E. F. Junqueira
(Município de Igarapava, SP)

 

As ferrovias industrais, ou particulares, do Brasil - aqui classificando-as como sendo ferrovias que não eram de uso público, sendo utilizadas apenas dentro de empresas, indústrias, usinas e outras - foram pouquíssimo estudadas e pesquisadas no Brasil. Uma ou outra têm mais informação: seu patrimônio se esvaiu há décadas, vendido como sucata em grande maioria, sem que sua memória tenha sido resgatada. Por isso, o que se vê é um estudo com dados mínimos e colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis (Ralph M. Giesbrecht).

Nome: E. F. Junqueira
(1)

Bitola: métrica

Extensão: 3,858 m (1)


Data de início das atividades: entre 1913 e 1914 (1)

Desativação: n/d

(1) segundo relatório da Cia. Mogiana referentes a 1913 e 1914. Pelo que se sabe, mais tarde foram construídos mais linhas.

(2) segundo se pode deduzir do Relatório da Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo, 1929.

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Segundo o Relatório da Cia. Mogiana de 1913, nesse ano foram construídos no Ramal de Junqueira 5 pontilhões e mais algumas obras de arte. "Assentados trilhos de 19,5 kg por metro em 3,858 m de linha principal e 212 m de desvios, em cumprimento ao disposto em escritura de 4/12/1911". No relatório de 1914, consta que "do km 168,260 da linha de Santa Rita do Paraíso parte linha na extensão de 3,858 m. A Cia. Mogiana não tem interesse em trafegar num ramal tão curto".

O que se pode interpretar do que consta nesses relatórios é que a Mogiana construiu a ferrovia, chamando-o de "E. F. do Junqueira" ou de "ramal de Junqueira", mas não queria explorá-lo: provavelmente a escritura citada já determinava que ele estaria em terras da Usina Junqueira. Além do mais, a quilometragem citada em 1914 é praticamente a mesma da estação de União, aberta em 1922: a linha, pois, passaria a sair desta estação, com uma diferença de exatos 24 m apenas em relação ao eixo da estação. A linha de Santa Rita de Paraíso estava sendo estendida nessa época desde onde estava a estação de Santa Rita do Paraíso (Igarapava) até Uberaba, e foi entregue em 1915, depois que a ponte sobre o rio Grande, muito próxima à usina, ficou pronta com o nome agora de Ramal de Igarapava.

Em 1929, o Relatório da Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo desse ano mostra que as linhas da Usina Junqueira já haviam sido estendidas: já da estação de União saíam dois ramais particulares, pertencentes ao Cel. Francisco Maximiniano Junqueira, aliás o nome verdadeiro do Coronel Quito, que seguiam daí até a usina e os canaviais do proprietário, que utilizava seis locomotivas e material rodante próprios, e que também circulavam na linha da Mogiana, desde a estação de Canindé, transportando lenha.

A estação de União teria sido construída para servir de ponto de saída dos ramais e de manobra de trens para essas usinas, além de operar o trânsito de veículos e de trens na ponte - embora o ramal, ou parte dele, já existisse desde 1913/14. Em 01/09/1939, o nome da estação foi alterado para Coronel Quito, que era um dos inúmeros membros da imensa família Junqueira, dona de incontáveis alqueires em toda a região norte do Estado.

Da estação do Canindé (34 km antes da estação de União, para quem vem de Ribeirão Preto), em 1929, segundo o Relatório da Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo desse ano, partia também um trem de carga particular, pertencente ao Cel. Francisco Maximiniano Junqueira, percorrendo cerca de 50 km. Os trens percorriam 34 km pela linha da Mogiana no ramal de Igarapava. Em União, entravam pelas duas linhas da Usina Junqueira, que, se fizermos a diferença entre os 50 km que cita o relatório e os 34 km na linha da Mogiana, deveriam então terem juntos cerca de 16 km. A usina possuía seis locomotivas e material rodante próprios, que trafegavam pela a usina e canaviais do proprietário, além do trecho na Mogiana. Em Canindé a usina possuía até um depósito de locomotivas próprio, construído em 1924, devido a esse ramal, segundo o relatório da Mogiana de 1924. "Canindé foi um local próspero, pois na época das locos a vapor era um depósito de lenha além de ponto de troca de locomotivas e o número de funcionários era grande. O local tinha cinema, restaurante e outras coisas. Com a entrada em circulação das locomotivas a diesel o tráfego passou a ser direto, daí foi decaindo, hoje o Bairro de Brejão, distante 6 km e ás margens da Anhanguera tem recebido certas melhorias, asfalto... com isto o Canindé estagnou e vai decrescendo. A região toda era só cerrado (Japuê, Canindé, Inderê) que hoje se transformou em canavial da Usina Junqueira cuja moagem é feita em Coronel Quito. O cerrado já pertencia à família Junqueira" (Abimael Simões, 11/2005). Já a estação de Coronel Quito, antiga União, foi demolida já nos anos 1980. O ramal de Igarapava deixou de existir em 1979, quando foi aberta a variante Entroncamento-Amoroso Costa, bastante a oeste do antigo ramal. A essa altura, parece que as linhas da Usina Junqueira já não operavam mais. De qualquer forma, se estivessem operando, ficariam isoladas...

ACIMA: Fotos sem data de trens circulando nos ramais da Usina Junqueira, provavelmente nos anos 1950/60. ABAIXO: Casas da semi-abandonada vila de casas na colônia da Usina em 2016 (Fotos Paulo Duarte/Folha de S. Paulo)