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VXY Mogiana em MG
Indice de estações
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Contria
Uruguai
Beltrão
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ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: S/D
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E. F. Central do Brasil (1944-1975)
RFFSA (1975-1996)
URUGUAI
Município de Corinto, MG
Ramal de Pirapora - km 891,960 (1960)   MG-3789
  Inauguração: 07.1944
Uso atual: nenhum   com trilhos
Data de construção do prédio atual: 1944
 
HISTORICO DA LINHA: O ramal de Pirapora, que saía da estação de Corinto, chegou em 1910 a Pirapora, às margens do rio São Francisco, mas para curzar o rio através de uma ponte ferroviária, levou 12 anos, quando foi inaugurada a estação de Independência (Buritizeiro) na margem oposta. Nessa época, o trecho fazia parte da Linha do Centro da Central do Brasil. Nos anos 1930, entretanto, com a maior afluência de tráfego na linha para Monte Azul, esta passou a ser parte do tronco e o trecho Corinto-Pirapora passou a ser apenas um ramal. Na mesma época, Buritizeiro foi desativada, junto com a ponte sobre o São Francisco. O ramal nunca passou dali, ao contrário dos planos de 1922, que pretendiam chegar a Belem do Pará. No final dos anos 1970, o tráfego de passageiros foi desativado no trecho. A linha permanece ativa até hoje (2008), pelo menos oficialmente. Ainda há trilhos sobre a ponte do São Francisco...
 
A ESTAÇÃO: "Carlos Maldini, meu avô paterno, teria vindo da Itália. Quando se iniciaram as construções dos frigorificos no Uruguai, houve um grande movimento na pecuária e o comércio de gado sofreu um grande impulso. Carlos Maldini aproveitando-se desta oportunidade fixou-se em Palomas, um distrito de Salto, às margens de uma ferrovia. Através do comercio de gado formou um grande patrimônio na região de Palomas. (...) nossa despedida na "Estación Palomas" (...) embarcamos no trem: papai, mamãe, tia Maria, Marucha, Paraguay, Negro, eu e mais uma empregada. Papai viera ao Brasil. O ministro Manuel Bernardes tinha uma concessão de terras e queria vendê-las na Serra Cabral. Muito sugestionados e influenciados pelas facilidades do ministro realizaram negócio. Trouxeram trens especiais de ovelhas e de gado Hereford que era a raça por eles criada. Seguimos a Salto e de navio a Montevideu. Embarcamos no navío "Sérvulo Dourado" do Lloyd Brasileiro. Era pequeno, pois estávamos en guerra e os grandes não navegavam em 1917. Logo nos pegou uma tremenda tempestade e por 3 dias e 3 noites ficamos ao sabor das ondas. Quando amainou o temporal e conseguimos uma orientação, estávamos a caminho da África. Aportamos enfim em São Francisco, em Santa Catarina. No Rio de Janeiro ficamos 4 meses no Grande Hotel da Lapa. Papai veio para a fazenda, mamãe e tia Maria passavam o dia procurando casa. Papai ia e vinha ao Rio constantemente. Na época de chuvas a vida na Serra se tornava

ACIMA: Na plataforma, a marca da quilometragem e uma data: 12 de jnho de 1943. Difere em um ano da inauguração citada pelo Guia Geral de Estradas de Ferro de 1960, mas será esta a data de inauguração ou apenas da "pedra fundamental" da construção da plataforma e sua cobertura? (Foto Gutierrez L. Coelho, maio de 2008).
insuportável para homens e para animais. As ovelhas foram morrendo, não aclimatadas e perseguidas pelas onças. Os Hereford, do mesmo modo, morriam de tédio, carrapatos, calor, etc. Papai compreendeu que tinha que comprar terras em baixo, em Beltrão e em Augusto de Lima (na época, Francisco Sá). Papai, cansado das viagens constantes, resolveu trazer a familia para Beltrão onde já tinha luz e agua encanada. Em 1922, logo que mudamos do Rio para a fazenda, voltamos ao Uruguai a passeio. Durante sua estadia na fazenda, tia Mulata levou Marucha para fazer tratamento de dentes em Corinto. Ficaram hospedadas no Hotel Comércio que ficava logo abaixo da Estação Ferroviaria. Carlos Maldini, chefe da clan, morrera em 1926. Vovô foi um homem autoritário. Veio como imigrante da Itália e se tornou muito rico. Quando em vida, quis partilhar seus bens, chamou um advogado e sumariamente, a seu bel prazer determinou o que seria de cada um. O advogado ficou tão admirado dessa prepotência que disse que parecia o Czar da Rússia partilhando seu império. Quando começou a campanha de erradicação da malária havia um centro em Corinto. Tinham arranjado um vagão da E.F.C.B para consultório e junto um carro dormitório e salão. O trem fazia ponto nas estações atendendo todos os doentes que apareciam, nem só de malária mas doentes em geral. Andaram turmas dedetizando todas as casas e cafuas da região para erradicar a malária que era famosa. Uma das pragas correntes e mais temidas era: "Que a Febre do Bicudo te persiga". Na região havia grande incidência do mal de Chagas e muitos papudos. Dr. Chagas fez os primeiros estudos da doença naquela região e a E.F.C.B. tinha adaptado em Lassance uma casa para hospital. Nesse tempo éramos muito visitados pelos engenheiros da Estrada de Ferro que eram muito amigos e paravam sempre que passavam em trem especial ou automóvel de linha. Marucha com presentes de ovos conseguiu de um que fizesse uma passarela na ponte do Bicudo que muito nos auxiliou. Os engenheiros da Central muito nos favoreceram, Dr. Luiz Burlamaqui que era diretor sempre passava com sua grande comitiva e demorava horas. Vinham em trem especial: o carro varanda na frente da máquina com toda pompa. Uma vez avisou que chegaria para demorar com umas 50 pessoas. Paraguay logo matava um porco ou uma vaca e preparavamos um grande almoço. O pessoal da Central (EFCB) acabou ficando muito amigo da familia. Assim conseguiram

ACIMA: A casa da fazenda, restaurada em maio de 2008 (Foto Gutierrez L. Coelho, maio de 2008).
que o trem parasse na frente da fazenda para atender o pessoal. Numa das visitas, o Dr. Burlamaqui estava acompanhado pelo Dr. Blair Alvarenga, médico da Central do Brasil em Corinto e irmão de Cícero. Começaram a falar sobre a parada e Dr. Burlamaqui perguntou se ali não era uma parada autorizada. Dr. Blair respondeu que não, mas que deveria ser! O Dr. Burlamaqui ordenou que o trem passasse a fazer ali uma parada obrigatória de 3 minutos. Blair solicitou que se fizesse um "pé-de-estribo" e o engenheiro concordou. Blair disse que mamãe iria sofrer muito com o sol e então o Dr. Burlamaqui mandou que se fizesse uma parada completa, inclusive com telhado e tudo mais. A respeito do nome Dr. Burlamaqui disse que a parada deveria se chamar "Parada Alegre e Feliz" em homenagem ao clima que ali reinava. A parada acabou sendo denominada "Parada Uruguai"! Os passageiros desciam para apanhar mangas e alguns perdiam o trem. Outros perdiam canetas, canivetes, relógios que os camaradas catavam depois da partida
" (Extratos do livro Pequena história de minha vida, de Bertha Corina Maldini Pitanguy). A parada foi inaugurada em 1944, não de acordo com o livro, mas com o Guia Geral de 1960. Faz sentido - esta parte da narrativa estava nos anos 1940. "Como a FCA está reconstruindo o ramal de Pirapora - os trilhos ainda estão lá, felizmente não houve roubos, estão trocando toda a dormentação - visando buscar soja em Pirapora, fomos pra lá neste feriado, o Pedro Paulo Rezende , o Alexandre Almeida e eu. Poeira e carrapatos à vontade, fomos até a Parada Uruguai, hoje restaurada e conservada pela família. A fazenda, ao lado da linha, também foi totalmente reformada pela atual proprietária, Marisa Maldini Penna, herdeira do bisavô que veio do Uruguai. A Marisa, embora se auto-intitule urbanóide, tem aquela hospitalidade tipicamente mineira e transformou nossa visita de casual numa de velhos amigos. Ela tem duas filhas estudando veterinária em Belo Horizonte e espera que ambas dêem continuidade ao processo iniciado há quase um século" (Gutierrez L. Coelho, maio de 2008). Em abril de 2009, a Parada Uruguai, graças aos proprietários da fazenda de mesmo nome, ao fundo na foto, mantém-se bem conservada.
(Fontes: Gunnar Gil, 10/2006; Gutierrez L. Coelho, 2008-9; Bertha Corina Maldini Pitanguy: Pequena história de minha vida; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960)
     

A Parada Uruguai, restaurada, ao lado da linha, junto à fazenda, em maio de 2008. Foto Gutierrez L. Coelho

A parada em 10/4/2009. Foto Gutierrez L. Coelho
     
Atualização: 12.04.2009
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.