E. F. Noroeste do Brasil (São Paulo) |
E. F. Noroeste
do Brasil (1906-1993) Contato
com o autor |
Trem
de passageiros operado pela E. F. Bauru-Itapura, do lado paulista
e, do lado do Mato Grosso, pela E. F. Itapura-Corumbá, até
a união destas sob o nome de E. F. Noroeste do Brasil, em 1918.
A travessia do rio Paraná, até outubro de 1926, era
feita por barco, para os passageiros: desembarcavam de um lado do
rio e pegavam outro trem do outro. Apenas trens cargueiros seguiam
por balsa. Com a ponte, construção de variantes em diversos
trechos e empedramento da estrada, a linha torna-se bem melhor após
os anos 1950 possibilitando o tráfego de locomotivas diesel-elétricas
e mais conforto para os passageiros numa viagem bastante longa. Até
os anos 1940, no entanto, as viagens estavam longe de ser um paraíso,
com excesso de curvas e trilhos sem lastro de pedras, com muita poeira
formada pelo movimento do trem, com trilhos em contato direto com
a terra do solo. |
Percurso:
Bauru,
SP - Porto Esperança, MS (em 1953 a linha chegou até
Corumbá). |
Viajar
de trem pela Noroeste nos seus primórdios, e mesmo até
os anos 1940, não era fácil: era uma aventura. Os relatos
a seguir, extraídos do livro "Uma ferrovia entre dois
mundos", de Paulo Roberto Cimó Queiroz (EDUSC/UFMS,
2004), dão uma idéia do que era essa aventura. Em novembro
de 1915, um viajante afirmava que o comboio em movimento "fazia
levantar uma nuvem de poeira fina que invadia o vagão, sufocando
os passageiros e tingindo as suas roupas de marrom. Um martírio".
Outro lembra que "O comboio chacoalhava, havia poeira e o
problema dos passageiros era proteger a pele e a roupa das fagulhas
da Maria Fumaça". Em 1927, "torna-se intolerável
a viagem (de Araçatuba para a frente - ainda pelo trecho velho,
de Lussanvira). Carros fechados, por causa do pó. O ar não
penetra e o calor mata. A poeira entra e enterra. É difícil
respirar. De vez em quando é de mister desobstruir a fossas
nasais. O que sai no lenço parece sangue. O mal-estar é
desesperador. O ventre já não cabe mais refrigerantes,
mas a garganta ressequida exige-os. Almoça-se e janta-se no
próprio trem. Servido um prato, engula-se no menor número
de vezes possível de garfadas, antes que o cubram camadas densas
de pó, presume-se que se vareja o Saara". Os viajantes
que se destinavam a Corumbá detinham-se um ou dois dias em
Campo Grande, porque "não há vapor diário
a partir de Porto Esperança, onde a espera (apesar do nome)
seria insuportável". Na viagem ao Porto Esperança,
mais tormentos: "se o trem para um bocado, invadem os carros
nuvens de mosquitos esfaimados, que alvoroçam e irritam os
passageiros. Bate-se com os pés, braceja-se, tudo inutilmente:
quando o comboio de novo parte, todos os rostos vão pintalgados
e raro é o cano de meia que não se haja dilacerado pelo
coçar desesperador das pernas". Em 1935, Claude Levi-Strauss
efetuava observações semelhantes sobre a "exaustiva
viagem" de São Paulo a Porto Esperança, pelo
"noturno" da Noroeste: "ao todo, três dias
de viagem num trem movido a lenha, andando em marcha lenta. Os vagões
também eram de madeira e relativamente mal-vedados; ao acordarmos,
tínhamos o rosto coberto por uma película de barro endurecido,
formada pela fina poeira vermelha de sertão que se insinuava
em cada dobra e em cada poro". |
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