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E. F. Machadense
(1928-1938)
Rede Mineira de Viação (1938-1963) |
MACHADO
Município de Machado, MG |
Ramal de Machado - km 342,600 (1960) |
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MG-2759 |
Altitude: 781 m |
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Inauguração: 14.04.1928 |
Uso atual: demolida |
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sem trilhos |
Data de construção do
prédio atual: 1928 (já demolido) |
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HISTORICO DA LINHA: A
linha foi aberta a partir da estação de Gaspar Lopes,
na linha Cruzeiro-Jureía, como E. F. Machadense em 1922 e absorvida
pela Rede Mineira de Viação em 1938. Transformado em
simples ramal, o trecho seguiu operando até 28/02/1963, quando
foi extinto. |
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A ESTAÇÃO:
"Tendo
sido aberta, em 14 do corrente, ao tráfego geral a estação
de Machado, na Estrada de Ferro Machadense, deverão ser observadas,
a partir dessa data, as seguintes instrucções no que
respeita á cobrança de fretes e applicação
de tarifas na referida Estrada, entregue ao trafego da Rede de Viação
Sul Mineira: 1) Vigorarão nas linhas da E. F. Machadense, de
Alfenas
em diante, o Regulamento Geral de Transportes, a pauta, bem como as
tarifas adoptadas pela rede de Viação Sul Mineira, accrescidos
os fretes
ou preços
de passagens, naquelle
trecho, do
addicional de 20%. 2) Os trens ou preços de passagens serão
calculados separadamente, fazendo-se em primeiro logar o calculo com
todas as
taxas até Alfenas e, a seguir,
o calculo dessa estação até a de destino na E.
F. Machadense, em cujo trecho será applicado o
addicional de 20%" (Documento
ferroviário, 1928, p. 359/360).
O
que restava em Machado em 2007 era somente o
armazém da ferrovia, pois
a estação, ao seu lado, havia sido demolida. 40 anos
antes, Em 11/3/1964, a Prefeitura da cidade pedia, pelo DD-100 da
RFFSA, autorização para a RMV a ceder o prédio
da estação para a instalação de uma estação
rodoviária.
"A
estação era tão bonitinha! Veja na foto (abaixo)
a última construção, a sua esquerda, tem uma parte mais alta que
dá para ver mesmo do fundo, isto lhe emprestava um charme de "bangalô"..."
(Magaly Vieira Guerra, 2003).
No lugar da estação, em 2017 estava o horrível
prédio do mercado municipal de Machado.
Como se chegava
a Machado antes do trem, em 1920? "Hoje parti
de Caxambu, amanhã chegarei a Pontalete, na confluência
do verde com o Sapucaí, donde uma linha de automóveis
me levará a Machado, à hora de jantar com minha
filha. Visita de médico, tal como as do marido, para
matar e reviver saudades". No ano seguinte, ele retornou
e comenta: "Sabado, 30, pretendo tomar o trem para visitar
minha filha no Machado. Viagem bem aborrecida, que se podia
fazer num dia, mas toma dois e no segundo ainda exige 50 kilometros
de automóvel". Em outra carta, sobre a mesma
segunda viagem, ele comenta: "Este anda cerca de 50
quilometros, faz-se quase todo no escuro, e o caminho, salvo
umas passagens chamadas mata-burro, é regular. O trecho
ferroviário é cerca de 10 quilometros mais que
daqui (Rio) a São Paulo, mas pede quarenta horas, por
causa de uma interrupção de mais de 20, já
na bacia do rio Verde, aonde é forçado a dormir" |
1920-21
AO
LADO: Por Capistrano de Abreu, cartas para João
Lúcio de Azevedo, abril 1920 e maio 1921. |
1922
AO LADO: E finalmente foi acertada a criação da E. F. Machadense (O Estado de S. Paulo,
22/3/1922).
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"Aconteceu
naqueles tempos passados, lá por 1926, quando as matas virgens
caiam aos golpes de machado para dar lugar a exuberantes cafezais
que levaram o nome de Machado a projetar-se no cenário mundial
como sendo o melhor café do Mundo. O clima de serra, o solo
humífero das matas, o carinho dos fazendeiros e o trabalho incansável
dos colonos, em feliz união enriqueceram a "Cidade presépio",
engastada nos contrafortes da Mantiqueira. Intrigas políticas
afastaram Dr. Flávio de Salles Dias de Machado mas esta mesma
política, dando exemplo de que muito se pode unida, coligando
elegeu-o em votação cerrada a Deputado Estadual. Dr. Flávio,
dotado de qualidades necessárias para um bom político, repartia
suas atenções entre os colegas, o governo e seu eleitorado.
Longe daqui mas atento às necessidades do povo que representava,
lutava para conseguir que a RMV fizesse o ramal Machado -Alfenas
que lhe havia sido prometido pelo governo. Era difícil para
os cafeicultores o embarque dos sacos da rubiácea. Em pleno
auge do café, por volta de 1925, precária estrada de rodagem,
só permitia que as bagas de café fossem transportadas em carro
de bois até Alfenas ou em pequenos caminhões que levavam apenas
25 sacos por viagem. Imaginemos então estes pioneiros do transporte
a carregarem continuamente sacas e sacas, quando a produção,
em certos anos chegava a 150 mil sacas! Havia em Alfenas muitos
armazéns que se interessavam pelo nosso café por causa da fama.
Eram eles: Figueiredo, Magalhães & Lemes e Manuel Rodrigues
(de Alfenas) ainda Olímpio Corsini, Moreira & Cia (de Alfredo
Moreira, tio de meu avô), ambos machadenses. Estes armazéns
compravam nosso café e vendiam para Santos de onde eram embarcados
para o exterior. Dr. Flávio não convencendo a RMV de construir
o ramal, conseguiu autorização do Governo para sua implantação
pelos próprios fazendeiros interessados. Depois de muitas reuniões
foram vendidas cotas para a construção da EFM, fazendo assim
o capital inicial. Em seguida contrataram o engenheiro Arlindo
Silveira, de Alfenas, que fez o traçado. Verificou-se então
que, devido à topografia muito acidentada, seria necessário
muito serviço de terraplanagem; contrataram o italiano Boreli,
especialista nisto e um português, troncudo e bigodudo, para
assentar os trilho e lidar com pedras. Era excitante o desafio!
Um trabalho de homens corajosos cujo brio e obstinação a toda
prova, fizeram da construção da obra seu ponto de honra. Duas
frentes foram criadas; uma partindo de Alfenas, outra de Machado.
O canteiro de obras tornou-se ponto turístico. Naquele tempo
eram numerosas enxadas cavando, pá jogando a terra e burrinhos
transportando-a em carroças mas era agradável,excitante mesmo,
e tinha sabor de progresso. Os burrinhos eram um espetáculo
à parte ... acostumaram tanto que dispensavam o carroceiro!
Um dos maiores problemas foi uma pedreira que havia e que teria
que ser cortada mas não podia interromper a estrada que por
lá passava. Paralisou a obra, esgotou o dinheiro e novamente
os políticos foram acionados. Dr Edvard Dias foi para Belo Horizonte
ver o que era possível fazer junto com Dr Flávio. Por aqui os
boatos do fim do sonho era o que mais se ouvia em Alfenas e
Machado. Foi quando meu avô entrou na estória. Moravam, ele
e o Boreli, no mesmo Hotel do Tonico Manso. Uma tarde houve
um diálogo mais ou menos assim: - Olha Antônio, eu vou embora!
Meus operários estão sem receber! O dinheiro acabou! - Calma
Boreli, o Dr. Edvard volta logo e resolve o problema! - Não!
Eu tenho dinheiro suficiente pra pagar meus empregados, pago
e vou embora, não agüento ouvi-los reclamar. - Escuta Boreli,
vou ver o que posso fazer para resolver seu problema, depois
você dá sua solução definitiva. Meu avô saiu dali e foi falar
com seu Tio Alfredo Moreira (dono do armazém Moreira & Cia).
Começou então um jogo: Antonio falou com o Alfredo, Alfredo
falou com Dr. Arlindo, Dr. Arlindo falou com Dr. João Leão de
Faria (Gerente do Banco de Alfenas). Decidiram tirar o dinheiro
no Banco, por 15 dias. Alfredo assumia a responsabilidade e
Dr. Arlindo abonava. Estava resolvido o problema do Boreli mas
e da estrada? Somente 15 dias! Que curto espaço de tempo! Desta
vez não ouve zum zum nem boatos, eles estavam trabalhando como
bons mineiros - em silêncio. Foi um grande alívio quando receberam
a notícia da chegada do Dr. Edvad mas, infelizmente, não havia
dinheiro em caixa mesmo. Como levantar mais capital em tão pouco
tempo? Que fonte abundante recorrer nesta crise? Dr. Edvad,
confiante em seu conterrâneo, foi procurar o Comendador Lindolfo
de Sousa Dias, um benemérito de Machado. Não estava em casa,
havia ido a Paraguaçu visitar uns parentes. Não podia esperar,
o caso era urgente. Pela estrada de Ponta Leite ia Dr. Edvard
ansioso, os dias passavam rápidos, o caminho era pedregoso.
Ao expor a difícil situação em que se encontrava o empreendimento
o Comendador Lindolfo pronunciou as palavras que tanto gostava
de dizer: - Dinheiro em mãos não tenho mas a gente sacode a
Limeira e sempre caem limas. Limeira era o nome da fazenda dele,
uma de suas fontes de renda, fruto de sua admirável capacidade
administrativa e empreendedora. Estava resolvido o problema
da estrada, ela foi concluída. Alguns anos mais tarde o governador
de Minas, Antônio Carlos, vindo a Machado foi muito bem recebido.
Claro que a política local não deixou de pedir-lhe a encampação
da EFM pela RMV no que foi atendida. O valor pago foi o suficiente
para reembolsar com bastante lucro o capital empatado. Termina
assim a História da construção do ramal Alfenas-Machado que
durante muitos anos foi passagem obrigatória dos viajantes por
esta parte do interior. Depois muitas coisas mudaram. Com a
construção da usina de Furnas a já decadente RMV perdeu muitos
trechos de sua rede, inclusive esta. Muito interessante foi
que quando minha mãe soube que seria o penúltimo dia que a máquina
viria, fez questão que eu, então com alguns meses, fizesse esta
viagem. Fomos a Alfenas e voltamos. Claro que não me lembro.
Que pena!" |
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ACIMA:
Relato de Tomaz Antônio
Vieira Godoy, Machado, MG.
AO LADO: Mapa mostrando a posição do ramal
e estação de Machado, sem data.
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1922
AO LADO: Contratação da construção do ramal (O Estado de S. Paulo,
8/2/1922).
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1929
AO LADO: Menos de um ano depois da inauguração
da ferrovia e da estação terminal da cidade,
as chuvas inundaram todo o pátio e parte da linha,
ambas praticamente no centro da cidade (O Estado de S. Paulo,
28/2/1929).
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(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local;
Magaly Vieira Guerra; Tomaz Antônio Vieira Godoy;
Nilson Rodrigues;
Capistrano de Abreu, cartas para João Lúcio de Azevedo,
1920-21; O Estado de S. Paulo, 1929). |
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Na véspera da inauguração da E. F. Machadense,
em Machado, os ferroviários, comerciantes e fazendeiros
de Machado posam junto À locomotiva. Foto cedida por
Magaly Vieira Guerra |
A estação, ao fundo, do lado da plataforma, sem
data. Em primeiro plano, o armazém que existe até
hoje. Foto cedida por Magaly Vieira Guerra |
Armazem de Machado, em 2002. Foto Nilson Rodrigues |
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Atualização:
12.10.2021
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