E. F. Palmares a Osório
(Rio Grande do Sul)

 

E. F. Palmares a Osório
(1921-1960)

Bitola: 60 centímetros.


ACIMA: a estação ferroviária de Conceição do Arroyo, também chamada de Urbana (ou seja, a que ficava na área urbana, pois as outras estavam na região rural do município), em foto possivelmente dos anos 1920 (Acervo Carlos Adib). ABAIXO: a linha da ferrovia, que partia de Lacustre (próximo a Osório, ao norte desta) e descia até Palmares do Sul, na Lagoa dos Patos. No mapa, cortado, aparece a palavra "Sul", de Palmares do Sul (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. X, 1959).



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Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

A estrada de Ferro Palmares a Conceição do Arroio (depois Palmares a Osório) foi construída em bitola de 60 cm, usando material usado de ferrovias inglesas de trincheiras da 1ª Guerra Mundial. Foi aberta em 15/11/1921 e inicialmente usava locos 4-6-0T da Hunslet, e aparentemente no final de sua vida útil teria também utilizado locomotivas a diesel, talvez do tipo Simplex. Sua principal função era fornecer acesso á uma conexão em Palmares do Sul com os barcos vindos de Porto Alegre pela Lagoa dos Patos e dali subir até a região dos lagos menores próximos à zona central do município de Osório. Na época a ferrovia corria toda neste município, hoje, tanto Palmares do Sul quanto outros centros são municípios autônomos. A ferrovia foi desativada no início dos anos 1960.

Percurso: Palmares do Sul - Lacustre
Origem das linhas:
construídas em 1921 pelo Governo do
Estado do Rio Grande do Sul.

Estado atual: Da ferrovia nada mais existe; porém, dois
carros e uma das máquinas estão preservados no parque
temático Pampa Safari, no municipio de Gravataí, próximo a
Porto Alegre.


(Fontes para a página: Nicholas Burmann; Guias Levi, 1940-62;
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros; Atila do Amaral,
"Primórdios do Desenvolvimento do Transporte Ferroviário
no Rio Grande do Sul")

Os guias de horários mostram cinco estações: Palmares do Sul, à beira da Lagoa dos Patos, Rancho Novo (ou Rancho Velho?), Passinhos, Osório (também
chamada de "estação Urbana") e Lacustre, esta junto aos lagos do norte de Osório. "Os carros da foto foram construídos para a EFPO (nota: quando a
cidade de Conceição do Arroio mudou de nome para Osório, nos anos 1940, a ferrovia passou a se chamar Palmares-Osório
) pela empresa Trajano de
Medeiros e Cia., no Rio de Janeiro. Os vagões podem ser reformas de vagões-ambulância ex-WDLR. (nota: WDLR = War Department Light Railways), se
bem que isto não é visível nem evidente na foto. Quanto às locomotivas diesel, não tenho evidência sobre o fato, apenas li isso em um livro. Locomotivas
"Simplex" talvez? Quanto ao traçado, a linha puxava mais para bonde a vapor do que ferrovia" (Nicholas Burmann, 11/2005).


ACIMA (esquerda): O trem parte para Palmares (Foto Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vols. X e XXXIII, 1959). (direita): Horários da ferrovia em 1941, incluindo os vapores de conexão (Guia Levi,
maio de 1941).

Em 1941, havia um trem às 4as feiras, um auto de linha às sextas e um trem aos sábados. Todos tinham conexão com barcos vindos de Porto Alegre ou dos lagos do norte. Já no final dos anos 1950 havia mais trens. No início de 1960, a ferrovia parou, quando, segundo Carl Heinz Hahmann, já tinha função apenas turística. Dela nada sobrou.

Do Blog Almanaque Gaúcho, 14/7/2015: No início da década de 1960, um trenzinho ainda ligava as cidades de Osório e Palmares. Desenvolvendo apenas 20 km/h, fazia o percurso de 55 quilômetros em seis longas horas, com algumas paradas. Mas essas eram as últimas vezes em que a velha locomotiva 203 percorreria o trajeto levando alguma carga e raros passageiros, como registrou o repórter Joaquim da Fonseca, numa reportagem para a Revista do Globo. A velha ferrovia, inaugurada em 1918, pelo governador Borges de Medeiros, que nunca esteve lá, estava sendo substituída por uma nova rodovia. Um dos maiores atingidos pela decisão de desativar a linha, que dava prejuízo ao Estado, era o maquinista Marcelino Freitas, um dos primeiros a pilotar aquela maria-fumaça. Além de pioneiro, Marcelino era também herói, reconhecido pela população que utilizava aquele meio de transporte. Em 1932, uma fagulha da locomotiva provocou um incêndio num dos vagões de combustível que faziam parte do comboio. Isso foi na estação de Passinhos. Com grande "presença de espírito e coragem", o maquinista mandou que todos os passageiros desembarcassem do trem e levou a composição em chamas para longe da estação, onde desengatou o vagão sinistrado, salvando vidas. "Isso foi na época da revolução", revelaria, orgulhoso, o funcionário da Rede Ferroviária. "Nunca trabalhamos tanto na vida, como naqueles dias." O trem havia sido requisitado pelo governo para o transporte de tropas e alimentos. "Naquela época, o trem andava mais rápido, fazia 50 km/h." O repórter encerra o texto lembrando que os veranistas não mais encontrarão o "velho trenzinho de Osório" para seus passeios de férias. A História estava, definitivamente, saindo dos trilhos.

ACIMA: Interior do trem Palmares a Osório, sem data - Blog Almanaque Gaúcho