Juiz de Fora-São Geraldo
(Minas Gerais)

 

Leopoldina
(1888-1972)

Bitola: métrica.


Acima, a estação de Juiz de Fora-Leopoldina (2003), ponto inicial do trem (Foto Jorge A. Ferreira). Abaixo, a de Furtado de Campos, em 1970, onde havia o entroncamento de linhas até 1972 (Foto Revista REFESA, 1970, acervo J. H. Buzelin)



Acima, a estação de São Geraldo, ponto final do trem, já desativada, em 2002. (Foto de autor não identificado). .

Veja também:
Linha de Caratinga
Ramal de Juiz de Fora

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Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

Este trem de passageiros da Leopoldina corria na linha do antigo ramal de Juiz de Fora, seguindo pela linha de Caratinga até São Geraldo, região de Ubá. Existem registros desse trem, que parava sempre por 20 minutos em Furtado de Campos, onde se entroncavam as linhas, entre 1932 e 1942 e depois, no final dos anos 1950, já como trem misto. Entre 1942 e c.1955, não havia nenhum trem específico que fizesse essa linha (nem havia outro que encerrasse o trajeto em São Geraldo), e a partir dos anos 1960, havia uma espera muito grande em Furtado para trens que em certas épocas tinham como destino final em São Geraldo, sempre como trens mistos.

Acima, à esquerda, os horários em 1932 (Guia Levi, fevereiro de 1932). À direita, Percurso do trem Juiz de Fora-São Geraldo, passando pelo ramal de Juiz de Fora e pela linha de Caratinga. (Guia Levi, 1942)

Percurso: Juiz de Fora - São Geraldo.
Origem da linha:
O ramal de Juiz de Fora foi o resultado de uma junção da linha da União Mineira, aberta nesse trecho em 1882, com a E. F. Juiz de Fora ao Piau, aberta em 1884, quando a Leopoldina adquiriu as duas linhas em 1888. O trem que percorria o ramal passava, dependendo das épocas também pela linha de Caratinga, no trecho Furtado de Campos-São Geraldo, este, aberto entre 1880 e 1883. A extinção da linha de passageiros no ramal ocorreu em 01/1972.


Acima: onde havia trilhos, apenas existes hoje estradas precárias de terra. A linha de Furtado de Campos a São João Nepomuceno passava da esquerda para a direita; onde estão o poste e o automóvel, entroncava a linha vinda de Juiz de Fora, que está na posição do fotógrafo (Foto de Ricardo Quintero de Mattos, maio 2008).
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Comentários: Como já visto acima, o trem que ligava Juiz de Fora a São Geraldo existiu em épocas específicas e alguns de seus trechos tinham nomes, dependendo da época e do local em que as pessoas estavam, do Trem das Quatro, nº 128, que ligava Juiz de Fora ao Piau e do 129, Trem das Dez, ligando Juiz de Fora a Furtado de Campos. Havia outros horários que corriam no ramal e davam correspondência geralmente com os trens que desciam para o Rio de Janeiro, sendo que, para seguir para São Geraldo e Ponte Nova, havia que se esperar mais tempo. A exceção era o trem aqui citado, no qual não era necessária a baldeação em Furtado de Campos, embora houvesse ali uma espera de 20 minutos. Duas descrições da viagem pelo trecho do ramal Juiz de Fora-Furtado de Campos vêm a seguir: "Meu pai foi chefe de estação na antiga Leopoldina na cidade de São Geraldo, onde a ferrovia tinha um grande movimento, na época ponto de almoço e jantar dos expressos e noturnos do Rio/interior de Minas. Havia também um expressinho Juiz de Fora/São Geraldo todos os dias, saia às 4:30 de São Geraldo e voltava à noite." (Elias Torrent, Belo Horizonte)" - "Viajar pela Leopoldina de Juiz de Fora a Rio Novo era um negócio assim meio pitoresco, havia uma diferença gritante entre os trens da Central, o Vera Cruz, e as Marias-Fumaças da Leopoldina. Um transporte desconfortável, lento, o carvão da fumaça. Um misto de desprezo e de sedução poética. Você conhece o trenzinho caipira de Villa Lobos. Era exatamente aquilo. A pequena locomotiva era muito abusada. Pequenina, velha, mas fazia um barulho tremendo ao chegar e sair de Juiz de Fora e Rio Novo, soltando densos rolos de fumaça e vapor, apitando sem parar aquele
Acima, um desastre com o trem Juiz de Fora-São Geraldo, 1932, numa ponte entre São Geraldo e Visconde do Rio Branco. Aparentemente, nessa época ainda não eram mistos, batendo com o que os horários desse ano, até 1941, apontavam, chamando-o de "S41". (Foto da revista Noite Ilustrada, acervo Ralph M. Giesbrecht)
silvo estridente, tomando impulso para subir a serra logo adiante, penosamente. No percurso, gente muito simples entrava e saía dos vagões. A paisagem era magnífica, a Zona da Mata de Minas Gerais, com suas vacas leiteiras e seus pomares, as bananeiras quase entrando pelas janelas, de tão próximas da linha. Não havia aquele distanciamento prudente entre a ferrovia e a paisagem que se vê hoje nos trens
Acima, à esquerda, outro aspecto do desastre com o trem Juiz de Fora-São Geraldo, 1932 (Foto da revista Noite Ilustrada, acervo Ralph M. Giesbrecht). À direita, o mesmo local com a ponte, hoje, abandonada (Foto Elias Torrent em 2005).
modernos de alta velocidade. O que mais me marcava era a promiscuidade entre o trenzinho e a paisagem, quer seja a geografia humana - a gente via o rosto das pessoas, suas expressões de alegria e curiosidade quando o trem passava, somando-se aos outros rufiões das zonas boêmias, ou então aos trancos e solavancos dos carros-de-boi, numa identificação poética e natural com o ambiente físico que interligava, dando vazão aos latões de leite, queijos e lingüiças trocados entre os povoados e a orgulhosa cidade grande. No início dos anos noventa percorri a pé um pequeno trecho do leito da estrada, já desprovido de trilhos, entregue aos carrapatos , invadido pelas chácaras e ruelas de periferia. Havia silêncio e melancolia, contrastantes com o burburinho de antigamente, uma viuvez inconsolável dos magníficos panoramas. Evidentemente hoje se chega muitíssimo mais rápido a Rio Novo. Em compensação, perdeu-se um bom pedaço da magia necessária à existência. Ficou-me uma saudade muito grande, uma sensação de perda, de Éden desperdiçado. Eu era feliz e não sabia." (Paulo Couto Teixeira, Brasilia, DF, 01/2004)

Acima, à esquerda, o trem, ainda a vapor, chega à estação de Rio Novo, em 1961. À direita, carro de passageiros do último trem de passageiros a passar pela estação, em 30 de janeiro de 1972 (Acervo Manoel Monachesi). ABAIXO: último trem de Juiz de Fora da Leopoldina (1972) (Foto e.honoreto & otremespresso).