Trem da E. F. de Ilhéus
(Bahia)

 

E. F. Ilhéus-Conquista (1911-1950)
E. F. Ilhéus (1950-1964)

Bitola: métrica


ACIMA: Ponte de Campinho, por onde passavam os trens da ferrovia. A foto é de 2005, quando a ponte e a ferrovia já estavam desativadas havia mais de quarenta anos (Foto Manoel U. Tenório).
ACIMA: mapa do Estado da Bahia com as linhas existentes em 1952. Em vermelho, as linhas da E. F. de Ilhéus (Acervo Ralph M. Giesbrecht). ABAIXO: Horários dos trens de passageiros da ferrovia, pelo Guia Levi de fevereiro de 1932.
ABAIXO: As mesmas linhas de 1932 existiam em 1962: a única diferença é que o trem, agora, chegava até Itajuípe, já desde 1934. Era o fim da vida da ferrovia: dois anos depois, ela já não existiria mais. Os trens eram todos mistos, como os eram em 1932; algumas estações mudaram de nome (Guia Levi, setembro de 1962).

Veja também:

Estações da E. F. de Ilheus

Índice

Contato com o autor

Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

São muito difíceis as referências ao trem de passageiros que fazia a linha entre as cidades de Ilhéus, Itabuna, Poiri e Itajuípe, da E. F. de Ilhéus a Conquista, mais tarde apenas E. F. de Ilhéus. Começou a circular em 1911 e até 1934, quando ocorreu a última expansão das linhas, foi aumentando o percurso gradativamente. Tudo indica que o último trem da linha circulou em 1964. Hoje nada
mais existe dessa linha a não ser algumas das antigas estações.
O trem levava cerca de 2 horas e 45 minutos para fazer o percurso entre Ilhéus e Itabuna, considerada a linha-tronco da ferrovia.

Percurso: Ilhéus a Itabuna, Rio do Braço a Poiri e Rio do Braço a Itajuípe. Origem da linha: As linhas da ferrovia foram entregues ao tráfego ferroviário aos poucos. O primeiro trecho foi aberto em 1911 e o último, entre Sequeira do Espinho e Itajuípe, no ramal de Itajuípe, em 1934.

ACIMA (à esquerda): Bilhete da E. F. de Ilhéus, de por volta de 1960. (À direita): Alegria nos trens da E. F. Ilheus, provavelmente anos 1940 (Autor desconhecido).


ACIMA: Estação de Ilhéus, por volta de 1958. À direita, o porto. Junto à estação, um trem de passageiros espera para partir (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume VI, 1958).
Em 1911 foi aberto ao tráfego o trecho Ilhéus-Rio do Braço, em tráfego provisório devido à demora com que avançavam as obras da ferrovia. Quatro anos depois, com a linha-tronco e parte dos ramais já em operação, a ferrovia já transportava mais de 100 mil passageiros por ano. em carros de primeira e de segunda classe. Foram em 1915 622 trens de passageiros de Ilhéus a Itabuna e igual número de Itabuna a Sequeiro do Espinho e a Agua Preta (Uruçuca), "sendo a composição desses trens, de seis veículos (carros) para o primeiro e de quatro para os que seguiam para os ramais. Correram além desses 88 trens especiais de passageiros nesse ano. A ferrovia dava lucro operacional desde 1913.

Porém, 37 anos mais tarde, em 1950, a situação da ferrovia, quando foi resgatada dos ingleses para a União, era horrorosa: a descrição dos problemas nos relatórios desse ano, com falta de peças, falta de condições de trabalho e outros era desesperadora, causada pela falta de verbas e prejuízos constantes. O edifício da estação Central (estação de Ilhéus) "está encravado no centro do pátio. Não possui plataforma para embarque ou desembarque de passageiros, havendo somente um passeio de cimento, com 5 cm de altura". Esta situação de embarque para os passageiros não deve ter sido alterada desde a abertura da ferrovia, trinta e nove anos antes: a condição de asseio e de manutenção dos trens e da estação certamente sim, e, desta forma, a falta de plataforma certamente incomodava mais aos usuários. A ferrovia possuía em 1950, época da passagem da ferrovia da mão dos ingleses para o Governo, oito locomotivas inglesas em péssimo estado: as de número # 4, 5, 6, 12, 13, 14, 15 e 16, todas Ten-Wheel 4-6-0. Também tinha 3 composições de carros de passageiros, sendo uma em Itabuna, para para fazer os trens Itabuna-Itajuípe, e duas em Ilhéus, para atender aos trens Ilhéus-Itabuna, Ilhéus-Itajuípe e Ilhéus-Poiri. Cada composição tinha um breque de bagagem, um carro de segunda e dois de primeira. Os trens eram, no entanto, todos mistos (ou seja: carregavam cargas também). Isto pode ser comprovado nos Guias de 1932 e 1962, mostrados ao lado. Estavam então em péssima situação. A cobertura era de ruberoid, apresentando goteiras a ponto de os passageiros. por ocasião das chuvas, abrigarem-se sob guarda-chuvas. Todos foram reparados em seguida. Eram todos carros de madeira. Pediu-se então à Mafersa para construir seis carros metálicos de primeira classe, ficando os de madeira para servirem como de segunda. A iluminação dos carros era feita a carbureto e as instalações já estavam estragadas; o farol e a cabina da locomotiva também eram iluminadas dessa maneira, com um foco insignificante que ause impedia o tráfego pela noite; por falta de visão dos maquinistas, fazendo com que fosse uma temeridade viajar à noite pela ferrovia. Em 1951, foi finalmente instalada a iluminação elétrica nos trens. Os carros da Mafersa foram projetados com iluminação tipo Stone, uma para cada carro. Logo em seguida conseguiu-se para a estrada duas automotrizes tipo IRFA, com capacidade de 52 passageiros

ACIMA: Automotriz IRFA. Não se sabe se trafegou em caráter definitivo nas linhas (Relatório da E. F. Ilheus, 1949-51). ABAIXO:
Mais uma foto da IRFA (Autor desconhecido).

cada uma. Ambas apresentaram problemas nas viagens de experiência e foram devolvidas para reparos. Foram substituídos os velhos trilhos por outros de 32 kg/metro; a estrada não era empedrada, o que causava incômodos nas viagens. Não se sabe se os carros Mafersa foram realmente entregues, ou se as automotrizes foram devolvidas sem defeitos e chegaram a trafegar pelas linhas. "As automotrizes realmente chegaram e rodaram, viajei muito nelas, elas faziam na E. F. de Ilhéus as linhas suburbanas", afirma Paulo Miled (novembro de 2008).

ACIMA: Trem de passageiros chegando a Ilhéus em agosto de 1955. Notar que os carros continuavam sendo de madeira, o que indica que, pelo menos até essa época, nenhum carro MAFERSA havia chegado (Autor desconhecido).