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Marcílio Dias
Três Barras
Bugre
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ESTIVE NO LOCAL: SIM
ESTIVE NA ESTAÇÃO: SIM
ÚLTIMA VEZ: 2008
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C. E. F. São Paulo-Rio Grande (1913-1942)
Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (1942-1975)
RFFSA (1975-1996)
TRÊS BARRAS
Município de Três Barras, SC
Linha de S. Francisco - km 314,642 (1936)   SC-0669
Altitude: 765,000 m   Inauguração: 01.04.1913
Uso atual: museu (2008)   com trilhos
Data de abertura do prédio atual: n/d
 
 
HISTORICO DA LINHA: A linha do São Francisco teve o primeiro trecho entregue pela E. F. São Paulo-Rio Grande em 1906, ligando o porto de São Francisco (hoje do Sul) a Joinville. Em 1910, a linha foi prolongada até Hansa (Corupá), em 1913 até Tres Barras, e finalmente em 1917 atinge Porto União da Vitória, de onde deveria continuar até atingir Foa do Iguaçu, Este último trecho jamais foi construído. A linha se entronca com o Tronco Sul em Mafra e com a antiga Itararé-Uruguai em Porto União da Vitória. O último trem de passageiros, na verdade uma litorina diária, passou pelo trecho entre Corupá e São Francisco do Sul em janeiro de 1991. O trem misto que servia à linha já não existia desde 1985. Depois disso, apenas alguns trens a vapor turísticos da ABPF têm percorrido a linha, principalmente na região de Rio Negrinho. O trecho entre Mafra e Porto União esteve durante anos abandonado, tendo sido recuperado durante o ano de 2004, mas continua com o tráfego muito escasso. Já o trecho entre Mafra e São Francisco tem grande movimento de cargueiros da concessionária ALL.

A ESTAÇÃO: A estação de Três Barras foi inaugurada em 1913 e era o ponto de saída dos ramais da Lumber, a maior serraria da América Latina na época, pertencente à Brazil Railways, que administrava as linhas na época.

O trecho em que está hoje a estação esteve abandonado durante anos, mas foi recuperado em 2004 pela ALL - para logo depois ser abandonado novamente.

"Quanto à nossa estação, convivi muito com ela. De 1965 a 1976, meu tio Ioni residiu ali e eu sempre estava lá brincando com meus primos. Mais tarde, de 1979 até 1982, meu pai Jorge, que foi agente da estação, também residiu na estação até se aposentar. Ainda bem que ela foi transformada em museu, pois representa muito para nós e seria uma tristeza se ela fosse demolida" (José Francisco de Souza, Três Barras, SC, 05/2005).

"O Museu Municipal de Três Barras está instalado no prédio da antiga estação de trem da cidade. O último trem que passou por ali foi em 1997. Os trilhos foram arrancados. Um capim escasso e amarelado cobre o caminho das quatro linhas férreas. O prédio em madeira abriga fotografias e objetos de décadas passadas, principalmente dos tempos da Lumber & Colonization Company. O nome vem dos três rios que a cercam: Negro, São João e Canoinhas. Originalmente a cidade pertencia ao Paraná, mas o acordo de limites com Santa Catarina fê-la ser incorporada a esta último Estado. A história de Três Barras está ligada ao término da construção da estrada de ferro pela Brazil Railway, por volta de 1910, onde milhares de trabalhadores foram abandonados e se apossaram de terras da região. Para esta gente, a chegada da Lumber significou a
expulsão: em troca da construção da estrada de ferro a empresa ganhou o direito de explorar 15 quilômetros de cada lado da ferrovia. Começaria a operar nos rincões de Santa Catarina a maior serraria da América do Sul, que exploraria a madeira da região por quase três décadas. Três Barras, nessa época, tinha status de capital: cinemas, banco, restaurantes típicos, fábricas de cigarro e de gelo, hotéis, cassino e clubes. Tudo de e para a Lumber" (Diário Catarinense, 27/07/2002).

"Ioni Cyriaco de Souza foi telegrafista e chefe de estação em Mafra e Três Barras. Morou 21 anos nesta última estação, privilégio para quem ajudava a construir a história da ferrovia no sul do Brasil. Pelos trilhos foi escoada toda a produção de madeira. Entre 1945 e 1950, lembra, a Serraria Lumber tinha um trem especial para recolher vagões distribuídos ao longo do trecho. Normalmente, a carga seguia para o porto de São Francisco, e todo o movimento da cidade era
patrocinado pela Lumber. Os empregados recebiam vales, a "moeda" da cidade. Quando o trem de passageiros chegava, não havia lugar na estação, onde o povo também se apertava para assistir tragédias.

Certa vez, recorda Souza, um manobreiro estava entre os vagões e na hora de fazer o engate na curva o vagào veio por cima dele. "Quando conseguimos avisar o maquinista que era para puxar para a frente, o colega estava morto". Outro dia deixaram a chave virada ao contrário. O trem que deveria seguir direto para a estação, entrou numa linha onde havia vagões. A locomotiva a vapor era alimentada por lenha, e o foguista vinha agarrado próximo da fornalha, quando peças se deslocaram e o rapaz foi espremido. Centenas de litros de água fervendo caíram sobre ele. 'Lembro até hoje do José, que morreu. Por uma semana eu senti o cheiro de carne cozida'. Havia muito trabalho na estação de Três Barras. Em média passavam oito, nove trens de carga por dia, além dos de passageiros
" (Diário Catarinense, 27/07/2002).



ACIMA: uma das linhas que saía (à direita) para a serraria Lumber. Havia quilômetros e quilômetros de trilhos que se estendiam em diversos ramais dentro dos terrenos da Lumber. Na foto, à esquerda, a estação de Três Barras, e o trem ao lado da estação está sendo preparado para sair, provavelmente para o porto; note que eles faziam uma espécie de "telhado" com madeiras de segunda, sobre a carga. Toda a área ao fundo era ocupada pelo depósito de tábuas, era uma área aproximada, pela planta da Lumber, de 300 por 500 m. A locomotiva à direita é a "fireless" da Lumber (Hannomag), atualmente em exposição na área onde hoje é o exército, praticamente na mesma área onde era a serraria da Lumber; esta ficava um pouco mais à direita (Acervo Joeli Laba, foto de cerca de 1920). ABAIXO: Em 2007, trens são extremamente raros numa linha que já amargou o abandono total; linhas de desvio se mantém, mas a da Lumber já foi erradicada há muito tempo (Foto Nilson Rodrigues, junho de 2007).


ACIMA: Fim da linha? Não, mas parece. Na verdade, a linha principal segue à esquerda do barraco, originalmente utilizado para se guardar autos de linha e vagonetes. A estação está um pouco antes, à direita (Foto Ralph M. Giesbrecht, junho de 2008). ABAIXO: E nevou em Três Barras em 22 de julho de 2013! (Foto Aecio R. Budant).

(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; Vitor Hugo Langaro; Fernando Picarelli; Nilson Rodrigues; Joeli Laba; José Francisco de Souza; Diário Catarinenses, 2002; RVPSC: Relatórios anuais, 1920-60; RVPSC: Horário de Trens de Passageiros e Cargas, 1936; IBGE, 1960)

     

Estação de Três Barras, em 07/2002. Foto Fernando Picarelli

A estação em 05/2004. Foto Nilson Rodrigues

A estação em junho de 2008. Foto Ralph M. Giesbrecht

A estação em 13/11/2016. Foto Vitor Hugo Langaro
   
     
     
Atualização: 30.07.2017
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.