Campo Alegre
(Brotas, SP)

 

Campo Alegre


Campo Alegre em 1937. Foto cedida por Wilson de Santis Jr.

Em 1878, Francisco de Assis Vieira Bueno, com 62 anos de idade, paulista da Capital e ex-presidente do Banco do Brasil, entre outros cargos em empresas públicas e privadas, fixou-se com seus dois filhos numa propriedade rural por eles fundada e denominada Mundo Novo, no município de Brotas, SP. O primeiro filho, engenheiro, faleceu pouco tempo depois, mas o outro, Manoel de Assis Vieira Bueno, médico formado no Rio de Janeiro, acabaria por iniciar sua vida política naquela região. Como relatou César Bueno Bierrenbach, "Do Mundo Novo e de Brotas o clínico partia em longas galopadas a attender, nas villas e bairros, á pobreza circumjacente e é encanto recorda-o, garboso e correcto, a entrar todo elegante, por tugurios, fazendo a sua clínica de piedade e de esmolas, sem remuneração alguma (...) Brotas, Campo Alegre e outras localidades foram scenario de sua acção".
Em 1885, a Cia. Rio-Clarense de Estradas de Ferro inaugurou a linha de Visconde do Rio Claro a Brotas, abrindo uma estação, a que chamou de Campo Alegre, em terras da fazenda Mundo Novo, no local onde mais tarde se formou um núcleo de imigrantes. Manoel acabou mudando-se em 1888 para Campinas, onde foi Prefeito por duas oportunidades. Seu pai, já com 72 anos, continuou na fazenda, onde, com a abolição da escravatura, trouxe imigrantes italianos para lá trabalhar. Com eles fez uma relação muito estreita de amizade, mas, já com idade avançada, vendeu a fazenda em 1891, quando, em sua despedida na estação, foi homenageado pelos colonos.
Da estação, Francisco pôde ver pela última vez a capela erigida pelos colonos em sua homenagem, evocando São Francisco de Assis. Ela fora construída com 30 mil tijolos, confeccionados na própria fazenda, e doados por Francisco, que também mais tarde doou uma imagem do Orago e o nicho para a mesma. Originalmente, a capela não tinha a torre que foi posteriormente anexada na sua parte frontal.
Campo Alegre fica a poucos metros da estrada que liga Itirapina a Brotas e Jaú, à direita de quem segue para essas cidades, mas não pode ser vista do asfalto. Ainda há uma placa indicando o acesso, nunca asfaltado, para a vila. Enquanto foi uma estação da Companhia Paulista, ela foi uma vila pequena, mas viva, enquanto a ferrovia tinha movimento. Tinha até agência dos Correios, residências, comércio, e até um sobradão bem em frente à estação onde os trens passavam mais de uma vez por dia, com passageiros descendo e subindo. Sempre foi, porém, um lugar muito simples, pobre. Com o esvaziamento gradual do local, veio o fechamento da estação, nos anos 80, o que fez com que se acentuasse a decadência do lugar. Hoje ele praticamente desapareceu: casas foram derrubadas e o velho prédio da estação com mais de 115 anos está completamente abandonado e depredado: até as tábuas do piso foram levadas. A capela também foi esquecida, estando no mesmo estado de abandono, isolada no meio de um enorme descampado, à frente da estação (sentido Brotas). Os pouquíssimos habitantes que ainda teimam em ali permanecer o fazem apenas por não ter lugar para ir: a pobreza é impressionante, com pessoas vivendo em casas caindo aos pedaços. De vez em quando, um trem cargueiro passa mansamente por ali, apreciando os inúmeros vagões abandonados há anos nos desvios do outrora movimentado pátio da estação. Hoje, sim, Campo Alegre é o "campo triste", nome que antigos moradores teimavam em chamar o local, insatisfeitos com a movimentação da época. Eles, realmente, não viveram para ver o que aquilo se tornou.
Mas mesmo hoje, há gente que vê a vila-fantasma como um paraíso. O desabamento parcial da igreja, o roubo de seu sino, as ruínas da estação, a plantação de eucaliptos em linha que sobrevive, o cemitério ali perto. Dependendo dos olhos que enxergam tais detalhes, Campo Alegre ainda pode ser aprazível demais.
"Estive em Campo Alegre na semana passada e vi uma casa em ruínas e a igreja. Procurei a vila do lado de lá e não encontrei nada. Rodei um tempo por uma estrada cercada de eucaliptos e nada. De outro lado, parece existir uma vila, mas está dentro de uma fazenda na qual não pude entrar. Foi uma pena eu não encontrar as outras vilas. Da vila que ficava na frente da estação só sobrou essa casinha em ruínas mesmo, nada mais. O resto é só pasto para o gado". (Kenzo Sasaoka, 10/04/2002)

Ralph Mennucci Giesbrecht, março de 2002

*Campo Alegre fica no município de Brotas, SP, próximo à divisa com Itirapina. Grande parte do texto acima foi extraída de um artigo escrito por José Antonio Penteado Vignoli, de São Paulo, SP e penta-neto de Francisco. Outras fontes: Wanda de Albuquerque Schmidt, de São Paulo, SP; Edson Castro, de Jaú, SP; o próprio autor

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O mapa mostra o oeste do município de Brotas, por volta de 1957. A fazenda Mundo Novo aparece a cerca de 7 km a noroeste da estação. A vila de Campo Alegre apare-
ce ao norte dos trilhos, mais longe da estação do que é na realidade. (IBGE, c. 1957)

Francisco de Assis Vieira Bueno

Em 1937, Campo Alegre era a vila que as 13 fotos seguintes mostram, com todo o movimento dos trens da Companhia Paulista e algumas casinhas (fotos cedidas por Wilson de Santis Jr., Itirapina, SP):










Fotos de Campo Alegre hoje (ou nos últimos seis anos...):



Em 1996, a velha igreja mais do que centenária aparece já em ruínas. Curiosamente
ela, que fica ao sul dos trilhos e a oeste da estação, não aparece em nenhuma das
fotos acima. (Fotos: Edson Castro, Jaú, SP)


Em 2000, fotos da estação de Campo Alegre, em ruínas (Fotos Wilson de Santis
Jr., Itirapina, SP


Em 27/10/2001, a estação e a locomotiva da Ferroban passando por ela e seguindo no
sentido Bauru (Fotos: José H. Bellorio, Bauru, SP)


Em abril de 2002, a igreja de Campo Alegre ainda resiste, mais do que centenária, e mas a casinha, bem mais nova como podem atestar os blocos de concreto aparentes não agüenta tanto... (Fotos: Kenzo Sasaoka, Campinas, SP)

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