Trem Xangai
(Minas Gerais)

 

Central do Brasil (c.1950-1975)
RFFSA (1975-1996)

Bitola: larga (1,60m)


Acima, o trem Xangai chega à estação de Mariano Procópio, em 1996 (Foto Jorge A. Ferreira). Abaixo, o Xangai partindo da estação de Juiz de Fora, anos 1990. (Foto Hugo Caramuru, cedida por Manoel Monachesi e Jorge A. Ferreira)



Acima e abaixo, carros do Xangai com pintura de 1994, estacionados em Benfica (Foto: Sergio Magalhães, Informativo Centro-Oeste).
Abaixo, horários do Xangai em 1957 (Guia Levi, dezembro/1957):


Veja também:

Linha do Centro - Minas Gerais


Mais Xangai (Informativo Centro Oeste)

Contato com o autor

Indice

Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

O "Xangai" era um trem puxado por locomotivas diesel, uma espécie de trem metropolitano que ligava as estações de Mathias Barbosa e de Benfica, trafegando por quase toda a extensão dentro do município de Juiz de Fora. Encontram-se referências a ele em horários pelo menos desde 1951 (em 1948 ainda não). Em 1994, passou por uma reforma, tendo sido extinto em 1996, devido à privatização da linha em meados desse ano.

ACIMA: Percurso do Xangai, em vermelho. O mapa é de 1942, quando o trem ainda não existia, mas o percurso não se alterou. (Guia Levi, 1942). Abaixo, estação de Matias Barbosa, em 2003 (Foto Jorge A. Ferreira)

Percurso: Linha do Centro, no trecho de Mathias Barbosa a Benfica.
Origem da linha:

Matias Barbosa - Juiz de Fora - 1875;
Juiz de Fora - Santos Dumont - 1877. A linha do Centro, da antiga Central do Brasil, foi inaugurada em trechos, desde o longínquo ano de 1858, quando foi aberto o primeiro trecho na cidade do Rio de Janeiro, até 1948, quando a linha chegou a Monte Azul, no sertão mineiro, próximo à divisa com a Bahia, num percurso de mais de mil quilômetros. A partir de Lafaiete, a linha passava de bitola larga para a métrica. A linha do Centro hoje tem tráfego apenas de trens cargueiros, com exceção da parte próxima ao Rio de Janeiro, por onde trafegam trens metropolitanos de passageiros.
Acima, a estação de Benfica, antigo ponto final do Xangai, em 2000, com cargueiros da MRS (Foto Jorge A. Ferreira)

O Xangai começou a operar por volta de 1950, desmembrado dos
trens "paradores" da Central na região de Juiz de Fora. Passou a
percorrer um trecho quase todo urbano, na região de Juiz de Fora.
Ao lado do Xangai, trafegava pelo mesmo trecho o
Acima, o Xangai em Juiz de Fora, anos 1990. Abaixo, o Xangai partindo da
estação de Juiz de Fora - anos 1990. (Fotos Hugo Caramuru, cedidas por Manoel Monachesi e Jorge A. Ferreira)

Vera Cruz, que ligava o Rio de Janeiro a Belo Horizonte com poucas paradas, e diversos trens "paradores", que demoravam muito mais tempo para fazer o mesmo trecho, mas que movimentavam populações locais. Durante os últimos anos da década de 1970, o Xangai foi "absorvido" por estes trens, voltando, entretanto, a circular no mesmo trecho original algum tempo depois. Quando acabou, em 1996, tinha o mesmo trajeto de suas origens, Matias Barbosa - Benfica. Um trem de subúrbio, mesmo. "Ainda temos um trem diário de passageiros, exceto nos domingos e feriados, ligando Benfica a Matias Barbosa, num trajeto de 26 quilômetros. A viagem inicia-se às 5h da manhã, em Matias Barbosa, com 1 locomotiva (geralmente U-20C); 1 vagão-madrinha; e 3 carros de aço-carbono na pintura azul e branca. Matias Barbosa é pé-de-serra, com altitude de 477 metros. O trem segue passando por Cedofeita, Retiro, Juiz de Fora (km 275 e 678 metros do nível do mar. Segue passando por Mariano Procópio, Francisco Bernardino, Barbosa Lage, Setembrino de Carvalho, Coronel Felício Lima, e finalmente Benfica, a 685 metros de altitude, num total de
1 hora e 30 minutos. Em abril de 1993, a passagem custava Cr$ 5 mil no trecho Benfica - Juiz de Fora; e Cr$ 9 mil no trecho inteiro. O trem retornava partindo de Benfica às 17h, passa por Juiz de Fora às 17h30 e chega às 18h30 a Matias Barbosa, onde pernoita, partindo novamente na manhã seguinte. O trem tem o apelido de Xangai, em analogia com o Transiberiano, pois Juiz de Fora era considerada "a Manchester brasileira", com grandes indústrias, e por existir em Benfica uma fábrica de munições. Os operários eram transportados por esse trem, assim como os soldados de um quartel existente próximo à estação de Setembrino de Carvalho. O Xangai já foi rebocado por Mikados possantes, pelas RS-1 e RS-3, pelas U-5B e recentemente pelas U-20C. De vez em quando, as U-23C, as SD-38 e SD-18 se revezam com as U-20C na tração. Até cerca de 1990, o Xangai tinha mais um horário, saindo de Benfica às 11h e partindo de volta de Matias Barbosa às 13h, mas foi suprimido, ao mesmo tempo em que o horário restante teve o número de carros reduzido de 5 para 4, depois para 3, em seguida 2, e recentemente voltou a fixar-se em 3 carros. A melhor época para nele andar é o verão, pois toda a viagem transcorre com dia claro (Hugo Caramuru, Centro-Oeste nº 79, 1993). Na Revista Ferroviária de setembro de 1994, uma reportagem afirma que o Trem Xangai havia sido (re) implantado nesse ano pela SR-3 da RFFSA, partindo de Matias Barbosa às 05:30 e de Benfica, na outra ponte, às 12:00; outro trem parte de Matias às 13h20, partindo desta e retornando para Benfica às 17h10. Segundo a RFFSA, em julho desse ano o trem era tão concorrido que a empresa teve de restringir o embarque nas estações, pois pessoas passeavam indo até Matias Barbosa e não desembarcavam, voltando no trem e não deixando espaço para quem queria embarcar por ali. Ainda segundo a revista, "antes da reforma, o Xangai operava com apenas dois carros de passageiros e apenas um horário em cada estação". Ele estava operando com a composição de uma U-20 puxando quatro carros de passageiros, com um total de 288 passageiros sentados, tendo, entretanto, perdido o ar-condicionado que existia antes. Por fim completa dizendo que, enquanto em janeiro desse ano (1994) o trem havia transportado apenas 1840 passageiros, em julho, o número subiu para 26.474. ou seja, 14 vezes mais.