Trem do Ramal de Itararé
(São Paulo)

 

E. F. Sorocabana / Fepasa (1909-1979)

Bitola: métrica



Acima, a estação de Sorocaba, em 1998, de onde o trem partia para Itararé. Abaixo, a estação de Iperó,em 1998, já fechada e largada, onde o trem deixava o tronco da antiga Sorocabana para entrar no ramal de Itararé (fotos Ralph M. Giesbrecht).


Acima, a estação de Itararé, em 1998, já na época sem trilhos, estação terminal do ramal. Na verdade, era também a inicial da RVPSC, cujos trens partima dali para Curitiba e Marcelino Ramos (Foto Ralph M. Giesbrecht). Abaixo,
horário dos trens do ramal, em 1976 (Guia Levi, janeiro/1976)


Ruy Silva Santos contesta os horários da página, em fevereiro de 2008: "Observando a sua pagina de horários, notei que a nomenclatura dos trens não confere, ou seja: para o ramal de Itararé partindo de Julio Prestes, tínhamos o P1- São Paulo, com locomotiva elétrica, que partia às 7 hs para Itapetininga, onde às 12:25, trocava de locomotiva, rumo a Itararé, agora com o prefixo PS1, chegando nessa cidade por volta de 18:30. A princípio, lógico, no pau de lenha (dito popular na época no meio ferroviário), depois no óleo cru (o famoso "maçarico"). O N3 (noturno), (o N1 partia rumo a Botucatu de Julio Prestes) saía de JP às 17:10 e chegava a Itapetininga às 21:40. Ali aguardava duas locomotivas (tração dupla), sendo duas tipo 200 americanas ou 300 alemãs. Partia às 21:55 rumo a Itararé, onde fazia interligação com a RVPSC. Havia também o P3, de JP a Itapetininga, que partia às 18:10 e servia preferencialmente aos funcionários da Sorocabana lotados nos escritório e que moravam nas cidades ao longo da linha, como São Roque, Mairinque, Sorocaba, Santo Antonio (hoje Iperó), Tatuí e Itapetininga. Meu pai, José Luiz dos Santos, era maquinista de trens de passageiros no ramal de Itararé, depois mestre maquinista, final de carreira para os efetivos do pessoal de máquinas. Como se pode notar, todas as composições partindo de JP tinham números impares, N1, N3; já do interior para a capital eram prefixos pares. Afirmo com convicção, pois nasci ferroviário em 1938 e já em 1953 ingressei nas oficinas de manutenção em Itapetininga, como aprendiz, trabalhando em locomotivas a vapor e diesel-elétricas. Em 1955, assumi como efetivo nas oficinas de Barra Funda, no quadro de eletricista de manutenção de locomotivas elétricas, diesel elétricas, trens unidades e o famoso Ouro Branco de Júlio Prestes a Peruíbe, nos finais de semana e feriados, onde fui efetivo". Há que se lembrar, no entanto, que tudo isto variava de acordo com a época - o que mostra que a verdade sobre horários não é uma só e varia com o tempo... (ver nota abaixo).

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Indice

Nota: As informações contidas nesta página foram coletadas em fontes diversas, mas principalmente por entrevistas e relatórios de pessoas que viveram a época. Portanto é possível que existam informações contraditórias e mesmo errôneas, porém muitas vezes a verdade depende da época em que foi relatada. A ferrovia em seus 150 anos de existência no Brasil se alterava constantemente, o mesmo acontecendo com horários, composições e trajetos (o autor).

Trem de passageiros operado pela Sorocabana e mais tarde pela Fepasa, até a extinção desse trem em 2/1/1979. (O Guia Levi de junho de 1979 ainda acusa esse trem - teria ele tido uma sobrevida ou foi erro de informação?).

Percurso: Sorocaba - Itararé
Origem da linha:

Sorocaba - Iperó - 1883
Iperó - Itapetininga - 1895
Itapetininga - Itararé - 1907/1909

O ramal de Itararé começou a ter trens de passageiros partindo de Sorocaba em 1889, com destino a Tatuí e em 1895, com seu prolongamento, até Itapetininga. Somente em 1909 o ramal chegou a seu destino, que era Itararé, onde se ligaria com os trilhos da E. F. São Paulo-Rio Grande, mais tarde parte da RVPSC. Por esse ramal passavam os trens da Sorocabana, claro, mas também os trens que se ligariam com Curitiba e com o Rio Grande do Sul, além do famoso Trem Internacional, que ligava São Paulo com Montevidéu. O fim dos trens de passageiros no ramal veio no segundo dia de 1979, mas o trecho até Itapeva ainda foi utilizado por outro trem de passageiros que existiu bem mais tarde, entre 1997 e 2001, o Sorocaba-Apiaí. (Ver Bandeirante-Apiaí). Não consegui nenhuma foto de trens trafegando pelo ramal entre o seu início e 1979, infelizmente.

ACIMA (À esquerda): Carros Busch como este devem ter trafegado pelo ramal até os anos 1950 (Foto José Pascon Rocha). (À direita) Chuvas alagaram diversas ferrovias em março de 1962, inclusive o ramal de Itararé (Folha de S. Paulo, 17/3/1962).
Mas sabe-se que, além dos trens normais de passageiros, alguns TUEs Toshiba, nos anos 1960 e 1970 seguiam eventualmente (geralmente em finais de semana, quando havia muita procura de passageiros pelos trens) de Amador Bueno até Itapetininga, ponto final da eletrificação no ramal. "Cansei de ir para Itapetininga nos Toshibas, que eram usados para reforçar a frota normal dos carros de longo percurso, insuficiente para atender a demanda. E olhe que antes de 1972, além dos trens que demandavam Itararé, existia o P3 que saia às 17h00 de Julio Prestes normalmente com 10 ou mais carros até Itapetininga" (Carlos Roberto de Almeida).
Sim, o ramal tinha eletrificação a partir de 1951 até essa

ACIMA: Trens-Unidade Elétricos (TUEs) como o acima passaram pelo ramal entre Iperó e Itapetininga nos anos 1960 e 1970. Nesta foto, o que sobrou deles, já sem pantógrafo, vidros e portas, abandonados em Iperó, no início dos anos 2000 (Foto Ricardo Koracsony). ACIMA (direita): Os trens, já então mistos, pararam em 2 de janeiro de 1979, de acordo com anúncio publicado nos jornais paulistas com a data de 18 de dezembro de 1978.
estação e era ali que as locomotivas eram trocadas de elétricas para vapor e a partir dos anos 1950 para diesel. "Era interessante quando, viajando durante a noite, os trens parados nas estações tinham as rodas examinadas por funcionários com martelos, que usavam lanternas especiais, as quais me chamavam muito a atenção; alguém me disse que isso era para verificar se as rodas não estavam trincadas. Quando os trens chegavam nas estações, sempre sentia um cheiro estranho, que era proveniente das lonas dos freios. Certa feita, em uma viagem noturna, houve um descarrilamento. Meus pais, irmãs e eu, todos crianças, viemos caminhando pelo leito da ferrovia até a estação mais próxima, guiados pelos ferroviários e suas inesquecíveis lanternas. E me recordo também de que quando os trens chegavam nas estações, o maquinista entregava algo para o chefe da estação. Era um objeto circular, com uma barra de metal, o 'staff', que era uma barra de metal que indicava linha livre, e somente saia do equipamento quando a estação seguinte desse a ordem..." (Julio Augusto Toledo Veiga, Piracicaba, SP, 17/08/2002). "Tenho hoje 48 anos e na minha infância, quando morava em Itapeva, íamos de trem, partindo para Itararé. Não queira saber a emoção que era esperar aquela diesel verde apontar lá embaixo e apitando. Meu Deus do céu! Minha mãe apertando minhas mãos... 'Paulo, sai de perto, pelo amor de Deus, filho!' Acho que se ela bobeasse realmente eu pularia na máquina. Quando parava, aquele povo todo descia e nós entrávamos e então sentíamos o cheiro que só o trem possui. A viagem transcorria com minha mãe pedindo 'pelo amor de Deus, sai dessa janela!' Que nada, mãe, tá uma delícia. Parávamos em várias estações, acho que seis, até a chegada em Itararé. Era uma 'senhora' estação aquela. Muita gente, um monte de vagões, coisa de louco. Minha querida avó Helena, uma ucraniana, morava praticamente beirando a linha uns 500 metros à frente, no sentido de quem ia para o Paraná. Morava numa casa de madeira, típica da região. Da varanda ficava vendo a máquina vermelha manobreira. Muitas e muitas vezes, ficava vendo as suas manobras. Havia também os trens de carga e os de passageiros - estes vinham do Sul, á noite, todos com as luzes acesas. Era impressionante o que aquilo representava para nós, ainda mais que meu avô, um polonês tendo sido maquinista, chefe de estação e Rede Ferroviária. Meu pai nasceu em uma casa de dormentes, na beira da linha" (Paulo Javillier Rogoski, Santo André, SP). "Em Itararé, lembro que quando eu era criança aquela estação tinha lustres, mas a energia elétrica era bem fraquinha por lá e a luz que eles produziam era pouca e bem amarelada. Quando a gente ia passar uns dias na fazenda de um amigo, sempre voltávamos no trem da noite, a viagem levava a noite toda e mais um pouco, e aquela luz fraca da hora do embarque ficou na minha memória até hoje como uma feliz lembrança" (Wanderley Duck, 05/2005). "Se me perguntarem o dia exato em que os trens no ramal pararam de circular, não saberia dizer. Foi em algum momento entre 1978 e 1979. O P3 parou em 1977 (O trem que ia para Itararé), mas continuou um misto a partir de Iperó para Itararé. Assim, quando eu ia para Itapetininga, tinha que pegar o PS-1 (nova denominação do sucessor) que já não parava mais em Carapicuíba, mas em Osasco, e descer em Iperó para baldeação. E uma curiosidade: quando comprávamos o bilhete, éramos alertados da possibilidade de não conseguir a baldeação, pois o trem de lá não tinha a obrigação de aguardar baldeio em caso de atraso. O por que dessa orientação? Sei lá! Posso imaginar que era para desestimular mesmo os passageiros" (Carlos Roberto de Almeida, 09/2006).