E. F. Mate Larangeira (Município de Porto Murtinho, MS) |
As
ferrovias industrais, ou particulares, do Brasil - aqui classificando-as
como sendo ferrovias que não eram de uso público,
sendo utilizadas apenas dentro de empresas, indústrias, usinas
e outras - foram pouquíssimo estudadas e pesquisadas no Brasil.
Uma ou outra têm mais informação: seu patrimônio
se esvaiu há décadas, vendido como sucata em grande
maioria, sem que sua memória tenha sido resgatada. Por isso,
o que se vê é um estudo com dados mínimos e
colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis (Ralph
M. Giesbrecht). |
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A
Companhia Mate Larangeira (com "g", mesmo) foi fundada em
25 de julho de 1883 (depois de obter uma concessão governamental
em 1882) por Thomas Larangeira, que trouxe do Rio Grande do Sul trabalhadores
experientes no preparo da erva-mate, planta abundante na região
de Porto Murtinho, sul do Mato Grosso. Seus sócios eram Joaquim
Murtinho e seu irmão, políticos e economistas. No início,
a produção saía em carretas puxadas a bois, entrando
pelo Paraguai até a cidade de Concepcion, onde eram embarcadas
para Buenos Aires. A partir de 1892, a erva passa a ser embarcada num
porto construído pela empresa, Porto Murtinho, origem da atual
cidade sul-matogrossense. A erva produzida descia ainda por carretas
de bois por 360 km até atingir a localidade de São Roque.
Tanto Porto Murtinho quanto São Roque foram construídas
em terras da Fazenda Três Barras, compradas pela empresa com essa
finalidade. Dali seguiam por terra até Porto Murtinho e eram
embarcadas para seguir pelo rio Paraguai abaixo. As oficinas da empresa
em Ponta Porã passaram a produzir chatas para a navegação
em 1910, e também produzia as carretas. De São Roque para
Porto Murtinho o caminho era feito por uma ferrovia de 22 km e bitola
de 75 cm. Aliás, mesmo a extensão da ferrovia é
dúbia: enquanto Campestrini e Guimarães falam em 22 km,
o Álbum Gráfico de 1914 fala em 22 e em 25 km, em pontos
diferentes do livro. Não obtive notícia de quando teria
começado a operar esta ferrovia: pode ter sido logo depois da
instalação de Porto Murtinho (1892) ou depois. Em 1913,
já estava operando. No entanto, Porto Murtinho já não
era mais porto exportador de mate: este já estava sendo embarcado
pelos rios Iguatemi, Amambaí e Ivinhema, que eram direta ou indiretamente
afluentes do rio Paraná. O rio Amambaí desaguava no Paraná
em frente à cidade de Guaíra, nas proximidades das Sete
Quedas. Ali a Mate Larangeira construiu uma outra ferrovia que passou
a operar em 1917. Com a exportação de mate pelo rio Paraná,
a ferrovia São Roque-Porto Murtinho passou a transportar outros
materiais também produzidos pela empresa e até produtos
de armazéns localizados em São Roque, como couro. Até
1958 a ferrovia continuava operando: nesse ano, um dos produtos transportados
eram as toras de madeira que vinham dos quebrachais da empresa até
a usina da Floresta Brasileira S. A., em Porto Murtinho, para a produção
de tanino. No final de 1956, essa empresa comprou 2 locomotivas diesel
para dar mais rapidez aos transportes. Não sei, realmente, até
quando a ferrovia seguiu operando. Há indicações
(vagas) de que, em 1971, os trens ainda estariam em operação. Uma das locomotivas ainda está em Porto Murtinho em praça pública: uma Orenstein-Koppel 0-6-0-WT+T, alemã, de 1905. (Fontes: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume II, IBGE, 1957; História de Mato Grosso do Sul, Hildebrando Campestrini e Acyr Vaz Guimarães, Campo Grande, MS, 1991; Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso, 1914) |
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