Joaquim Távora, PR

(O material abaixo foi totalmente extraído do site
http://robertobondarik.blogspot.com/2007/06/reportagens-recentes-da-folha-de.html: nesse site, este espaço destina-se à difusão de textos proprios ou referenciados pelo Prof. Roberto Bondarik, discutir a História do Paraná, em especial a Revolução de 1930 e o Combate de Quatiguá, em apoio ao projeto desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE - [www.pde.pr.gov.br] da Secretaria de Estado da Educação do Paraná em convênio com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) sob a orientação do Professor Doutor José Miguel Árias Neto, do Departamento de História)

QUARTA-FEIRA, JUNHO 13, 2007 - REPORTAGENS RECENTES DA FOLHA DE LONDRINA - A FOLHA DE LONDRINA publicou no dia 07 de Junho de 2007, uma reportagem tratando da Revolução de 1930, e suas implicações com a cidade de Joaquim Távora (vizinha de Quatiguá):

"Achei importante porque um jornal com a circulação e aceitação como a FOLHA, a atenção sobre o assunto vai ser despertada. Acredito que a região, não somente Quatiguá possam tirar proveito turistico desse evento. E tem mais despertar a atenção até nacional sobre o Norte Pioneiro significa também que algum empresário que esteja pensando em investir em algo que gere trabalho e renda se incline, conhecendo suas particularidades, a investir na região. A reportagem foi conduzida pelo Widson Schwartz, com fotos de Evandro Monteiro. Posso afirmar com segurança que essas trincheiras tavorenses sejam abrigos feitos pela população ou mesmo pelos soldados paulistas que debandaram apavorados com os gauchos e procuram alguns se esconder onde fosse possivel. Inclusive sei da localização de pelo menos mais um, terreno semelhante em Quatiguá, um lugar chamado "Paredão" (uma queda d´água no ribeirão Agua Limpa, no caminho para o bairro do Moquém)".

VESTÍGIOS DA REVOLUÇÃO EM JOAQUIM TÁVORA - Fundo de vale esconde ruínas de supostas trincheiras de paulistas no confronto de 1930 Joaquim Távora - Menos de 15 dias após eclodir a revolução em 3 de outubro de 1930, o general Miguel Costa deu a conhecer mensagem aos ''defensores do Catete'' - o palácio presidencial no Rio de Janeiro - alertando-os de que seria inútil resistir e lhes oferecendo garantia para que averiguassem tal evidência. Usando o termo ''convidamos'', o revolucionário sugeria ao Ministro da Guerra que enviasse aviões em reconhecimento sobre as ferrovias desde Itararé (SP), passando pelo Paraná, a Marcelino Ramos (RS), na divisa com Santa Catarina, ''podendo aterrar em nossos campos de Piraí (do Sul), Ponta Grossa e Castro, onde serão supridos, por nós, de tudo que necessitarem''. Os aviões não seriam inutilizados, ''sob palavra de honra'', e o fim da resistência evitaria que se continuasse o ''inútil derramamento de sangue''. Já em 14 de outubro, Getúlio Vargas recebia ''confirmação da primeira vitória importante das nossas forças'', no sentido de passar ao Estado de São Paulo, ''próximo a Jacarezinho, no Paraná''. Anotou detalhes em seu diário: ''Cinco horas de fogo, o inimigo retira-se para Carlópolis, deixando em nosso poder apreciável material de guerra e prisioneiros (entre) soldados e oficiais''. Compunham-se as forças adversárias de ''elementos do Exército e polícia paulistas'', comandados pelo coronel Pais de Andrade. ''As nossas, do 7º Batalhão de Caçadores de Santa Maria, sob o comando do Stoll Nogueira, da Brigada Etchgoyen.'' E Miguel Costa sitiou Itararé, que entra na história com a ''batalha que não houve'', porque o confronto em armas se deu ao Norte do Paraná, em Sengés, Quatiguá e Affonso Camargo - atualmente Joaquim Távora (a 52 km de Jacarezinho). Estão desaparecendo em Joaquim Távora o que se supõe tenham sido duas trincheiras dos paulistas, feitas com pedras, no fundo de um vale coberto por densa vegetação. Para descer e subir uns 15 metros de barranco quase a prumo, o presidente da Companhia de Desenvolvimento de Joaquim Távora, Joel Alvarenga, a moradora Wilma de Pizol e o fotógrafo da FOLHA Evandro Monteiro usaram corda. Retornaram com a imagem de uma das trincheiras, em grande parte destruída, mais recentemente atingida por uma árvore que tombou. Muito difícil seria chegar até à outra, tão atravancado estava o caminho. João Mendes de Oliveira, que tem um projeto turístico envolvendo a ferrovia e já desceu no vale, também está convicto de que eram trincheiras, levando em conta relatos e a rota de tropas legalistas (ou governistas) procedentes de Ourinhos para combater revolucionários em Quatiguá, a dez quilômetros de Joaquim Távora. Improvável, porém, um combate naquele sítio mais parecendo esconderijo. Aquela ''primeira vitória importante'' mencionada por Vargas ocorreu nos dias 12 e 13 de outubro em Quatiguá, então um distrito policial, enquanto o município de Affonso Camargo fora instalado em setembro de 1929. Pelo ramal saindo de Jaguariaíva, os revolucionários chegaram de trem, ''transpuseram a estação de Quatiguá e prosseguiram para Affonso Camargo'', relata Aureliano Leite, autor de um livro baseado em depoimentos, editado em 1931. ''Afinal, aqui (em Affonso Camargo), no dia 12 de outubro, tiveram (os revolucionários) contato com os primeiros adversários.'' (*) A Revolução é tema da disciplina de História em Quatiguá, onde estudantes ouviram contemporâneos. Sabe-se que o prefeito Miguel Dias, de Affonso Camargo, e o político Athalyba Leonel, de Piraju (SP), ao lado dos legalistas, planejaram arrancar os trilhos em alguns pontos. Não existe, porém, registro do que sucedeu. Embora as tropas revolucionários estivessem engrossadas por catarinenses e paranaenses, afirma-se que o confronto foi entre paulistas e gaúchos, estes cinco mil, ao entraram no Paraná, segundo Miguel Costa. De trem, os estados-maiores civil e militar da revolução e as ''tropas de vanguarda'' encontraram-se em Ponta Grossa, dia 17. Getúlio Vargas anotou: ''Passamos Teixeira Soares e, enfim, à tarde, chegamos a Ponta Grossa, segunda cidade do Paraná, próspera, ciosa das prerrogativas e independência. Baluarte do liberalismo, onde, apesar da pressão governamental, ganhamos a eleição de 1º de março. Somos recebidos com entusiástica manifestação, a maior (...) depois de sair de Porto Alegre''. (*''Memórias de um revolucionário: a Revolução de 1930 - Pródromos e Conseqüências'').

Na cidade que teve o nome mudado pela revolução, a estação do trem é patrimônio histórico tombado pelo Estado e a comunidade aguarda a sua restauração. ''O projeto existe há algum tempo, falta a decisão'', informa Joel Alvarenga, presidente da Companhia de Desenvolvimento de Joaquim Távora, organização civil sem fins lucrativos. Entusiasmado, Joel observa que a estação é um símbolo da cidade e o projeto se encontra na esfera estadual. No calendário (''folhinha'') com propaganda de estabelecimentos locais, o atrativo é a imagem da estação, construída em 1923, mas ostentando uma placa em que se lê a inauguração em 27 de setembro de 1926. De madeira, é muito semelhante à que existia em Wenceslau Braz. Tavorense de 1942, neta do torneiro-mecânico Franz George Witzel, que chegou em 1929 para trabalhar na serraria de Affonso Camargo, Elga Oliveti Moreno sabe que a cidade ''começou em volta da linha; meu sogro era carroceiro e pegou o restaurante da estação em 1939, meu marido nasceu lá''. Outra que se entusiasma com a estação é Vilma De Pizol, que tinha dois anos ao chegar à cidade e recorda o embarque de gado no trem, na década de 50. ''A cidade terá uma referência turística se a estação for restaurada'', acredita Vilma. Atualmente o município tem 9.600 habitantes e sua origem foi o povoado de Barra Grande, em Santo Antônio da Platina. Com o advento da ferrovia, as estações recebiam nomes de personalidades vivas, geralmente políticos. Affonso Camargo, aquela nas imediações de Barra Grande, foi homenagem ao presidente estadual (governador) de 1916 a 1920, depois nome do distrito e do município. Novamente governador a partir de 1928, Affonso foi deposto pela revolução e o general Mário Tourinho, assumindo a chefia do Estado em 5 de novembro de 1930, mudou o nome do município para Joaquim Távora, engenheiro civil e capitão do Exército morto em 1924. Mas, segundo uma ''variante'', a estação também foi denominada Getúlio Vargas. O cearense Joaquim do Nascimento Fernandes Távora comungava os ideais positivistas dos tenentes, que queriam um Exército político e não apenas subalterno. Em Corumbá (MT) mobilizou o 17º Batalhão de Caçadores em solidariedade ao levante do Forte de Copacabana, em 1922; ao mesmo tempo, o tenente Juarez Távora, seu irmão mais jovem, era contido no Rio de Janeiro, ao tentar aderir com os cadetes da Academia Militar de Realengo. Debeladas as sedições, ambos foram presos e Joaquim desertou. Na revolução de 5 de julho de 1924, em São Paulo, na cidade bombardeada por aviões do governo Joaquim morreu em consequência de ferimentos. Tinha 43 anos. O movimento de 24 terminou quando a Coluna Prestes se desfez, em 1927. Alguns de seus líderes atenderam ao chamado para a Revolução de 30, comandada por Juarez Távora no Nordeste. (W.S.)