E. F. Mate Larangeira
(Município de Porto Murtinho, MS)

 

As ferrovias industrais, ou particulares, do Brasil - aqui classificando-as como sendo ferrovias que não eram de uso público, sendo utilizadas apenas dentro de empresas, indústrias, usinas e outras - foram pouquíssimo estudadas e pesquisadas no Brasil. Uma ou outra têm mais informação: seu patrimônio se esvaiu há décadas, vendido como sucata em grande maioria, sem que sua memória tenha sido resgatada. Por isso, o que se vê é um estudo com dados mínimos e colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis (Ralph M. Giesbrecht).

Nome: E. F. Mate Larangeira

Bitola: 0,75
(1)

Extensão:
22 km (1);
25 km
(2)

Data de início das atividades: entre 1892 e 1913 (1)

Desativação: n/d



ACIMA: Mapa do município de Porto Murtinho em 1956. ABAIXO: detalhe do mesmo mapa, mostrando a sede do município, à beira do rio Paraguai, e a localidade de São Roque. A ferrovia não é mostrada, mas ainda existia (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, IBGE, volume II, 1957).


(1) segundo o História de Mato Grosso do Sul, Hildebrando Campestrini e Acyr Vaz Guimarães, Campo Grande, MS, 1991
(2) segundo o Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso, 1914

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A Companhia Mate Larangeira (com "g", mesmo) foi fundada em 25 de julho de 1883 (depois de obter uma concessão governamental em 1882) por Thomas Larangeira, que trouxe do Rio Grande do Sul trabalhadores experientes no preparo da erva-mate, planta abundante na região de Porto Murtinho, sul do Mato Grosso. Seus sócios eram Joaquim Murtinho e seu irmão, políticos e economistas. No início, a produção saía em carretas puxadas a bois, entrando pelo Paraguai até a cidade de Concepcion, onde eram embarcadas para Buenos Aires. A partir de 1892, a erva passa a ser embarcada num porto construído pela empresa, Porto Murtinho, origem da atual cidade sul-matogrossense. A erva produzida descia ainda por carretas de bois por 360 km até atingir a localidade de São Roque. Tanto Porto Murtinho quanto São Roque foram construídas em terras da Fazenda Três Barras, compradas pela empresa com essa finalidade. Dali seguiam por terra até Porto Murtinho e eram embarcadas para seguir pelo rio Paraguai abaixo. As oficinas da empresa em Ponta Porã passaram a produzir chatas para a navegação em 1910, e também produzia as carretas. De São Roque para Porto Murtinho o caminho era feito por uma ferrovia de 22 km e bitola de 75 cm. Aliás, mesmo a extensão da ferrovia é dúbia: enquanto Campestrini e Guimarães falam em 22 km, o Álbum Gráfico de 1914 fala em 22 e em 25 km, em pontos diferentes do livro. Não obtive notícia de quando teria começado a operar esta ferrovia: pode ter sido logo depois da instalação de Porto Murtinho (1892) ou depois. Em 1913, já estava operando. No entanto, Porto Murtinho já não era mais porto exportador de mate: este já estava sendo embarcado pelos rios Iguatemi, Amambaí e Ivinhema, que eram direta ou indiretamente afluentes do rio Paraná. O rio Amambaí desaguava no Paraná em frente à cidade de Guaíra, nas proximidades das Sete Quedas. Ali a Mate Larangeira construiu uma outra ferrovia que passou a operar em 1917. Com a exportação de mate pelo rio Paraná, a ferrovia São Roque-Porto Murtinho passou a transportar outros materiais também produzidos pela empresa e até produtos de armazéns localizados em São Roque, como couro. Até 1958 a ferrovia continuava operando: nesse ano, um dos produtos transportados eram as toras de madeira que vinham dos quebrachais da empresa até a usina da Floresta Brasileira S. A., em Porto Murtinho, para a produção de tanino. No final de 1956, essa empresa comprou 2 locomotivas diesel para dar mais rapidez aos transportes. Não sei, realmente, até quando a ferrovia seguiu operando. Há indicações (vagas) de que, em 1971, os trens ainda estariam em operação.

Uma das locomotivas ainda está em Porto Murtinho em praça pública: uma Orenstein-Koppel 0-6-0-WT+T, alemã, de 1905.

(Fontes:
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume II, IBGE, 1957; História de Mato Grosso do Sul, Hildebrando Campestrini e Acyr Vaz Guimarães, Campo Grande, MS, 1991; Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso, 1914)


ACIMA: trem de Porto Murtinho parte para São Roque, em 1913
. ABAIXO: À esquerda, depósito da Mate Larangeira, em 1913, em Porto Murtinho; à direita, a estação de Porto Murtinho (Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso, 1914).


ACIMA: Embarque de madeira pela ferrovia em São Roque, em 1913. ABAIXO: À esquerda, embarque de madeira no rio Paraguai, em Porto Murtinho, em 1913 (Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso, 1914). À direita, a locomotiva puxa todas e madeira em Porto Murtinho, c. 1956 (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, IBGE, volume II, 1957).