E. F. Usina Tamoio
(Municípios de Ibaté, Araraquara e Ribeirão Bonito, SP)

 

As ferrovias industrais, ou particulares, do Brasil - aqui classificando-as como sendo ferrovias que não eram de uso público, sendo utilizadas apenas dentro de empresas, indústrias, usinas e outras - foram pouquíssimo estudadas e pesquisadas no Brasil. Uma ou outra têm mais informação: seu patrimônio se esvaiu há décadas, vendido como sucata em grande maioria, sem que sua memória tenha sido resgatada. Por isso, o que se vê é um estudo com dados mínimos e colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis (Ralph M. Giesbrecht).

Nome: E. F. Usina Tamoio

Bitola: métrica (1 m)
(1)

Extensão:
30 km (1)

Data de início das atividades: anterior a 1929 (1)

Desativação: anos 1960


Na locomotiva hoje exposta na praça em Guarulhos, SP, bem longe da Usina Tamoio, o símbolo da usina: um UT estilizado (foto Ralph M. Giesbrecht, em outubro de 2005).

Mapa do município de Araraquara em 1958, mostrando a ferrovia da Usina Tamoio, no extremo sul (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume XI, IBGE, 1960).

(1) segundo o Relatório no. 3 da Secretaria de Estado dos Negócios da Viação e Obras Públicas do Estado de S. Paulo, 1929

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Em 1909, foi aberto na linha da Paulista, logo após a estação de Ibaté, um posto telegráfico de nome Tamoio. Em 1922, com o aumento de bitola da linha de métrica para larga (1,60 m), um novo prédio foi construído para a nova linha, com o mesmo nome e status de estação. Uma vila ferroviária se desenvolveu junto à estação, com armazéns, lojas, correio e escola. Sabe-se que em 1929 de lá já partia a ferrovia, pertencente à Usina Refinadora Paulista (Usina Tamoio), com 30 km e bitola métrica e que ia até a fazenda e usina Tamoio, transportando açúcar e derivados. Nessa época, a fazenda já pertencia à família Morganti, que também eram donos da usina Monte Alegre, em Piracicaba, SP, e, nos anos 1950, da fazenda Guatapará, comprada à família Prado. A fazenda Tamoio tinha várias seções, como a Santa Elza, esta junto à estação de Tamoio; a Central, a uns 8 km afastada da rodovia, onde ficava a casa-sede (já demolida), o campo de futebol, o clube e a igreja; a Bela Vista, mais longe, invadida por sem-terras; e a Andes.

A ferrovia particular da fazenda, de bitola métrica, não transportava passageiros nem funcionários (que utilizavam as jardineiras para transporte interno), mas apenas cargas e tinha pelo menos duas linhas, uma, a linha da Bela Vista e outra, a linha da estação, que seguia para o armazém à beira da estação da Cia. Paulista. Bruno Valala trabalhou como maquinista da locomotiva nro. 9; Sebastião Correia, da número 14. Hoje, a usina Tamoio ainda existe e funciona, mas os Morganti a venderam em 1964 para a família Silva Gordo, que depois a venderam para a Corona. Segundo visitantes recentes da usina, dos prédios antigos quase nada existe mais. Na vila ferroviária, distante da usina, o que sobrou está em total abandono. Apenas a linha da antiga CP, hoje sob concessão da ALL, continua lá, a ferrovia particular não existe mais há pelo menos trinta anos e os trilhos foram arrancados junto com os desvios da estação. A vila ferroviária pode ser vista da rodovia Washington Luiz, ficando num ponto em que o leito da linha passa bem junto à estrada (cerca de 300 metros), acompanhando-a pelo seu lado oeste.

* A Usina Tamoio fica no município de Araraquara, enquanto a vila ferroviária da Cia. Paulista ficava em Ibaté, próxima à divisa. É ainda uma das grandes usinas do Estado, mas, como todas as fazendas, é totalmente mecanizada e o número de trabalhadores é reduzidíssimo, não havendo motivos para se manter todos os prédios; como conseqüência, eles são geralmente demolidos ou abandonados. Fontes: Rodrigo Cabredo, São Paulo, SP; Claudete, de Araraquara, que nasceu e viveu na Tamoio até 1979, quando o proprietários ainda eram os Silva Gordo; e arquivos do próprio autor.


ACIMA: mapa mostrando a ferrovia da Usina Tamoio por volta de 1958. Ela tinha o seu início na estação de Tamoio, no município de Ibaté, e continuava, embora o mapa não mostre, até dentro do município vizinho de Ribeirão Bonito
(Mapa da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume XI, IBGE, 1960). ABAIXO: Diversas fotos da Usina Tamoio, provavelmente anos 1950 (Fotos supostamente tiradas por Jean Manzon, exceto onde assinaladas).

ACIMA: locomotiva a vapor número 12, uma Beyer-Peacock 4-6-0 que pertenceu à Mogiana, passa pelo canavial na usina. ABAIXO: a mesma locomotiva12.


ACIMA: em duas fotos, a locomotiva a vapor número 12, Beyer-Peacock 4-6-0. ABAIXO: Locomotiva da Comapnhai Dourado em 1920, bitola 60 cm. Esta máquina foi posteriormente vendida para a Usina Tamoio, onde trafegou (Acervo Ernesto Fernandes Cambraia - in memoriam).



ACIMA: ao alto, fotografia aérea da usina (é possível até se ver um canto das asas do aeroplano, no canto esquerdo superior). Fotos à esquerda e à direita: ainda a usina, em duas tomadas de vistas aéreas. Notar os pátios ferroviários gigantescos. Nada disso existe mais - falando da parte ferroviária. ABAIXO: Vagões de cana na ferrovia da usina.


ACIMA: operários colocando cana nos vagões. À direita, operárias andam no "vagão de passageiros" - ou seja, em cima de vagões improvisados. ABAIXO: mais uma cena da usina, vendo-se, à direita diversos vagões no pátio. À direita, em foto de outubro de 2005, uma locomotiva que trabalhou na usina e também depois na Usina Monte Alegre - que era do mesmo proprietário, os Morganti - posando numa praça em Guarulhos, depois de ter sido "salva" de um sucateiro anos atrás. Trata-se de uma locomotiva fabricada na usina Monte Alegre, configuração 2-6-4ST de bitola métrica (Foto Ralph M. Giesbrecht).