Trem Belo Horizonte-Cruzeiro
(Minas Gerais)

 

RMV (anos 1930)

Bitola: métrica e
0,76 cm



Plataforma da estação de Cruzeiro, em 2000. (Foto Marco Giffoni).

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Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).
Trem direto, assim chamado por fazer um longo percurso parando em pouquíssimas estações, da mesma fora que percorria linhas diferentes da Rede Mineira de Viação, aproveitando-se de linhas das antigas E. F. Oeste de Minas e da E. F. Minas e Rio. O trem, segundo as informações obtidas - poucas, e através de Guias Levi de 1936 e 1938 (em um guia de 1932, este trem não existia) - parava em apenas 4 estações durante o percurso: Divinópolis, Aureliano Mourão, Ribeirão Vermelho e Três Corações, além das duas terminais - Belo Horizonte e Cruzeiro, em São Paulo. Ele se utilizava de pelo menos 3 linhas diferentes: a linha BH-Garças, onde em Divinópolis os passageiros eram obrigados a mudar de trem, pois, dali até Ribeirão Vermelho, a linha a ser utilizada era a de 76 cm, a célebre "bitolinha" e linha original da extinta EFOM (essa linha foi anos mais tarde - 1966 - substituída por uma linha métrica que funciona até hoje), a linha do ramal Lavras-Três Corações e a linha da extinta Minas e Rio. Aliás, isso mostra que esse trem não era tão "direto" assim: a mudança de composição tomava tempo e era sempre um transtorno. No caso, dois transtornos, pois a baldeação ocorria em Divinópolis e também em Ribeirão Vermelho, onde o trem voltava a correr na bitola métrica. Pelo horário ao lado, de um Guia Levi de 1938, tinha de ser feita em 10 minutos na ida e 16 minutos na volta nas 2 estações. Em 1940, este trem não existia mais. Percurso: Belo Horizonte, MG, a Cruzeiro, SP, passando por diversas linhas da antiga Minas-Rio e da EFOM, no caso a da "bitolinha" de 0,76 cm.
O horário acima não dá indicação se os trens eram diários ou se corriam três vezes por semana, como a outros trens "diretos" da RMV nessa época. O horário da volta em Divinópolis está errado: o trem chegava às 6:14 mas saía às 6:30, 16 minutos depois.

Este trem foi provavelmente uma tentativa - frustrada, pois, como outros trens "diretos" de longo percurso, o trem não durou muitos anos - de se criar uma linha rápida da RMV para o Vale do Paraíba e para as cidades do atual "Circuito das Águas", em cidades como São Lourenço e Caxambu - mesmo assim, se isto for verdade, os passageiros tinham de descer em Três Corações. O trem não tem indicação, pelo guia, de que tivesse carro-dormitório (como possuíam os outros diretos da época). Trens diretos não existiram muito no Brasil: pode-se considerar esta linha uma linha rara (informações baseadas em Guias Levi dos anos de 1932, 1936, 1938 e 1940). Porém, há comentários que mostram que a situação pode ter sido um pouco diferente: "Acredito que, com relação aos trens de longo percurso da RMV, não me parece ter sido possível que eles parassem em apenas três ou quatro estações durante o percurso. Por exemplo, entre BH e Divinópolis, provavelmente havia a parada em Itaúna; o mesmo deveria ocorrer entre Ribeirão Vermelho e Três Corações, com parada em Lavras. Enfim, acho que o Guia Levy, fonte de consulta, restringiu as informações das paradas, talvez por se tratarem de linhas muito secundárias, fora do foco do Guia ou talvez por pura falta de informação. Não pode ser típico que os trens da RMV fizessem percursos assim tão diretos, suprimindo paradas em cidades de porte – nem a Paulista, a soberana Paulista, tinha percursos tão diretos com os seus famosos “Trens Azuis”. Também não havia condições técnicas, culturais, políticas, enfim, que possibilitassem percursos tão longos com pouquíssimas paradas. Acho que o Guia Levy literalmente suprimiu as informações das demais paradas, indicando apenas as paradas onde ocorriam troca de composições, ‘baldeações’, etc. Quanto aos carros dormitório, acredito que as informações procedem. Eram conectados para utilização apenas nos períodos de percurso noturno. Na época, os usuários os utilizavam somente para realmente dormir, preferindo permanecer nos carros de primeira classe nas demais horas da viagem para sociabilizar (meu avô fazia o mesmo em suas viagens de trem ... dizia o português, “a cabine eu só utilizo para dormir” ... nos demais horários da viagem, “permaneço no carro de primeira, no restaurante ou, quando havia, no carro salão” - o pullman). De qualquer forma, são apenas comentários muito mais intuitivos do que fundamentados em dados reais" (Elly R Oliveira Jr., 02/2007).