A ESTAÇÃO: A estação de Franca foi
inaugurada em 1887, sendo esta, na época, um dos objetivos mais
importantes a ser atingidos pela ferrovia. Depois da chegada da
linha a Casa Branca, em 1878, é que a Mogiana passou a avaliar
a alternativa de seguir em linha reta para o norte, chegando a essa
cidade, mas, graças à expansão muito rápida da nova região de Ribeirão
Preto, a companhia decidiu-se por mover a linha para oeste,
e somente depois de cruzar o rio Pardo, aí sim, voltar para
nordeste para atingir a velha Franca do Imperador.
O primeiro trem de passageiros chegou antes da inauguração oficial, em 21 de fevereiro (ver caixas abaixo de 1887) - provavelmente um teste de linha.
A
inauguração da estação, depois de ter sido marcada para o dia 26 de março e não acontecido, ocorreu 10 dias depois, em 5 de abril (ver caixas de 1887 abaixo). Neste dia, uma locomotiva
a vapor com um carro de passageiros e alguns vagões de lastro
inauguraram o prédio e a linha.
Há ainda fontes que citam a data de 11 de abril como sendo a de inauguração.
À sua volta, na época da inauguração, existiam nasa proximidades apenas duas casas, num enorme deserto: a de
Antonio Nicácio e a de Simão Caleiro.
Em 14 de julho de 1904, chegou a esta estação o comboio da Mogiana, proveniente de São Paulo com baldeação em Campinas, como parte da grande viagem de Cornelio Schmidt com a finalidade de parte das "terras desconhecidas e povoada por índios" do estado de São Paulo", conforme escrito a seguir: "Chegamos à Franca às 08h46 da noite. Seguimos para o Hotel Cardoni. Cidade sobre o espigão entre os córregos Cubatão e Bagres. Está em construção a uma Matriz, a atual (é) velha e feia" (Anais do Museu Paulista, tomo XV, São Paulo, 1961 - Cornélio Schmidt: Diário de uma viagem pelo sertão de São Paulo, realizada em 1904, p. 354).
Em 15 de julho, da estação de Faveiro torna-se a entrar nos cerrados, mas de areia e algumas manchas de café ruim e maltratado e assim continua-se até a estação de Sucuri, tendo ao lado da estrada alguns espigões mais elevados de terra boa e com café" (Anais do Museu Paulista, tomo XV, São Paulo, 1961 - Cornélio Schmidt: Diário de uma viagem pelo sertão de São Paulo, realizada em 1904, p. 355).
O bairro da Estação foi-se desenvolvendo a partir
daí: a estação era sempre um centro de recepção
de personalidades, como relatava o jornal da cidade a visita de
meu avô, em 1932, na época Diretor-Geral do Ensino do Estado. "A recepção
de Sud Mennucci dar-se-á ás 11 horas, na estação da Mogyana, com
a presença dos elementos representativos de todas
as classes sociaes (...) a commissão abaixo assignada convida o
povo para comparecer á estação da Mogyana, afim de receber o distincto
visitante, prestando-lhe assim a devida homenagem. Franca, 14 de
maio de 1932."
Sete anos depois, em 1939, a estação ganhou
um prédio novo, mais moderno, estilo "art-noveau".
(ver caixa mais abaixo)
Com o tempo, entretanto, a linha do Rio Grande foi perdendo
a sua importância, reduzindo muito seu movimento. Ainda assim, em
01/06/1969, as oficinas da estação receberam boa parte do que estava
sediado na estação de Ribeirão Preto-velha, recém-desativada.
Em 01/08/70, porém, pouco mais de um ano depois, o destacamento
de tração de Franca foi definitivamente suprimido, com seu
pessoal sendo deslocado para outras unidades da ferrovia (*RM-1970).
Foi este o golpe de morte. Nesse mesmo ano, a linha do rio Grande
tornou-se o ramal de Franca, seguindo somente até Pedregulho,
e, poucos anos depois, chegando mesmo somente até Franca.
Em 15 de fevereiro de 1977, o último trem de passageiros,
aliás, um trem misto, com um carro apenas e cinco vagões
cargueiros, partiu de Franca, conduzido pelo maquinista Augusto
Ferreira Mendes, ao meio-dia de uma terça-feira, com
o chefe do trem Olivio Marques avisando aos passageiros da
notícia (*João de Souza Medeiros, 1993).
Já os de carga sobreviveram até 1980. A estação
fechou oficialmente em 1983, quando seu último chefe, José
Antônio Bosco, entregou suas chaves. "Quando Bosco deixou
a estação para trás, os trens já não passavam por ali havia três
anos. Sua função, como último chefe de estação em Franca, era recolher
os aluguéis dos prédios locados pela ferrovia e das casas ocupadas
pelos ferroviários" (Paulo Godói, 2007).
Em 1986, a estação estava em parte alugada a uma firma particular
de máquinas agrícolas, e tinha acabado de ser vendida à Prefeitura.
O ramal já estava abandonado. Dois anos depois, os trilhos foram
retirados.
Em 2007, quando estive lá pela segunda vez, tanto a estação
quanto a vila ferroviária, do outro lado dos trilhos (hoje uma avenida
larga, que dá noção da quantidade de desvios e do tamanho do pátio
da estação) estavam mal conservados; enquanto até alguns
anos atrás a vila ferroviária em frente à estação
estava, digamos, incólume, então ela estava infestada
de prédios estranhos às casas e seus estilos por prédios
modernos de lojas e clínicas que distorciam completamente
o antigo pátio. A estação, suja e mal-cuidada,
era o terminal rodoviário dos ônibus da Cometa, embora
algumas das salas estivessem ocupadas por outras entidades. Na plataforma,
onde passageiros de ônibus esperavam em quantidade bem inferior
ao que havia no tempo dos trens, a sujeira imperava, a pintura das
paredes estava suja e cobertores de mendigos, com ou sem eles, eram
comuns jogados no chão.
Em 13/4/2014, Thales Cardoso descrevia o estado triste do
prédio: "A estação está com a aparência
um tanto degradada, em parte dela funciona uma biblioteca municipal,
numa sala funciona o programa do governo estadual Acessa São Paulo
(internet gratuita), noutro um cartório eleitoral e na parte central
a Viação Cometa. A outra metade do prédio está abandonada e
depredada".
No final de 2022, a estação estava cercada para obras de restauro (ver caixa abaixo, desse ano).
CLIQUE
AQUI PARA VISUALIZAR A ESTAÇÃO VISTA DO SATELITE
(gentileza Francisco Rezende)
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1885
AO LADO: Edital para construção de diversas estações na linha do Rio Grande e no ramal de Caldas, inclusive esta (A Provincia de S. Paulo,
29/7/1885). |
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1886
AO LADO: A colocação de trilhos era cobrada pelos políticos da região de Franca (A Provincia de S. Paulo,
6/6/1886). |
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1886
AO LADO:Os trens chegariam mesmo em julho? (A Provincia de S. Paulo, 9/6/1886). |
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1886
AO LADO: Início da construção da primeira
estação em Franca (A Provincia de S. Paulo, 28/9/1886). |
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1887
À ESQUERDA: Primeiro trem em Franca (A Provincia de
S. Paulo, 21/2/1887). |
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1887
À ESQUERDA: Em 28 de março, a confirmação da inauguração do tráfego. Que no fim, não ocorreu (ver caixa abaixo de 31/3/1887)
(A Provincia de S. Paulo, 29/3/1887). |
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1887
À ESQUERDA: A inauguração do tráfego e da estação não foi em 26 de março, tendo sido adiada para o dia 5 de abril (A Provincia de
S. Paulo, 31/3/1887). |
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1894
AO LADO: Assalto a mercadorias na estação de Franca (O Estado de S. Paulo, 15/6/1894). |
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1894
AO LADO: Outro assalto a mercadorias na estação de Franca (O Estado de S. Paulo, 16/12/1894). |
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1898
AO LADO: Fazendeiros pedem mais um trem de Ribeirão Preto para Franca (O Estado de S. Paulo, 14/7/1898). |
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1898
AO LADO: Somente dez anos depois da inauguração a estação teria uma sala para os passageiros (O Estado de S. Paulo, 14/7/1898). |
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1899
AO LADO: Movimento da estação em janeiro de 1899 (O Estado de S. Paulo, 01/03/1899). |
ACIMA: Mapa de Franca com contornos no
início do século XIX, 1895, 1902 e 1941 (CLIQUE SOBRE
A FIGURA PARA AUMENTAR A IMAGEM).
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1900
AO LADO: Negociação com o restaurante na estação de Franca (O Estado de S. Paulo, 30/04/1900). |
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1900
AO LADO: Mudança de horario do trem rápido entre Campinas e Franca (O Estado de S. Paulo, 01/05/1900). |
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1903
AO LADO: Queram a volta do trem rapido (O Estado de S. Paulo, 17/4/1903). |
ACIMA: Em 1904, a estação de Franca é citada no texto de Cornelio Schmidt, publicado em seu Diario já citado anteriormente. Na estação, desceram e dali seguiram até Barretos, iniciando longa viagem a cavalo pelos terrenos e matas do interior desconhecido - CLIQUE SOBRE O MAPA PARA VÊ-LO EM TAMANHO MAIOR.
Foi implantado um "trem
rápido" da Mogiana entre Franca e Araguari. Ou seja,
era um trem que parava em poucas estações e fazia
portanto o percurso mais rapidamente. Naquela época,
havia apenas uma parada de importância entre as duas cidades:
Uberaba. Não se sabe, no entanto, quais seriam as outras
paradas nem se elas haveriam, e em quanto tempo era esperado
que esse trem fizesse o percurso. |
1909
AO LADO: Trem rápido: notícia publicada no jornal
O Estado de S. Paulo de 21/4/1909. |
ACIMA: Trem a vapor da Mpgoana chega à
estação antiga de Franca em 1925 (Cessão Silvio Rizzo. Foto colorizada).
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1939
AO LADO: Aberta a nova estação em Franca (O Estado de S. Paulo de 6/10/1939). |
ACIMA: Nucleo primitivo
da cidade e o espigão da estação (Maria da
Conceição Martins Ribeiro: Franca, Separata da Revista
do Arquivo nro. LXXVII, Depto de Cultura, São Paulo, 1941).
1941
AO
LADO : Reportagem mostra o tempo em que o movimento
na estação ferroviária ainda afetava
o trânsito ao seu redor, mesmo com a pouca quantidade
de veículos que existia naquela época (Folha
da Manhã, 20/11/1941).
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ABAIXO: A estação de Franca, no centro da fotografia,
nos anos 1970 (IBGE).
ACIMA: A estação de Franca, cercada para obras, em 30 de dezembro de 2022 (Foto Abimael Simões).
(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local;
Tales Oliveira Campos Cardoso; Abimael Simões; César
Café Barreto; Paulo Godói; João de Souza Medeiros;
Francisco Rezende; Cia. Mogiana: Relatórios anuais; Cia. Mogiana:
Listagem de estações oficial, 1938; O Diário
de Franca, diversas edições, 1976-77; O Estado de S.
Paulo, coluna Há Um Século, 21/4/2009; Album da Mogiana,
c. 1910; Arquivo Municipal de Franca; Museu da Cia. Paulista, Jundiaí,
SP; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht) |