E. F. Central Paulista
(Municípios de Paulista, Igarassu, Nazaré da Mata e Paudalho, PE)

 

As ferrovias particulares brasileiras - aqui classificando-as como sendo ferrovias que não eram de uso público, sendo utilizadas apenas dentro de empresas, indústrias, usinas e outras - foram pouquíssimo estudadas e pesquisadas no Brasil. Uma ou outra têm mais informação: seu patrimônio se esvaiu há décadas, vendido como sucata em grande maioria, sem que sua memória tenha sido resgatada. Por isso, o que se vê é um estudo com dados mínimos e colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis (Ralph M. Giesbrecht).

Nome: Estrada de Ferro Central Paulista

Outros nomes: Estrada de Ferro Timbó-Jaguaribe

Bitola: métrica

Extensão: 30 km (1) (2)

Data de início das atividades: n/d (data de concessão: 1883)

Desativação: anos 1960 (provável)

Proprietários identificados: Engenhos do Timbó e Jaguaribe, em Paulista (1883)

ACIMA: Mapa ferroviário do Estado de Pernambuco, c. 1940. O ponto vermelho a leste indica a localização aproximada desta ferrovia (Acervo Ralph M. Giesbrecht).
ACIMA: mapa do município de Paulista com a ferrovia, que ainda avançava, ao norte, por Igaraçu e por mais dois municípios ((Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume IV, IBGE, 1958).

(1) segundo Nicholas Burmann, em 1931 (ver texto). Porém, os mapas (ver ao lado) mostram uma ferrovia, com ramais, muito maior do que isto.
(2) Quilometragem em 1914, segundo o livro História das Usinas de Açúcar de Pernambuco, Manuel Correia de Andrade, 1989

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É sempre interessante ressaltar que as ferrovias de usinas e engenhos centrais tiveram, pelo menos para Pernambuco, uma importância enorme desde o final do século XX até pelo menos meados do século XX. Para que se tenha uma idéia, segundo a Revista do Instituto Archeologico, Historico e Geographico Pernambucano, vol. XXIV, jan-dez 1922, no ano de 1922 as linhas da Great Western, que levavam para o interior do estado, para Maceió e para João Pessoa e Natal, totalizavam 890 km em território pernambucano, enquanto as ferrovias particulares das usinas atingiam 1.163 km, ou seja, 30% a mais. Era uma época em que Pernambuco era o maior produtor e exportado de açúcar do Brasil, possuindo mais de 2500 engenhos, sendo que 490 forneciam cana às usinas dos Engenhos Centrais.

A ferrovia, de acordo com mapa do IBGE dos anos 1950, passava em sua maior parte no município de Paulista. Também tinha um pequeno trecho onde entrava e saía no município de Paudalho, outro que entrava e saía no município de Nazaré da Mata (embora no mapa abaixo esse trecho apareça como estando em Igarassu - veja canto superior esquerdo) e mais o seu trecho final, agora sim, no município de Igarassu. Tinha diversos ramais e bitola métrica, se acreditarmos no mapa do IBGE. Passava pelo centro da cidade de Paulista. Não está claro se o traçado da ferrovia que aparece nos mapas do IBGE dos anos 1950 seria todo da mesma ferrovia, devido à grande quantidade de pequenos ramais. A ferrovia não se ligava a nenhuma ferrovia de uso público. A ferrovia mais próxima era a linha Recife-João Pessoa da Great Western, depois RFN (Rede Ferroviária do Nordeste). Segundo o que consta no site www.abreuelima.pe.gov.br, "a concessão para a E. F. Timbó-Jaguaribe teve sua escritura para construção lavrada em 28 de agosto de 1883, para o proprietário do Engenho do Timbó, Francisco Theófilo da Rocha Bezerra, e aos proprietários do Jaguaribe, Rosa Francelina de Queiroz Dourado Cavalcanti e José Cavalcante de Albuquerque Gadelha e sua esposa Francisca Bandeira de Fraga Gadelha, para que os trilhos pudessem adentrar as suas terras. Até meados dos anos 1960, era possível ver em alguns trechos urbanos o que restara da velha estrada de ferro que possivelmente, levava ao porto Jatobá e/ou Arthur". Realmente, no mapa do IBGE, aparece como extremo leste da ferrovia o nome de Porto Artur. Era um porto fluvial, não muito longe da foz do rio - sem nome descrito no mapa - no oceano. Em 1887 o engenho Timbó, já de propriedade do comendador José Adolpho de Oliveira Lima, transforma-se na moderna usina do mesmo nome, com maquinário importado da Inglaterra. Mas em 1906, passa a constituir possessão do sueco Herman Theodor Lundgren. O novo proprietário, interessado apenas na enormidade das suas terras (148 Km2 - maior que a área do atual município), desprezou a produção de açúcar. Ainda assim consta nos anais da indústria açucareira que em 1914, produzia 40.000t anuais de açúcar, além de 5 pipas de álcool, possuindo 30 Km de estrada de ferro. Em 1993 já não moía cana de açúcar nem produzia seus derivados.

Ou seja, o Engenho Central Paulista era também conhecido como Usina Timbó. Pertenceu ao Sr. Herman Lundgren e depois á Cia de Tecidos Paulista. Em 1918 chegou a ter 30 km de linhas em bitola de 0.66 m, além de um porto particular no Rio Maria Farinha - este, o Porto Artur. Até agora foram encontrados registros de 13 locomotivas a vapor, a maior parte de fabricação alemã, da Orenstein & Koppel, além de 3 Fowler inglesas e 1 Baldwin americana. A ferrovia, além de transportar cana, também tinha um serviço de passageiros, possivelmente entre Paulista e o porto para se conectar com os barcos para o Recife. Como tantas outras usinas de Pernambuco, não se ligava à Great Western. Muitos usineiros preferiam despachar o açúcar para o Recife de veleiro, com a conveniência de se fazer o transbordo direto para os porões dos navios, e não se sentiam compelidos a usar a GW, da qual consideravam os fretes muito caros. Além disso a maior parte das usinas de Pernambuco era de bitola sub-métrica (0,75m na sua maioria), o que incidiria em mais um transbordo. A usina fechou nos anos 1920 - um anuário comercial de Pernambuco de 1929 dá a usina como inativa há anos, fato confirmado pelos anuários do IAA de 1929 e 1930 (os únicos com dados sobre ferrovias de usina). O curioso é que a última locomotiva foi construída pela Orenstein & Koppel em dezembro de 1925. Há uma especulação que após o encerramento da usina a ferrovia tenha continuado a atender uma tecelagem, porém falta a confirmação (Nicholas Burmann, 2006).

Acima, o mapa da maior parte da ferrovia: do seu extremo leste (Porto Artur, com o nome cortado), passando pelo centro do município de Paulista (a sudeste do mapa, no canto direito), seguindo para o oeste e depois para noroeste, para o seu extremo (depois de passar uma vez pelo município de Paudalho e depois pelo município de Nazaré da Mata), no canto esquerdo superior do mapa) e daí seguir para dentro do município de Igarassu. Ao lado, o trecho da ferrovia (em escala diferente) dentro do município de Igarassu). Os inúmeros ramais e desvios existentes no mapa existiriam mesmo no traçado real ou seriam falhas do cartógrafo? (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume IV, IBGE, 1958).