Linha de Mairinque a Campinas
(São Paulo)

 

E. F. Sorocabana (1913-1971)
Fepasa (1971-1976)

Bitola: métrica


Acima, a estação de Mairinque, em 2003 (Foto Ricardo Koracsony). Abaixo, fachada da estação de Campinas, da Sorocabana, provavelmente nos anos 1920 (Acervo José David de Castro).



Horário dos trens da linha Marinque-Campinas, no "fim dos tempos", em 1976. Note que eçe ainda marcava o final em Campinas-EFS, para um dos horários, quando esta estação já não mais existia. Falha do guia? (Guia Levi, janeiro de 1976)

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Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

Trem de passageiros da Sorocabana que ligava as estações de Mairinque à de Campinas da Sorocabana (em alguns casos, à Campinas-Paulista), de 1913, quando ficou pronta toda essa linha, até 1976, quando a Fepasa extingüiu esses trens. Entre os anos de 1977 e de 1986, a linha foi toda suprimida, tendo sido construída no lugar dela uma retificação eletrificada chamada de Boa Vista-Guaianã, que hoje faz parte do "Corredor de Exportação", que liga Brasilia a Santos. Esta nova linha corre próxima à antiga, mas em leito sempre diferente, cruzando com a antiga linha na estação de Pimenta, no município de Salto.

Percurso: Mairinque a Campinas, na extinta linha que ligava estas duas cidades
Origem da linha:

Jundiaí - Itu - 1873
Itu - Mairinque - 1897
Francisco Quirino - Campinas (EFS) - 1913
A linha foi aberta pela Ytuana e encampada pela CUSY (Cia. União Sorocabana e Ytuana) em 1892, depois ficou sendo somente Sorocabana, em 1905, que a uniu com Campinas em 1913. O trecho entre Jundiaí e Francisco Quirino (junção com a linha Mairinque-Campinas) era também originalmente da Ytuana e tinha 95 cm de bitola até 1897, quando passou para métrica. Entre F. Quirino e Itaici, onde começava a linha para Piracicaba e São Pedro, houve, desde os anos 1950, linha dupla, com uma atendendo a Jundiaí-São Pedro e a outra, a Mairinque-Campinas.

O trem Mairinque-Campinas foi um sucedâneo dos primitivos trens da Cia. Ytuana, que ligava primeiramente Jundiaí a Itu. Com a fusão das duas empresas, a Sorocabana acabou por construir as ligações Itu-Mairinque, em 1897, e Itaici-Campinas, em 1913, linha esta que foi construída sob a supervisão de meu saudoso tio-bisavô, Howell Louis Fry, morto em 1979 com 95 anos. Com a incorporação da Funilense pela Sorocabana, em 1921, houve épocas em que o mesmo trem fazia o trajeto direto de Mairinque a Pádua Salles, às margens do rio Mogi-Guaçu, dizem algumas fontes. A Funilense acabou em 1960, e o final da linha passou a ser, mesmo, Campinas. O trecho Mairinque-Campinas começava na estação de Mairinque, na linha-tronco da Sorocabana, e terminava na estação de Campinas da Sorocabana, também chamada popularmante de Vila Bonfim, nome do bairro em que situava. Esta estação foi demolida em 1971. Uma descrição de um dos derradeiros anos de existência foi dado por um usuário, anos depois: "Em 1969 fiz o trajeto da velha Ituana de Itu a Campinas. Eu era bem garoto, porém eu me lembro de detalhes como o trajeto, que, pasmem, era feito em quase 4 horas, contra menos de uma hora, de automóvel. O trem era misto, composto por algumas gôndolas carregadas de areia, três carros de madeira de plataforma aberta (bagagem/correio, segunda e primeira). A tração era feita por uma GL8, série 3600. Em Itaici, havia uma parada de 30 minutos para o lanche, imaginem! Também nesta estação havia bastante movimento, pois ali se cruzavam os trens que iam a Campinas, no qual eu estava, e o trem de Piracicaba, com destino a Jundiaí. Esta composição era formada também por carros de madeira de plataforma aberta, com um detalhe: fazia parte da mesma um raríssimo carro misto da série BC, com primeira e segunda

Na estação de Mairinque, a plataforma de embarque para Santos e para Campinas (eram composições distintas). Provavelmente anos 1940 (Foto João Pestana).
classes, puxado por uma Cooper da série 3100. Na estação de Sete Quedas cruzamos com um cargueiro bem longo, com carros da Sorocabana, da RFFSA e da Mogiana. Dos dois trens diários, em cada sentido, que corriam entre Mairinque e Campinas, o misto (prefixo MY, no qual eu estava) ia somente ate a estação da Sorocabana em Campinas. O outro, ou seja, o de passageiros (prefixo PY) seguia ate a estação da Paulista, utilizando a plataforma da Mogiana. Com a criação da Fepasa, passou a correr somente o trem misto, formado agora por vagões de carga e um só carro de madeira da antiga Mogiana, pintado de azul e branco. Este ia até a estação da ex-Paulista, pois a estação da Sorocabana em Campinas tinha sido recentemente desativada. Eu me considero um privilegiado por ter tido a oportunidade de ver, ao vivo e a cores, a linha da Ituana ainda em pleno funcionamento. Apesar de na época ser muito jovem, são lembranças que ficarão para sempre..." (Maurício Torres, 2001, transcrito do livro "Um dia o trem passou por aqui, de Ralph M. Giesbrecht, 2001).

Na foto acima, À esquerda. é bastante provável que a composição à direita, da qual somente se vê a locomotiva, na estação de Itaici, seja o trem que ligava Jundiaí a Piracicaba, e o da esquerda seja um carro de passageiros aguardando locomotiva para levá-lo adiante, depois de desmembrado do trem para Piracicaba, para seguir na linha Mairinque-Campinas (Foto Carl Heinz Hahmann, acervo Alberto del Bianco). Na foto da direita, em Campinas, carro da Fepasa, portanto entre 1972 e 1976, ex-Mogiana de estrado metálico, formando o trem que seguiria para Campinas (Foto Barry Blumstein).
Também havia alguns trens especiais que trafegavam na linha Marinque-Campinas, como o que levava funcionários à Singer do Brasil: "Eu sou de Campinas, trabalhei na Singer do Brasil durante 25 anos e lá, até 1965, era usada a Ituana como transporte de funcionários. A empresa é fabricante de máquinas de costura e móveis. Foi fundada em 1954 e situa-se na fazenda própria, vizinha ao Aeroporto de Viracopos. Até 1965 a estrada de acesso ( hoje é a Rodovia Santos Dumont que liga Campinas a Sorocaba) era precária. Como a linha da Sorocabana passava atrás da fábrica, foi feito com ela um acordo para o transporte de funcionários, que pegavam o trem em Campinas, na estação do Bonfim (Campinas-Sorocabana), às 6 e meia da manhã. O percurso durava quase uma hora e o pessoal desembarcava em Descampado, estação que ficava nos fundos da área fabril. A estação está hoje em ruínas e coberta de mato. Ali havia um desvio que levava os trilhos para dentro da fábrica e era comum na época se ver os vagões estacionados ali, carregados de madeira bruta. Quando eu entrei na firma em 1966 o trem de funcionários foi desativado em virtude da implantação de transporte rodoviário - a empresa tinha uma pequena frota de onibus e dois "papa-filas" com cavalos da FNM. Era um trem exclusivo para a Singer, e tinha de seis a oito carros. Durante os anos de 70 e 80 alguns colegas de firma andavam comigo pela propriedade da fábrica e cheguei a ir até a estação. Na verdade era menor que a de Sete Quedas, mas o mesmo tipo de prédio. Não estive mais lá depois disso, mas soube por pessoal da fábrica que está demolida. De qualquer forma, o acesso mais fácil ao local ainda é pelo terreno da fábrica". (Carlos F. Paula, 01/2002, com algumas correções feitas por Francisco Laite)
"Nos anos 1960 viajei muito pela Sorocabana (Campinas/Itaici/Elias Fausto) com meus avós maternos. Era um passeio muito interessante, a locomotiva Cooper Bessemer puxava alguns carros de passageiros, não mais que quatro, mais o bagageiro. O trem seguia seu caminho tortuoso e chegava a Itaici. Em Itaici, desciamos do trem e esperávamos a Maria-Fumaça que vinha de Jundiaí/SP com destino a São Pedro, esta era a parte especial, a ansiedade e alegria em ver a locomotiva a vapor chegando, para mim, quando criança se me pedissem para escolher em qual subir, é claro que eu escolheria a Maria-Fumaça! O chefe da Estação com seu quépe bordô corria desesperado! Chegando o trem de Jundiaí nos preparávamos para a partida e seguiamos para Elias Fausto e o trem seguia seu destino para Piracicaba e São Pedro. O trem que nos trouxera de Campinas/SP seguia para Mayrink, fazendo a conexão com a linha tronco eletrificada, São Paulo-Sorocaba e etc. Itaici, em alguns momentos do dia, era um estação movimentadíssima. Faz algum tempo passei por Itaici, e praticamente desconheci o lugar, nada parecido com aquela pequena estação movimentada da Sorocabana. Outro ponto que me recordo é o fato de viajarem muitos religiosos católicos, padres e freiras, pois na região havia o Mosteiro de Itaici e se não me engano o convento em Itu" (Luiz Souza, Campinas, 05/2006).
"Sempre que passava em Mayrink, via a composição composta por três carros de madeira (1 BG, 1 de 2.ª e 1 de 1.ª) estacionada na gaveta. Era o trem que ia para Campinas pela antiga linha que passava por Dona Catarina" (Carlos Roberto de Almeida, 2008).