As
ferrovias industrais, ou particulares, do Brasil - aqui classificando-as
como sendo ferrovias que não eram de uso público,
sendo utilizadas apenas dentro de empresas, indústrias, usinas
e outras - foram pouquíssimo estudadas e pesquisadas no Brasil.
Uma ou outra têm mais informação: seu patrimônio
se esvaiu há décadas, vendido como sucata em grande
maioria, sem que sua memória tenha sido resgatada. Por isso,
o que se vê é um estudo com dados mínimos e
colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis (Ralph
M. Giesbrecht).
Nome: E. F. do Engenho Central de Piracicaba
Bitola: métrica (1 m) (1)
Extensão: 19 km (1)
Data de início das atividades: n/d
Desativação: n/d
(1) no ano de 1903, segundo a obra Usinas
Açucareiras de Piracicaba, Villa Rafard, Porto Feliz, Lorena
e Cupim, Missão de Inspecção do Senhor J. Picard,
Engenheiro, de 1 de março a 15 de julho de 1903, Editora
Hucitec, Editora Unicamp, São Paulo, 1996,
p. 61
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O Engenho Central de Piracicaba foi
constituído por Estevão Ribeiro de Souza Rezende, o
Barão de Rezende, em 19 de janeiro de 1881, com o capital de
Rs. 400:000$000, com equipamentos importados da França. Em
novembro desse mesmo ano os materiais já estavam em Piracicaba
para serem montados pelo Dr. André Patureaux (p. 83). Em julho
de 1882, já estava decidida a construção de uma
estrada de ferro que margearia o rio Piracicaba, partindo da cidade
no sentido do Canal Torto, ponto terminal dos vapores da Companhia
Fluvial durante a estação seca, numa iniciativa do Engenho
Central e da Cia. de Navegação Fluvial Paulista (p.
90). Em 10 de março de 1883, a lei Provincial 12 concedia à
Cia. Engenho Central de Piracicaba privilégio para estabelecer
uma linha de bondes. Os bondes jamais foram implantados nessa linha,
mas é possível que dessa lei tenha resultado as linhas
internas do Engenho (p. 95). Em junho de 1886, o Engenho transferiu
parte desse privilégio para a Companhia Ytuana, exatamente
o que tratava do tráfego de bondes - parece que a Ytuana precisava
disso para cruzar a cidade com seus trilhos para seguir da estação
de Piracicaba para a cidade de São Pedro (p. 124).
Em março de 1888, o Engenho passa a ter um único dono:
o próprio Barão de Rezende (p. 147). Em 22 de junho
de 1891, o Barão vende o Engenho à Cia. Niagara Paulista
(p. 198). A 29 de abril de 1899, a Societé de la Sucrerie de
Piracicaba, fundada em 2 de abril do mesmo ano, compra o Engenho Central
(p. 285).
Os trilhos da ferrovia do Engenho Central passavam pela mesma ponte
por onde passavam os trilhos da Cia. Sorocabana e Ytuana em 1899.
Os trens tinham de anunciar sua passagem pela ponte com 5 minutos
de antecedência (p. 290/293). Em agosto de 1899 a Sucrerie compra
a Fazenda Santa Rosa (p. 290).
Segundo Leandro Guerrini, em 1970, as linhas férreas ainda
estavam em atividade (p.95). (Fonte dos parágrafos acima: História
de Piracicaba em Quadrinhos, Leandro Guerrini, IHGP/IOMP, Piracicaba,
1970)
Em 1903, as fazendas que compunham o Engenho Central eram: Santa Lydia
e São Luiz, Cayapia, Santa Rosa, Santa Cruz e Engenho. Além
dessas, o Engenho Central arrendava para plantio as terras das fazendas
Lenheiro, Algodoal, Terras do Barão, Enxofre e Kannebley. No
mesmo ano, falava-se em prolongar em 4 ou 5 quilômetros a estrada
de ferro na fazenda Santa Rosa (nota: não sei se isto efetivamente
ocorreu). As máquinas e vagões do Engenho Central podiam
também trafegar pelas linhas da Cia. União Sorocabana
e Ytuana, de acordo com contrato na época. Algumas fazendas
do Engenho, como a de Cayapia e a de Santa Lydia estavam tão
distantes do Engenho que transportavam canas somente pela CUSY pois
as ferrovias próprias não chegavam até lá.
"A usina dispõe (em 1903) de uma estrada de ferro de 19
km de comprimento, com bitola de 1 m, de 4 locomotivas (sendo que
uma delas, de 10 t está emprestada À Villa Rafard, e
as demais, de 15, 18 e 20 t) e de 75 vagões. Estes últimos
são de diversos modelos, podendo carregar de 3 a 10 t. (...)
Em decorrência de um antigo acordo, da cessão à
CUSY de uma linha pertencente à Usina, a de Santa Lydia, a
Sociedade açucareira de Piracicaba adquiriu o direito de trafegar,
com seu próprio equipamento, em toda a linha ao norte do rio
Piracicaba. (...) Infelizmente, a CUSY é mal administrada e
as dificuldades de tráfego para nós são numerosas"
(Usinas Açucareiras de Piracicaba, Villa Rafard, Porto Feliz,
Lorena e Cupim, Missão de Inspecção do Senhor
J. Picard, Engenheiro, de 1 de março a 15 de julho de 1903,
Editora Hucitec, Editora Unicamp, São Paulo, 1996, p. 61).
Existe ainda pelo menos uma locomotiva que trafegou pelo Engenho,
e não é nenhuma das citadas acima por Picard, em 1903.
Esta máquina a vapor, uma Baldwin de 1913 1-6-2ST, ainda é
operacional e está na ABPF de Campinas, na estação
ferroviária de Carlos Gomes, com o número 5, tendo rodado
também na Usina Villa Rafard (também da Sucrerie)
e nas Indústrias Villares, de acordo com o
livro Inventário das Locomotivas a Vapor do Brasil, Memória
Ferroviária, de Regina Perez (Notícia & Cia.,
2006).
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