E. F. Dumont
(Municípios de Ribeirão Preto e de Dumont, SP)

 

As ferrovias industrais, ou particulares, do Brasil - aqui classificando-as como sendo ferrovias que não eram de uso público, sendo utilizadas apenas dentro de empresas, indústrias, usinas e outras - foram pouquíssimo estudadas e pesquisadas no Brasil. Uma ou outra têm mais informação: seu patrimônio se esvaiu há décadas, vendido como sucata em grande maioria, sem que sua memória tenha sido resgatada. Por isso, o que se vê é um estudo com dados mínimos e colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis (Ralph M. Giesbrecht).

Nome: E. F. Dumont

Bitola: 60 cm
(1)

Extensão:
62 km (2);
54 km
(3)

Data de início das atividades: 1891 (1)

Desativação: 1939/40
(1)


(1) Segundo diversas fontes
(2) Segundo a revista Brazil Ferrocarril de agosto de 1911
(3) Segundo fonte escrita não anotada por este autor

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A E. F. Dumont - chamada popularmente de "ramal de Dumont" -, construída em 1890 pela Cia. Mogiana de Estradas de Ferro para ser um ramal de bitola de 60 cm, saía da estação de Ribeirão Preto e chegava à Associação Agrícola Fazenda Dumont, de propriedade de Henrique Santos Dumont (pai de Alberto Santos Dumont), a oeste de Ribeirão. O tronco da ferrovia, também chamado de Ramal de Dumont, tinha 24 km. A Mogiana a vendeu, em 21 de novembro de 1890, para a Fazenda Dumont, que passou a operá-la, inclusive com transporte público de passageiros. Começou a operar em 4 de abril de 1891. Com os ramais (não se sabe se os ramais foram construídos pela Mogiana ou se posteriormente à venda da ferrovia), a quilometragem total da ferrovia era de 62 km (Dados do Relatório da Cia. Mogiana de 1890 e da revista Brazil Ferrocarril, em agosto de 1911).

A fazenda Dumont, de propriedade de Henrique Santos Dumont, era, entre 1870 e 1890, uma das maiores fazendas de café do mundo. Diz a lenda que Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação, desenvolveu seus conhecimentos de mecânica pilotando e examinando as locomotivas da ferrovia da fazenda de seu pai. Em 1892, Henrique sofreu um acidente (queda de cavalo), que o levou a, desanimado, vender a fazenda aos ingleses, que fundaram a Dumont Coffee Company, em 1896. Estes passaram a operar também a ferrovia.

A linha tronco da ferrovia tinha duas estações fora as estações inicial e terminal e era de uso público, tendo seus horários publicados nos guias da época em que ela estava ativa. Os ramais, todos de uso industriais (basicamente, carregamento de café, mas poderiam também ser usados para carregamento de outras mercadorias) que saíam de sua linha eram descritos como sendo o do km 16, o ramal da Fazenda Penteado, com 4 km. Do km 19, outro seguia até a colônia Guerra, com 3 km. No km 23,700, saía um ramal até a colônia Algodoal, com 10 km; do mesmo lugar, saía outro ramal, até a colônia Moreira, com um sub-ramal para Olarias, com uma quilometragem total de 13 km. Aqui notamos uma discrepância com o que a Revista Ferroviária acusava em 1911 (62 km, tronco e três ramais). O total era aqui de 54 km em 4 ramais mais o tronco.

Com as sucessivas crises do café, a maior delas em 1929, os ingleses venderam e lotearam toda a fazenda, inclusive os trilhos da ferrovia, em 1940. A ferrovia parou em 1940 - em dezembro de 1939, os horários de seus trens ainda são reportados no Guia Levi. Segundo se conta, a operação teria sido intermediada pelo Governo do Estado e não teria sido muito lícita. Além disso, segundo alguns, o acordo de venda previa que a linha principal da ferrovia deveria continuar operando para o transporte de passageiros desde Ribeirão Preto, fato que não aconteceu, tendo sido os trilhos retirados logo em seguida (1940). Isto deixou no desemprego vários funcionários da ferrovia, que passaram a ter de trabalhar como lavradores para sobreviver. Em poucos anos a fazenda loteada se transformou numa pequena cidade, que se emancipou como município em 1953. Hoje restam a casa da fazenda e mais algumas casas, espalhadas pela cidade, principalmente em sua parte baixa. A estação de Dumont ficava junto com as casas dos funcionários e do telégrafo, na fazenda Dumont. Hoje este conjunto fica a cerca de um quarteirão da praça central da cidade, e numa das casas funciona o cartório. A plataforma de embarque e sua cobertura, que ficavam ao longo das casas, já não mais existem. Sobraram também as memórias de Ângelo Lorenzato, italiano de 93 anos (em 2001), morador da cidade que era aparentemente o último funcionário vivo da ferrovia, tendo sido um de seus maquinistas. Graças a ele, grande parte da história da ferrovia Dumont pôde ser levantada.

Por quase todo o seu leito passa hoje a rodovia Ribeirão Preto-Pradópolis. Pelo menos três de suas locomotivas (eram 4) foram vendidas à E. F. Perus-Pirapora, em 1943. Duas ainda existem, embora sucateadas nos pátios de Cajamar, SP. São elas da Baldwin americana, 2-6-0 e 2-6-0T, uma de 1891 e outra de 1901. A terceira - uma Baldwin americana, 2-6-0, de 1895 - está exposta na praça principal da cidade de Dumont e em condições precárias de conservação e também trabalhou na EFPP. A quarta locomotiva desapareceu há tempos e não se sabe de seu paradeiro.


ACIMA: À esquerda, locomotiva num dos ramais das fazendas em Ribeirão Preto, em 1907 (Autor desconhecido). À direita, um mapa da Brazil Railway de 1908 mostrando a E. F. Dumont (no círculo) nessa época, com a linha-tronco e ramais como seriam então. A E. F. Dumont nada tinha a ver com a Brazil Railway de Percival Farquhar, mas apareceia no mapa (Acervo Ralph Mennucci Giesbrecht). ABAIXO: Em Dumont, provavelmente anos 1920, trem de passageiros da E. F. Dumont - possivelmente um trem especial, porque parece comprido demais para um trem de linha tão curta. Aparecem também linhas da Mogiana (verde), da Cia. Paulista (à esquerda) e da E. F. São Paulo-Minas (partindo de Bento Quirino para nordeste) (Autor desconhecido).


ACIMA: Lcomotivas da Dumont em fotos tiradas na época de suas compras. A da esquera era a "Barão de Inetinga". A da direita possivelmente á a Balwin de 1891, pelo fato de ter nela escrito ainda "ramal de Dumont", nome pelo qual ela conhecida a linha quando ainda era da Mogiana, embora estivesse ainda em construção (Fotos de catálogos da época). ABAIXO: Outra das locomotivas da Dumont e, à direita, em foto de 2004, a casa do século XIX que era dos Dumont e depois dos ingleses: a casa-sede da fazenda Dumont, ainda hoje ali e ocupada como moradia (Foto Ralph Mennucci Giesbrecht).


ACIMA: Vagões da E. F. de Dumont, possivelmente em alguma fazenda (Autor desconhecido). ABAIXO: Locomotiva Baldwin da Dumont exposta em 2004 na praça central da cidade. À direita, carro de passageiros que pertenceu à ferrovia, e depois à E. F. Perus-Pirapora, infelizmente apodrecendo em Cajamar, SP, em 2004 (Fotos Ralph M. Giesbrecht).