas dentro de empresas,
indústrias, usinas e outras - foram pouquíssimo estudadas
e pesquisadas no Brasil. Uma ou outra têm mais informação:
seu patrimônio se esvaiu há décadas, vendido
como sucata em grande maioria, sem que sua memória tenha
sido resgatada. Por isso, o que se vê é um estudo com
dados mínimos e colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis
(Ralph M. Giesbrecht). Proprietários identificados:
Engenhos do Timbó e Jaguaribe, em Paulista (1883) |
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É
sempre interessante ressaltar que as ferrovias de usinas e engenhos
centrais tiveram, pelo menos para Pernambuco, uma importância
enorme desde o final do século XX até pelo menos meados
do século XX. Para que se tenha uma idéia, segundo
a Revista do Instituto Archeologico, Historico e Geographico Pernambucano,
vol. XXIV, jan-dez 1922, no
ano de 1922 as linhas da Great Western, que levavam para o interior
do estado, para Maceió e para João Pessoa e Natal, totalizavam
890 km em território pernambucano, enquanto as ferrovias particulares
das usinas atingiam 1.163 km, ou seja, 30% a mais. Era uma época
em que Pernambuco era o maior produtor e exportado de açúcar
do Brasil, possuindo mais de 2500 engenhos, sendo que 490 forneciam
cana às usinas dos Engenhos Centrais. A ferrovia, de acordo com mapa do IBGE dos anos 1950, passava em sua maior parte no município de Paulista. Também tinha um pequeno trecho onde entrava e saía no município de Paudalho, outro que entrava e saía no município de Nazaré da Mata (embora no mapa abaixo esse trecho apareça como estando em Igarassu - veja canto superior esquerdo) e mais o seu trecho final, agora sim, no município de Igarassu. Tinha diversos ramais e bitola métrica, se acreditarmos no mapa do IBGE. Passava pelo centro da cidade de Paulista. Não está claro se o traçado da ferrovia que aparece nos mapas do IBGE dos anos 1950 seria todo da mesma ferrovia, devido à grande quantidade de pequenos ramais. A ferrovia não se ligava a nenhuma ferrovia de uso público. A ferrovia mais próxima era a linha Recife-João Pessoa da Great Western, depois RFN (Rede Ferroviária do Nordeste). Segundo o que consta no site www.abreuelima.pe.gov.br, "a concessão para a E. F. Timbó-Jaguaribe teve sua escritura para construção lavrada em 28 de agosto de 1883, para o proprietário do Engenho do Timbó, Francisco Theófilo da Rocha Bezerra, e aos proprietários do Jaguaribe, Rosa Francelina de Queiroz Dourado Cavalcanti e José Cavalcante de Albuquerque Gadelha e sua esposa Francisca Bandeira de Fraga Gadelha, para que os trilhos pudessem adentrar as suas terras. Até meados dos anos 1960, era possível ver em alguns trechos urbanos o que restara da velha estrada de ferro que possivelmente, levava ao porto Jatobá e/ou Arthur". Realmente, no mapa do IBGE, aparece como extremo leste da ferrovia o nome de Porto Artur. Era um porto fluvial, não muito longe da foz do rio - sem nome descrito no mapa - no oceano. Em 1887 o engenho Timbó, já de propriedade do comendador José Adolpho de Oliveira Lima, transforma-se na moderna usina do mesmo nome, com maquinário importado da Inglaterra. Mas em 1906, passa a constituir possessão do sueco Herman Theodor Lundgren. O novo proprietário, interessado apenas na enormidade das suas terras (148 Km2 - maior que a área do atual município), desprezou a produção de açúcar. Ainda assim consta nos anais da indústria açucareira que em 1914, produzia 40.000t anuais de açúcar, além de 5 pipas de álcool, possuindo 30 Km de estrada de ferro. Em 1993 já não moía cana de açúcar nem produzia seus derivados. Ou seja, o Engenho Central Paulista era também conhecido como Usina Timbó. Pertenceu ao Sr. Herman Lundgren e depois á Cia de Tecidos Paulista. Em 1918 chegou a ter 30 km de linhas em bitola de 0.66 m, além de um porto particular no Rio Maria Farinha - este, o Porto Artur. Até agora foram encontrados registros de 13 locomotivas a vapor, a maior parte de fabricação alemã, da Orenstein & Koppel, além de 3 Fowler inglesas e 1 Baldwin americana. A ferrovia, além de transportar cana, também tinha um serviço de passageiros, possivelmente entre Paulista e o porto para se conectar com os barcos para o Recife. Como tantas outras usinas de Pernambuco, não se ligava à Great Western. Muitos usineiros preferiam despachar o açúcar para o Recife de veleiro, com a conveniência de se fazer o transbordo direto para os porões dos navios, e não se sentiam compelidos a usar a GW, da qual consideravam os fretes muito caros. Além disso a maior parte das usinas de Pernambuco era de bitola sub-métrica (0,75m na sua maioria), o que incidiria em mais um transbordo. A usina fechou nos anos 1920 - um anuário comercial de Pernambuco de 1929 dá a usina como inativa há anos, fato confirmado pelos anuários do IAA de 1929 e 1930 (os únicos com dados sobre ferrovias de usina). O curioso é que a última locomotiva foi construída pela Orenstein & Koppel em dezembro de 1925. Há uma especulação que após o encerramento da usina a ferrovia tenha continuado a atender uma tecelagem, porém falta a confirmação (Nicholas Burmann, 2006). |
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Acima, o mapa da maior parte da ferrovia: do seu extremo leste (Porto Artur, com o nome cortado), passando pelo centro do município de Paulista (a sudeste do mapa, no canto direito), seguindo para o oeste e depois para noroeste, para o seu extremo (depois de passar uma vez pelo município de Paudalho e depois pelo município de Nazaré da Mata), no canto esquerdo superior do mapa) e daí seguir para dentro do município de Igarassu. Ao lado, o trecho da ferrovia (em escala diferente) dentro do município de Igarassu). Os inúmeros ramais e desvios existentes no mapa existiriam mesmo no traçado real ou seriam falhas do cartógrafo? (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume IV, IBGE, 1958). |