Trem Iaçu-Bonfim
(Bahia)

 

Viação Férrea do Leste Brasileiro (VFFLB) (1951-1975)
RFFSA (1975-1977)

Bitola: métrica



ACIMA: estação de Senhor do Bonfim, ponto de partida dos trens Iaçu-Bonfim entre 1957 e 1977. Notar o trem da FCA, atual concessionária na região. A cidade ainda é um entroncamento, pois ainda existe o trecho até Campo Formoso (Foto de 2005, autor desconhecido). ABAIXO: Ponte em Iaçu (já sem um dos vãos, o que caiu) que ligava a cidade a Itaberaba: era o início da linha Iaçu-Bonfim. Com a queda da ponte, o tráfego cargueiro - o de passageiros já estava extinto - jamais foi reativado e a ponte está sem a parte central até hoje (Foto Marcus Gusmão, em 2007).


ACIMA: mapa do Estado da Bahia com as linhas existentes em 1952. Em vermelho, a linha Iaçu-Bonfim, completada em 1951 (Acervo Ralph M. Giesbrecht). ABAIXO: Horários dos trens de passageiros da linha, pelo Guia Levi.

ACIMA: Pelo menos até 1955, o trem ainda percorreria apenas o trecho Bonfim-Mundo Novo (na época, Barra). ABAIXO: O trecho de Iaçu a Flores era o lado sul. A ligação entre Flores e Mundo Novo já estava pronta desde 1951, mas o trem de passageiros ainda não circulava por toda ela. Havia ainda um trem que fazia somente o trecho de Bonfim a Pindobaçu (Guia Levi, setembro de 1953).


ABAIXO: Em julho de 1976, o trem fazia o percurso todo, mas não duraria dois anos mais (Guia Levi, julho de 1976).

Veja também:

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Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

São muito difíceis as referências ao trem de passageiros que fazia a linha entre a cidade de Iaçu (antiga Paraguassu, próximo a Cachoeira, na Bahia) e Senhor do Bonfim (cidade na linha Salvador-Juazeiro, norte da Bahia). Começou a circular em 1917 a partir de uma cidade e de outra, em duas linhas que somente se encontraram em 1951. Tudo indica que o último trem da linha circulou em 1977/78; o de cargas, em 1983, num desastre na ponte ferroviária na saída de Iaçu.

O trem da Grota levava 14 horas para fazer o percurso entre Senhor do Bonfim e Iaçu. Até 1955, ainda não fazia o percurso inteiro (ver horários na coluna da esquerda), embora a linha toda já estivesse em funcionamento. Em 1957, já percorria todo ele.

Percurso: Iaçu - Senhor do Bonfim
Origem da linha:
A linha Senhor do Bonfim-Iaçu foi entregue ao tráfego ferroviário aos poucos. Enquanto de Senhor do Bonfim, na linha Centro, a linha foi sendo construída desde 1917, quando o primeiro trecho chegou a Pindobaçu até 1937, quando chegou a Barra (Mundo Novo), de Paraguassu (Iaçu), na linha Sul, a linha saiu para alcançar Itaíba em 1928 e Flores (Rui Barbosa) em 1951. Trens de passageiros circulavam pelos dois ramais isolados um do outro desde o início. Bastante próximas, Flores e Barra foram unidas e em 1953 a linha já funcionava em toda a sua extensão. Por ela andava o "Trem da Grota", extinto em fevereiro de 1977. O próprio ramal foi suprimido depois disso (oficialmente, em 1994) em condições não muito bem explicadas, pois era uma variante que encurtava a linha Norte-Sul no País, além de evitar o gargalo do rio Paraguassu, em Cachoeira, na linha Sul. Hoje nada mais existe dessa linha a não ser algumas das antigas estações.

Em 1917 foi aberto ao tráfego o trecho Bonfim-Pindobaçu, com um ramal menor para Campo Formoso, e em 1920 o prolongamento de Pindobaçu até Jacobina. Em 1951, o ramal para Jacobina se juntou ao ramal Iaçu-Itaberaba, fechando um triângulo ferroviário cujas extremidades eram Iaçu, Senhor do Bonfim e Mapele.

No trecho Iaçu-Bonfim passou a circular o "Trem da Grota", percorrendo 10 municípios, mas somente por volta de 1960. Até 1955, o trem de passageiros percorria apenas os trechos Bonfim-Mundo Novo (Barra) e Iaçu-Flores (ver horários do Guias Levi, à esquerda). Em 1957, a linha já era percorrida em seu trecho inteiro, mas com dois trens: o Bonfim-Mundo Novo e o Mundo Novo-Iaçu, em horários diferentes em 4 vezes por semana. Esta era a linha Centro-Sul, erradicada definitivamente em 1994, mas mantendo o trecho Senhor do Bonfim-Antonio Gonçalves (antiga Itinga) e dali o ramal para Campo Formoso, de onde se traz carga até hoje para Camaçari, próximo a Salvador.

Durante todo o período de operações os trens que serviam o ramal eram composições mistas. "O trem (que passava em Mundo Novo, antiga Barra) era sempre misto, com 3 carros de passageiros: o de 1ª, com poltronas estofadas, o de 2ª, com assentos de madeira e o carro-restaurante, que podia ser usado pelos passageiros da 1ª classe" (Wellington, Mundo Novo, 5/12/2005). Havia primeira e segunda classe nos trens mais antigos. A única fotografia que consegui, de um possível carro do ramal, aparece abaixo, na foto em Jacobina.

Até 1977 ainda corria o Trem da Grota (veja horário de 1976 à esquerda); em 1978, ele já havia sido desativado. "Enquanto o trem de passageiros já não mais corria, cargas seguiam pela linha, pelo menos a partir de Iaçu. O motivo do fechamento do trecho Iaçu-Bonfim teria sido um acidente ocorrido no final de 1983 entre Iaçu e Itaberaba: "Não sei ao certo, mas minha vaga lembrança informa que foi quando eu tinha 5 anos e me lembro que a cidade toda correu para o rio olhar os vagões caídos. A causa do acidente foi que alguns meninos de rua saíram descarregando todo o balão de ar dos freios de todos os vagões todos carregados de cimento, que aí desceu em grande velocidade a linha, e, chegando na ponte, o peso foi grande demais. A ponte de ferro ruiu. Meus pais me levaram para assistir os guinchos retirando os destroços de aço" (Luciano Costa, 09/2007). Outra versão: "23 de dezembro de 1983. Alguém, talvez por brincadeira, soltou os freios dos vagões que esperavam manobra do outro lado do rio. Foi o bastante. Carregado de cimento, o comboio ganhou velocidade com o declive próximo do rio e foi de encontro a outra composição que estava parada no meio da ponte. O estrondo foi ouvido em quase toda a cidade, que correu para a beira do rio para ver o estrago. Um dos vãos da ponte não suportou o impacto e o peso provocado pelos vagões encavalados e cedeu. Como o transporte via ferrovia já estava em decadência ninguém se deu ao trabalho de consertar o estrago. Iaçu perdeu parte da ponte e ganhou um cartão postal exótico" (Marcus Gusmão, 09/2007, blog http://licuri.wordpress.com).

ACIMA: Estação de Jacobina, provavelmente anos 1970. Notar junto à estação, atrás dos vagões fechados, um carro de passageiros, muito provavelmente do Trem da Grota (Foto Tibor Jablonski, cedida por Eduardo Coelho).

ACIMA: Estação e cidade de Piritiba. ABAIXO: Estação e cidade do Mundo Novo. Notar a semelhança na topografia, com a linha passando pelo vale, dividindo a paisagem entre cidade e campo (Fotos Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, IBGE, vol. XXI, 1958)


ACIMA: Imagens do Trem da Grota tomadas em 1960 (esquerda) próximo à cidade de Jacobina, e (direita) possivelmente na estação dessa cidade (Fotos: respectivamente Amado Nunes e Oscar Micucci). ABAIXO: Trem da Leste na estação de Piritiba, sem data (
http://piritibanet.blogspot.com.br)


(Fontes: Marcus Gusmão; Eduardo Coelho; Tibor Jablonski; Amado Nunes; Oscar Micucci; blog http://licuri.wordpress.com); http://piritibanet.blogspot.com.br; Guias Levi, edições de 1932-84; Cyro Deocleciano R. Pessoa Jr.: Estradas de Ferro do Brazil, 1886; FCA-Ferrovia Centro Atlântica, 2004; site www.senhordobonfim.ba.gov.br; O trem das grotas: A ferrovia Leste-Brasileiro e seu impacto social em Jacobina, UNEB/Santo Antonio de Jesus, 2009; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960)