A ESTAÇÃO: A estação de Santa Maria foi
inaugurada em 1886, ainda pela
Rio-Clarense, no então ramal de Jaú. A vila e a estação
ainda pertenciam a Brotas, nessa época. mas o nome se originou a partir de Santa
Maria da Serra, vila não muito distante.
O relatório
da Cia. Paulista de 30/04/1893 ainda se referia à estação
como Santa Maria, enquanto que o seguinte, de 28/04/1894,
já a chamava de Torrinha. A mudança do nome do bairro ocorreu em 15/04/1893, numa reunião de moradores (ver caixa abaixo, de 1893).
O bairro teve o nome alterado para o atual por causa de uma formação
geológica próxima que se parece com uma torre.
Em 1924, decidiu-se substituir o velho prédio da Rio-Clarense
por um prédio mais moderno (ver caixas abaixo), que sobrevive
até hoje. Reparem: o prédio tem a mesma tipologia
das estações de Brotas, Sumaré, Araras e Leme, cujos prédios da estação foram construídos mais ou menos na mesma época.
A estação é uma
das poucas estações que, na retificação da linhga em 1929, não teve seu local
original alterado.
"O vendedor de jornais estava sempre no primeiro banco do
primeiro carro de segunda classe. Naqueles dois minutos de parada
do trem, o jornaleiro vendia de dez a quinze jornais. A maioria
era a Gazeta Esportiva. Em Torrinha, em 1940, poucas pessoas assinavam
jornais ou revistas, e aqueles que queriam ler, iam à estação da
Paulista e os compravam do jornaleiro do trem. Todos os trens de
passageiros da Paulista tinham um prefixo que indicava o destino,
a origem e o horário. Assim eram conhecidos pelo pessoal da estação.
Os de prefixo "P" eram trens diurnos e "N" eram os de horários noturnos.
A letra "P" significava passageiros assim como também "N". O mais
esperado era o PJ3. Trem de passageiros, rápido, formado em Itirapina
com destino a Marília e Pompéia. O PJ3 trazia mais passageiros para
Torrinha, além de encomendas e outros tipos de bagagens.
Chegava à estação pontualmente às treze horas e vinte minutos. Após
a sua partida chegava o P16, às treze horas e quarenta minutos.
Este procedia da Alta Paulista com destino a São Paulo. A estação
era o lugar mais freqüentado da cidade. Rapazes, moças, pessoas
de todas as idades passeavam pela gare, de mãos dadas. Em 14 de
novembro de 1941, passou o último PJ3 na bitola estreita. Uma possante
locomotiva a vapor arrastava os doze carros impecavelmente limpos.
Eram três de primeira classe, três de segunda, o carro restaurante,
o carro pullman e o bagageiro. No restaurante, o gerente já chegava
na janela com embrulhos nas mãos. Eram frutas: maçãs, uvas, pêras,
que eram encomendadas por familiares de doentes terminais. A criançada,
quando via um viajante chegar com malas, corria logo a oferecer
o seu serviço. Carregar malas para o Hotel Perlatti, Hotel Marolla,
ou para outra parte da cidade, sempre dava alguns dois ou três mil
réis para o cinema de domingo, jogar no bicho ou comprar cigarros
e fumá-los escondido do pai" (Do livro Minhas e outras
memórias de Torrinha, de José de Barros).
A partir de 1941, a estação passou a fazer parte do
tronco oeste, que incorporou os antigos ramais de Jaú,
de Agudos e de Bauru e os retificou.
"Minha mãe é de Torrinha, e morávamos em Rio Claro. Então, era
muito comum irmos de trem, de Rio Claro para lá, quando eu era criança,
nos anos 1950. Eu me lembro das emas correndo pelos campos - havia
muitos, por onde essa linha passava. Lembro-me das estações de Batovi,
de Itirapina, de Brotas... eu nunca fui a Brotas, só conhecia a
estação, de quando o trem parava. Era um prédio muito bonito. Ao
lado, corria de um muro de pedras, uma mina d'água. Quando chegávamos
a Torrinha, meu avô, alemão, estava nos esperando, na plataforma,
de terno e com um relógio de bolso na mão" (Carlos Alberto Pimentel,
junho de 1999).
Em 15 de abril de 1998, estive na estação. Era pequena e bonita,
e - surpreendente para a época - tinha um chefe que permanecia
todo o dia ali, trabalhando e até vendendo bilhetes. Era uma das
poucas estações que fazia isso na época. Estava longe de estar em
perfeito estado de conservação, apresentando remendos nas paredes
e tábuas com indícios de podridão no teto, mas os móveis ainda eram
os originais, de madeira, com armários e escrivaninhas típicas da
Paulista do início do século, tudo arrumadinho, com o seu telefone
antigo na parede. E que funcionava, servindo para contato com as
outras estações.
Torrinha acabou, infelizmente, por se tornar um exemplo de descaso
e desorganização: no final desse mesmo ano, a Ferroban adquiriu
a Fepasa e a estação, sem interesse para eles, foi completamente
abandonada. Pouco tempo duraria o abandono: um mutirão de
moradores começou a limpar a estação e os arredores.
Parte da estação passou a ser ocupada por um bar-café
e um espaço para exposições, enquanto que,
na cidade, o apito de um trem cargueiro ainda trazia alegria...
mesmo não parando mais na estação de Torrinha.
"O passo seguinte foi recuperar toda a parte interna
da área administrativa da estação, onde toda
a parte elétrica, encanamentos, pintura e bens foi restaurada.
A seguir passou-se a usar o espaço de controle de trens para
a nova sede do COMTUR. Com eventos e festas, conseguimos refazer
o paisagismo e cercar com alambrado todo esse espaço. Em
2004, tomamos o antigo armazém e restauramos todo o seu espaço
interno, onde foi realizado o 3o Moda na Estação,
um evento que reune artistas pláticos de toda a região
e conta com a presença de artistas consagrados no Brasil
no setor de moda.
Hoje, a única coisa que nos falta terminar em nossa estação
é a pintura exterior dos prédios e que fundamentalmente
o Poder Público Municipal e Estadual se conscientizem e valorizem
nosso trabalho. Gostaria de citar nomes de pessoas que voluntariamente
dão o sangue literalmente e amam a nossa Estação,
e são eles: o jornalista Fernando Della Coletta, a artista
plástica Katia R. Buzatto, o arquiteto João Paulo
Golinelli, a turismóloga Maria Lúcia Baltieri e muitas
outras pessoas que direta e indiretamente entendem e contribuem
para que o nosso esforço tenha resultado" (Cibele
Zanforlin, arquiteta, 11/2004).
"Em fevereiro de 2006, vi em Torrinha uma estação muito bem
reformada, muito bem zelada e mantida. Está sendo ocupada como diretoria
de cultura e expõe alguns objetos originais" (Edson
Castro, 23/02/2006).
Em 2018, servia como sede do SEBRAE.
Em setembro de 2023,
Murici Tondato afirmou que a estação estava cercada por um alambrado para protegê-la, a pintura estava conservada e por dentro ainda seguia muito bonita. Se ainda abrigava o SEBRAE, não foi informado.
Leia também: Torrinha e
o passe dos estudantes em 1950 (Folha de S. Paulo, 4/3/1950).
1887
AO LADO: Desaparece café despachado da estação de Santa Maria (A Provincia de S. Paulo, 15/3/1887) |
|
1887
AO LADO: Agencias de correioinstalam-se nas estações de Colonia (Conde do Pinhal) e de Santa Maria (Torrinha) (A Provincia de
S. Paulo, 23/4/1898). |
|
1891
AO LADO: Na época, não somente o Governo emitia dinheiro, mas alguns bancos também. Estava dando problemas as notas em algumas estações, como esta (O Estado de S. Paulo, 19/3/1891) |
|
1895
AO LADO: Quando Santa Maria mudou de nome e virou Torrinha (O Estado de S. Paulo, 15/4/1895) |
|
1895
AO LADO: Acidente entre Torrinha e Brotas (O Estado de S. Paulo, 21/11/1895) |
|
1899
AO LADO: Praça em frente da estação alagava com chuvas (O Estado de S. Paulo, 9/2/1899) |
|
1899
AO LADO: Dez dias depois, a Paulista toma providências na praça (O Estado de S. Paulo, 19/2/1899) |
|
|
1912
AO LADO: Acidente com morte
próximo à estação de Torrinha
(Correio Paulistano, 9/10/1912).
|
1924
AO LADO: Entre outras anotações,
anuncio de um novo prédio para a estação
de Torrinha (O Estado de S. Paulo, 11/9/1924)
|
|
1924
AO LADO: A construção
de nova estação e armazém foram decididas
(O Estado de S. Paulo, 22/11/1924)
|
|
1934
AO LADO: Acidente na estação
(O Estado de S. Paulo, 29/8/1934) |
|
1942
AO LADO: Pede-se que o embarque de gado passe para a estação de Ventania, próxcima na linha. Terá o pedido sido atendido?
(O Estado de S. Paulo, 7/2/1942) |
|
ACIMA: Estação de Torrinha
e o trem da Fepasa, sentido Dois Córregos, em 1975 (Foto
Edson Milani).
ACIMA: Locomotiva elétrica em Torrinha
com as cores da Fepasa, por volta de 1984 (Foto José
Geraldo).
ACIMA: A pia da estação de Torrinha,
fotografada em 2005; ela é uma das únicas remanescentes,
senão a única, de pias desse tipo de um fabricante que
ainda existe, a americana Twyford Bathrooms (Fotos Julio Cesar de
Paiva, 2005).
ACIMA: O catálogo que mostra estas pias,
do início do século 20. Para ver a história deste
catálogo e sua descoberta, clique
aqui (Foto cedida pela Twyford e por Julio Cesar de Paiva).
ACIMA: Piso da estação de Torrinha em 13/2/2018
(Foto Victor Hugo Silva).
ACIMA: A estação de Torrinha em 2023 (Foto Murici Tondato).
(Fontes: Ralph Giesbrecht, pesquisa
local, 1998 e 2010; Murici Tondato, 2023; Victor Hugo Silva, 2018; Daniel Gentili, 2016; José Geraldo; Flávio
Vassello Sorrila; Carlos Almeida, 2000; Edson Milani; Edson Castro, 2003; Julio
Cesar de Paiva, 2005; Rodrigo Cabredo, 2007; Cibele Zanforlin; Carlos Alberto
Pimentel; Filemon Peres: Album de 50 anos da Cia. Paulista, 1918;
Cia. Paulista: relatórios anuais, 1872-1969; José de Barros:
Minhas e outras memórias de Torrinha; IGGSP, 1928; Mapa - acervo R.
M. Giesbrecht) |