A E. F. Dumont - chamada popularmente
de "ramal de Dumont" -, construída em 1890 pela Cia.
Mogiana de Estradas de Ferro para ser um ramal de bitola de 60 cm,
saía da estação de Ribeirão Preto e chegava
à Associação Agrícola Fazenda Dumont, de propriedade de Henrique
Santos Dumont (pai de Alberto Santos Dumont), a oeste de Ribeirão.
O tronco da ferrovia, também chamado de Ramal de Dumont, tinha
24 km. A Mogiana a vendeu, em 21 de novembro de 1890, para a Fazenda
Dumont, que passou a operá-la, inclusive com transporte público
de passageiros. Começou a operar em 4 de abril de 1891. Com
os ramais (não se sabe se os ramais foram construídos
pela Mogiana ou se posteriormente à venda da ferrovia), a quilometragem
total da ferrovia era de 62 km (Dados do Relatório da Cia.
Mogiana de 1890 e da revista Brazil Ferrocarril, em agosto de 1911).
A fazenda Dumont, de propriedade de Henrique Santos Dumont, era, entre
1870 e 1890, uma das maiores fazendas de café do mundo. Diz
a lenda que Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação,
desenvolveu seus conhecimentos de mecânica pilotando e examinando
as locomotivas da ferrovia da fazenda de seu pai. Em 1892, Henrique
sofreu um acidente (queda de cavalo), que o levou a, desanimado, vender
a fazenda aos ingleses, que fundaram a Dumont Coffee Company,
em 1896. Estes passaram a operar também a ferrovia.
A linha tronco da ferrovia tinha duas estações fora as estações
inicial e terminal e era de uso público, tendo seus horários
publicados nos guias da época em que ela estava ativa. Os ramais,
todos de uso industriais (basicamente, carregamento de café,
mas poderiam também ser usados para carregamento de outras
mercadorias) que saíam de sua linha eram descritos como sendo o do
km 16, o ramal da Fazenda Penteado, com 4 km. Do km 19, outro seguia
até a colônia Guerra, com 3 km. No km 23,700, saía um ramal até a
colônia Algodoal, com 10 km; do mesmo lugar, saía outro ramal, até
a colônia Moreira, com um sub-ramal para Olarias, com uma quilometragem
total de 13 km. Aqui notamos uma discrepância com o que a Revista
Ferroviária acusava em 1911 (62 km, tronco e três ramais).
O total era aqui de 54 km em 4 ramais mais o tronco.
Com as sucessivas crises do café, a maior delas em 1929, os
ingleses venderam e lotearam toda a fazenda, inclusive os trilhos
da ferrovia, em 1940. A ferrovia parou em 1940 - em dezembro de 1939,
os horários de seus trens ainda são reportados no Guia
Levi. Segundo se conta, a operação teria sido intermediada
pelo Governo do Estado e não teria sido muito lícita.
Além disso, segundo alguns, o acordo de venda previa que a
linha principal da ferrovia deveria continuar operando para o transporte
de passageiros desde Ribeirão Preto, fato que não aconteceu,
tendo sido os trilhos retirados logo em seguida (1940). Isto deixou
no desemprego vários funcionários da ferrovia, que passaram
a ter de trabalhar como lavradores para sobreviver. Em poucos anos
a fazenda loteada se transformou numa pequena cidade, que se emancipou
como município em 1953. Hoje restam a casa da fazenda e mais
algumas casas, espalhadas pela cidade, principalmente em sua parte
baixa. A estação de Dumont ficava junto com as casas
dos funcionários e do telégrafo, na fazenda Dumont.
Hoje este conjunto fica a cerca de um quarteirão da praça
central da cidade, e numa das casas funciona o cartório. A
plataforma de embarque e sua cobertura, que ficavam ao longo das casas,
já não mais existem. Sobraram também as memórias
de Ângelo Lorenzato, italiano de 93 anos (em 2001), morador
da cidade que era aparentemente o último funcionário
vivo da ferrovia, tendo sido um de seus maquinistas. Graças
a ele, grande parte da história da ferrovia Dumont pôde
ser levantada.
Por quase todo o seu leito passa hoje a rodovia Ribeirão Preto-Pradópolis.
Pelo menos três de suas locomotivas (eram 4) foram vendidas
à E. F. Perus-Pirapora, em 1943. Duas ainda existem, embora
sucateadas nos pátios de Cajamar, SP. São elas da Baldwin
americana, 2-6-0 e 2-6-0T, uma de 1891 e outra de 1901. A terceira
- uma Baldwin americana, 2-6-0, de 1895 - está exposta na praça
principal da cidade de Dumont e em condições precárias
de conservação e também trabalhou na EFPP. A
quarta locomotiva desapareceu há tempos e não se sabe
de seu paradeiro.
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ACIMA: À esquerda, locomotiva num dos ramais das fazendas em
Ribeirão Preto, em 1907 (Autor desconhecido). À direita,
um mapa da Brazil Railway de 1908 mostrando a E. F. Dumont (no círculo)
nessa época, com a linha-tronco e ramais como seriam então.
A E. F. Dumont nada tinha a ver com a Brazil Railway de Percival Farquhar,
mas apareceia no mapa (Acervo Ralph Mennucci Giesbrecht). ABAIXO:
Em Dumont, provavelmente anos 1920, trem de passageiros da E. F. Dumont
- possivelmente um trem especial, porque parece comprido demais para
um trem de linha tão curta. Aparecem também linhas da
Mogiana (verde), da Cia. Paulista (à esquerda) e da E. F. São
Paulo-Minas (partindo de Bento Quirino para nordeste) (Autor desconhecido).
ACIMA: Lcomotivas da Dumont em fotos tiradas na época de suas
compras. A da esquera era a "Barão de Inetinga".
A da direita possivelmente á a Balwin de 1891, pelo fato de
ter nela escrito ainda "ramal de Dumont", nome pelo qual
ela conhecida a linha quando ainda era da Mogiana, embora estivesse
ainda em construção (Fotos de catálogos da época).
ABAIXO: Outra das locomotivas da Dumont e, à direita, em foto
de 2004, a casa do século XIX que era dos Dumont e depois dos
ingleses: a casa-sede da fazenda Dumont, ainda hoje ali e ocupada
como moradia (Foto Ralph Mennucci Giesbrecht).
ACIMA: Vagões da E. F. de Dumont, possivelmente em alguma fazenda
(Autor desconhecido). ABAIXO: Locomotiva Baldwin da Dumont exposta
em 2004 na praça central da cidade. À direita, carro
de passageiros que pertenceu à ferrovia, e depois à
E. F. Perus-Pirapora, infelizmente apodrecendo em Cajamar, SP, em
2004 (Fotos Ralph M. Giesbrecht).
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