A POLÊMICA EM TORNO DA DATA DE INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CHAGAS DÓRIA, São João del Rey, MG

Sob o patrocínio da FCA (Ferrovia Centro Atlântica), que opera o trem turístico entre São João del Rei e Tiradentes, foi totalmente reformada a Estação Ferroviária de Chagas Dória, no bairro de Matosinhos, sendo que, às 10 horas do dia 1º de março de 2005 se deu a esperada reinauguração da mesma, com a presença de dezenas de moradores, que se postaram do lado de fora da cerca de trilhos, e diversas autoridades. Acima das janelas laterais do prédio recuperado foram pintados o nome, Chagas Dória e a data de inauguração, 1911. O renomado e saudoso historiador Sebastião Cintra, nas suas confiáveis "Efemérides de São João Del Rei", à página 226 do vol. 1, 2ª edição, informa: 24 de maio de 1908 - Inauguração festiva da Estação Ferroviária de Matosinhos, com a presença do Dr. Francisco Manoel de Chagas Dória, Diretor da Estrada de Ferro Oeste de Minas, do Major Antônio Gonçalves Coelho, vice-presidente da Câmara Municipal, Monsenhor Gustavo Coelho, jornalistas, autoridades e as bandas de música do 28º Batalhão de Caçadores e da Oeste de Minas. Na igreja de Matosinhos oficiou-se solene Te Deum. Para Bruno Campos, graduado em História pela UFSJ e grande pesquisador da história da Estrada de Ferro Oeste de Minas o atual prédio foi inaugurado em 15 de abril de 1911, mas já havia referência sobre a estação de Matosinhos em 1908. (Aviso n.º 10 de 25/05/1908 - "Approva a tarifa para o transporte de passageiros e bagagens entre Mattozinhos e São João d'El-Rey"- publicado no Diário Oficial de 26/05/1908). Já o aviso n.º 11 de 02/06/1908 diz "Resolve mandar substituir o nome da estação de Mattozinhos pelo de Chagas Dória, attendendo as solicitações da Câmara de S. João d'El-Rey e imprensa da mesma cidade". Para jogar mais lenha na fogueira, o aviso n.º 21 de 24/08/1908 diz "Auctorisa o prolongamento do ramal de Mattozinhos à localidade denominada Águas Santas, no município de Tiradentes" publicada no Diário Oficial de 26 de Agosto de 1908. Para Bruno Campos também fica claro que antes da inauguração da atual estação Chagas Dória, existia uma anterior localizada na ponta do ramal de Matosinhos. Todo dilema gira em torno da localização da primitiva estação. No jornal "O REPORTER" (ed. 109, pág. 1) de 07/04/1910 consta a seguinte nota: RAMAL DAS ÁGUAS Bem adeantado está o serviço do ramal Águas Santas, já estando concluída a ponte sobre o rio das Mortes. A estação Chagas Doria, ramal de Mattosinhos, está quasi concluída, obedecendo a sua construcção uma elegante planta, de estylo moderno, que nos parece foi levantada pelo hábil desenhista da Estrada sr. Arlindo Ramiro de Castro". Uma discussão anterior à inauguração da primitiva 1.ª estação, num fragmento do jornal "O REPÓRTER" datado de 28/11/1907 diz que: "O traçado por nós imaginado com visos únicos de attender ao interesse público e concorrer para a prosperidade de um dos nossos mais aprazíveis bairros, considerou também a questão econômica, que de ordinário é o fiel que pende nas balanças dos cálculos. Collocada a estação, como lembramos, em terreno da quinta do sr. Miguel Archanjo, em frente á esquina do Palacete occupado pelo Sanatório Militar" Não cogitamos atravessar o largo e nem ir atropellando o povo até a porta da egreja, que apontamos para determinar o centro da povoação. Da estação volveria o trem atrás, ao ponto de partida da linha principal." Ainda sobre a polêmica da construção, um jornal de 1908, o qual não foi possível identificar, cita o sr. Sebastião Sette. Assim diz o jornal: "(...) foi o sr. Sette que, talvez sem querer, indigitou o verdadeiro traçado do pequeno ramal e o melhor local para a Estação de Mattosinhos, attendendo ao interesse geral." A primitiva estação Chagas Dória não comportava provavelmente o movimento de pessoas e cargas e quando da constituição do prolongamento do ramal de Matosinhos para Águas Santas, além de um plano de retificação da linha tronco, passando esta a passar pela dita estação. O ramal das Águas Santas foi oficialmente inaugurado dia 21/04/1910 e a estação Chagas Dória nova foi inaugurada e passou a fazer parte oficialmente da linha-tronco, como nos diz a Ordem de serviço n.º 70: "Ordem n. 70 Abertura da estação CHAGAS DORIA - 15 de abril de 1911 Communico-vos que está aberta ao trafego de passageiros, bagagens, animaes, mercadorias, etc, a estação de Chagas Doria, servindo o arrabalde de Mattosinhos, no kilometro 97 da linha de Centro. O prefixo para o serviço telegraphico será DO. Dará AP ás 5:50 da manhã e receberá PÓDE ás 9:10 da noite. De ordem da Directoria, a partir desta data, serão validos para todos os trens, os coupons de cadernetas de assignaturas para os trens de subúrbios. Horário dos trens mixtos: M1, chega às 7:03, parte às 7:05 da manhã; M2, chega às 6:20, parte às 6:22 da tarde; M3, chega às 6:05 parte às 6:07 da tarde; M4, chega às 6:05, parte às 6:07 da manhã. - Pedro Magalhães. - Chefe de Tráfego. A estacão levou o nome do diretor local da Rede Ferroviária Oeste de Minas, Dr. Francisco Manoel das Chagas Dória. Antes de 1908, a linha férrea primitiva, que data de 1881 e se estendia até a cidade de Sítio, atual Antônio Carlos, passava pela atual rua Amaral Gurgel, que inicia-se no antigo Matadouro Municipal e vai até o Grupo Escolar Mateus Salomé. Foi inaugurada a 25 de maio de 1908, coincidindo com a inauguração do ramal ferroviário Cidade-Matosinhos, com cinco horários de viagem durante a semana e oito aos domingos, feriados e dias santos. Os horários do trem de Matosinhos eram os seguintes, conforme página 960 do Anuário Histórico-Cronográfico de Minas Gerais - ano III, 1909: Dias úteis: - Partida : 08:00, 10:00, 13:00, 17:00 e 20:00. Chegada: 08:30, 10:30, 13:30, 17:30 e 20:30. Domingos, feriados e dias santificados: Partida: 08:00, 10:00, 11:00, 13:00, 15:00, 17:00, 19:00 e 20:00. Chegada: 08:30, 10:30, 11:30, 13:30, 15:30, 17:30, 19:30 e 20:30. Em agosto de 1908, a Câmara Municipal solicitou ao Governador a construção de um ramal que, partindo de Matosinhos, ligasse às Águas Santas, que foi inaugurado em 21/03/1910. Os horários do trem para as Águas Santas, que partiam do centro da cidade, eram os seguintes, conforme informa o Jornal O CORREIO de 1914: Partida: 06:30, 12:30, 16:10. Chegada: 10:03, 15:10, e 18:00. A partir de 1910, a pequena população do Bairro de Matosinhos começou a fazer uso do trem de ferro para se dirigir ao centro da cidade de São João para fazer compras, depósitos bancários, passeios etc. Diariamente existia ainda um horário de trem com destino à cidade de Barbacena, que também fazia parada na Estação de Matosinhos. Interessantes eram os horários comerciais daquela época, conforme podemos constatar na edição de outubro de 1949 do jornal "O Correio". O comércio funcionava das 7:30 às 17 horas, inclusive aos sábados, os bancos tinham horários diversificados, tais como: Banco do Brasil das 12:30 às 15:30 horas, de segunda à sexta e, aos sábados das 9:30 às 11 horas. Banco Almeida Magalhães (o primeiro banco de Minas Gerais) de 9 às 11 e de 13 às 15 horas de segunda à sexta e, aos sábados, de 9 às 11 horas. Quanto aos horários de ônibus intermunicipais eram apenas quatro semanais para Belo Horizonte; segundas, terças, quintas e sábados, partindo às 7 horas. Para Juiz de Fora e Resende Costa, dois horários diários, partindo às 7 e 12:15 horas. Para a cidade de Lavras, diariamente partindo às 7 horas. Para Santa Rita, atual Ritápolis, dois horários diários; Tiradentes, quatro horários diários; cidade de Piedade e Cianita, um horário diário; e Dores de Campos e Prados, três horários semanais. Naquela época, ainda não existia rodoviária e os ônibus partiam de diversos pontos da cidade. O mais curioso é que, três vezes por semana a companhia aérea OMTA realizava voôs para Belo Horizonte. FONTE: EFOM-Ordens de Serviço do Tráfego de nº 1 a 350, de 31 de maio de 1909 a 5 de junho de 1916. Volume I. Typographia Commercial, São João d'El Rei, 1916 - pág. 41. OBS. A Estrada de Ferro Oeste em 1922 editou um livro com o seguinte título: "Estrada de Ferro Oeste de Minas - Trabalho histórico-descriptivo 1880-1922" em comemoração ao centenário da Independência. Nos anexos deste livro encontra-se a lista com as estações e suas datas de inauguração.