HISTORICO DA LINHA: A história
do tramway do Guarujá se confunde com a própria história
da cidade. Construída em 1893 para levar a alta sociedade paulista
para suas casa de veraneio recém-construídas na praia
de Pitangueiras, no Guarujá, a linha da Cia. Balneária
da Ilha de Santo Amaro ligava o porto de Santos, via balsa, até
a estação inicial de Itapema, e daí seguia para
a estação final, em Pitangueiras. A propriedade da linha
mudou de mãos várias vezes, até se tornar estatal,
em 1927. Em 1925, com a eletrificação da linha, bondes
elétricos passaram a circular com as locomotiva a vapor. A
linha seguiu funcionando ininterruptamente até a sua desativação,
em 1956. Os bondes foram transferidos para a E. F. Campos de Jordão,
onde trabalham até hoje, e uma de suas locomotivas está
exposta na avenida Leomil, em Pitangueiras, no Guarujá. |
A ESTAÇÃO: O dia da inauguração da
estação de Itapema, em 1893, é relatada
no livro de Waldemar Stiel, "História dos
Transportes Coletivos de São Paulo": "(...)
(O trem da SPR, com várias autoridades) chegou a Santos às
13:30, e em bondes especiais dirigiram-se à Alfândega,
onde tomaram o vaporzinho "cidade de São Paulo",
a fim de atravessar o estuário. (...) Em Itapema tomaram
o trem inaugural, que em pouco tempo passava em frente ao Grande
Hotel (...)".
Também Eduardo Etzel, em seu
livro "O Guarujá e Eu", relata que, depois
de atravessar a barca o estuário, vê "do outro
lado do estuário a estação e outro trem: o
trenzinho do Guarujá, com máquina de bitola estreita
e dois vagões, o de carga e o de passageiros. Nova partida,
e a viagem através do imenso mangue (...)".
No mangue,
a leste da ferrovia, existiam inúmeras linhas de "decauville",
ou seja, linhas com locomotivas pequenas muitas vezes movidas a
gasolina e com bitola de 60 cm para transporte de bananas, principalmente
na região de Itapema.
A estação
foi desativada em 13/07/1956, juntamente com o tramway.
"O
que meu avô, Leonel Alexandrino da Luz, conta sobre essa estação
é que nada foi demolido por ali, pelo menos desde quando ele veio
morar em Santos em 1949. Naquela época se comprava um bilhete ainda
na estação de barcas de Santos. Esse bilhete poderia ser simples
(apenas a viagem de barca e o passageiro ficava em Vicente de Carvalho)
ou duplo, metade verde, metade vermelho (ou rosa), sendo que os
funcionários da empresa picotavam o verde para o embarque na barca (ainda em Santos) e o vermelho antes de se embarcar
no tramway, já no acesso às plataformas.
Os bilhetes também valiam
para a volta, e as partes vermelha e verde eram recolhidas durante
as respectivas viagens. Desta forma, para que se tivesse acesso
a essas plataformas, deveria-se desembarcar no atracadouro das barcas
e atravessar o prédio em questão, que, portanto, tinha duas funções:
o de estação de barcas e o de estação do tramway, embora o embarque
fosse feito numa plataforma na parte externa dele, e que já havia
sumido antes mesmo de meu avô se mudar para Vicente de Carvalho
em 1960.
O prédio ainda está de pé e é o mesmo que hoje serve como
estação de passageiros para a travessia de barcas da DERSA entre
Vicente de Carvalho e Santos. O prédio ganhou um anexo à sua esquerda
e que existe pelo menos desde o início dos anos 1980. Há alguns
anos, a DERSA fez uma reforma interna e externa que descaracterizou
bastante a versão que conheci. As plataformas e sua cobertura já
foram demolidas há muitos anos e no lugar delas foi construído um
retorno para veículos, que hoje é o final da Avenida Thiago Ferreira,
a principal do distrito.
Por volta de 2003, o tal retorno foi estreitado
e a Prefeitura construiu um "camelódromo" que encobre boa parte
da fachada da estação para quem a observa de um ponto distante em,
no mínimo, 30 metros. Cabe lembrar também que, a cerca de 150 metros
defronte a estação, situa-se hoje a passagem de nível do ramal da
Conceiçãozinha sobre a Avenida Thiago Ferreira, sem cancelas e em
estado precário. Os trilhos desse ramal jamais se cruzaram com os
do tramway, pois foi construído pela RFFSA na segunda metade dos
anos 1970" (Rafael Asquini, 03/2007).
Itapema é hoje o imenso distrito de Vicente de Carvalho, de
população maior que o do próprio Guarujá,
ao qual pertence.
ACIMA: Estação de Itapema em 1928,
no lado das barcas. Do outro lado, era a estação do
tramway (Acervo Arquivo do Estado de São Paulo).
ACIMA:
Linha já eletrificada no km 4 do Tramway em 1928 (Acervo Arquivo do Estado de São Paulo).
ACIMA: Pontão de madeira servindo de estação (estação provisóaria de Itapema, possivelmente) em frente ao porto
em 1928 (Acervo Arquivo do Estado de São Paulo).
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1935
AO LADO: Chamada para a inauguração do novo pontão das barcas em Santos (O Estado de S. Paulo, 20/12/1935). |
1935 - ACIMA: Edifício do novo portão para embarque nas barcas em Santos (O Estado de S. Paulo, 22/12/1935).
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1935
À ESQUERDA: Descrição do prédio da nova estação (O Estado de S. Paulo, 22/12/1935) |
ACIMA: Vicente de Carvalho, antiga Itapema, e
as várias linhas de "Decauville" ainda existentes
no final dos anos 1960 - pelo menos, se acreditarmos no mapa, que
é dessa época (Acervo Wanderley Duck).
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