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Q R S T U
VXY Mogiana em MG
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Coronel Leite
Santa Flora
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ramal de Borebi - 1950
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ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: N/D
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E. F. Sorocabana (1938?-c.1958)
SANTA FLORA
Município de Agudos, SP
Ramal de Borebi - km -   SP-2048
Altitude: -   Inauguração: 1938?
Uso atual: provavelmente demolida   sem trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
 
HISTORICO DA LINHA: Em 1917, a Sorocabana abriu o ramal de Borebi, saindo da estação de Virgílio Rocha, no ramal de Bauru; o ramal chegava então até a fazenda do Coronel Leite. Em 1938, foi prolongado como ramal lenheiro, até Santa Flora. O ramal deixou de operar em 1962, pela circular estadual 73/61, de 28/04/1961.
 
 
A ESTAÇÃO: Em 1938, o ramal de Borebi foi prolongado até a parte sul do município de Agudos como ramal lenheiro, para buscar lenha para as máquinas em regiões mais distantes. No início dos anos 1940 (em 1941 já existia a estação, de acordo com o relatório da ferrovia, mas o trecho somente foi incorporado oficialmente ao ramal no ano de 1943, segundo o relatório do interventor Fernando Costa ao Presidente Getúlio Vargas referente a esse ano), o ponto terminal do ramal passou a ser a estação de Santa Flora. Era um dos poucos ramais lenheiros da Sorocabana - talvez o único - que tinha uma estação em sua extremidade. Em 1944, foi construída uma ponte de madeira no ramal, quando este já estava em funcionamento. No mesmo ano, a Sorocabana falava sobre seus Armazéns de Abastecimento: "A exemplo do que já vinha se observando nos anos anteriores, continuavam os Aramazéns, em 1944, em franca prosperidade, mantendo integralmente sua finalidade, a qual seja de proporcionar ao pessoal da estrada a oportunidade de adquirir para sua manutenção bons artigos por preços convenientes. (...) Neste ano foram instalados três armazéns, destinados ao pessoal empregado nos cortes de lenha da Estrada. Esses armazéns, localizados em Santa Flora, Caiuá e Rancharia, já estão funcionando com a devida regularidade". Em todos estes locais, havia ou o terminal de um ramal lenheiro, ou o
início de um (como em Caiuá e em Rancharia). Em Santa Flora também foi carregado algodão em caroço, em 1943 e 1944, e café, em 1941. Santa Flora era classificada nessa
época como um "posto considerado estação" pela Sorocabana. Havia venda de bilhetes. Em 1942 e 1944, por exemplo e respectivamente, 553 e 2.140 passageiros ali embarcaram em carros de primeira e de segunda classe. Ou seja, se era possível contá-los, isto se devia ao fato de que ali se podia comprar bilhetes. É, entretanto, curioso o fato de que esta estação somente aparece em relatórios oficiais da E. F. Sorocabana, não aparecendo nos guias, como o Guia Levi, por exemplo, em nenhuma época, nem durante os anos 1940. Em um mapa do IBGE, publicado no ano de 1960, aparecia o ramal de lenha acompanhando o rio Turvo dentro do município de Agudos, vindo do de Lençóis Paulista, com Santa Flora e, depois, uma estação não denominada (seria a de Globo?) e, mais ainda á frente, uma estação terminal - Restinga. Teriam existido estas duas estações realmente? Porém, a estação de Santa Flora teria sido fechada antes de 1953, pelo menos dez anos antes do final do ramal: o Guia Oficial da E. F. Sorocabana nada fala sobre ela, mostrando um ramal e relação de estações que param na de Coronel Leite. Nem sequer existia nessa época o ramal lenheiro, ou seja, o trecho Coronel Leite-Santa Flora, nem em referências, nem no mapa oficial desse ano. Conclui-se que a estação e o trecho final do ramal, ou o ramal lenheiro, já não mais existiam então. Porém, até 1952 ela funcionava, segundo se pode ver pelos relatos (ver no quadro mais acima). Na realidade, pessoas procuradas em Borebi e Agudos em 2010 nada sabiam sobre a localização dessa estação, nem nunca haviam ouvido falar dela.
A VIDA EM SANTA FLORA
"No ano de 1950, então com 5 anos de idade, morei por aproximadamente 2 anos na estação de Santa Flora no ramal de Borebi, que na realidade não era a estação final do ramal de Santa Flora, pois alem dela existia uma outra estação de nome Globo, que era realmente o final da linha. Hoje com 66 anos de idade, lembro-me perfeitamente de tudo com clareza e posso afirmar que a estação de Santa Flora realmente existiu e faz parte do meu acervo de memórias ferroviárias que são muitas lembranças agradáveis da minha longínqua e feliz infância e adolescência. Quando saí de Santa Flora, mais ou menos 1952, tudo estava muito ativo, os trens circulavam normalmente com um carro de passageiros e dois ou três vagões de carga (trem misto). O carro de passageiros (sempre lotado) era de segunda classe e todo de madeira, inclusive os bancos. Esse trajeto era feito de duas a três vezes ao dia. de domingo a domingo, sem horário muito definido. Os trilhos eram assentados sobre os dormentes sem o lastro de pedra, isto é, diretamente na terra, denominadas na época de linhas de terra. Quando chovia era um deus nos acuda, inundava tudo, os trilhos desapareciam e os trens não circulavam, as vezes durante dias. Esses trens eram puxados por vaporeiras de pequeno porte e digo isso, pois estava acostumado com locomotivas a vapor de grande porte que circulavam pela linha tronco, aplidadas na época de "Alemoas", haja vista que como filho de ferroviário, levávamos uma vida de verdadeiros ciganos, desde a cidade de Boituva, onde nasci, até o ramal de Santa Flora e posteriormente o ramal da pedreira e finalmente o ramal de Bauru, onde finalmente nos fixamos até a aposentadoria do meu pai, Sr. Honório, já falecido. Retornei algumas vezes a Borebi, mas nao mais até Santa Flora ou a fazenda ou estação Globo, após a desativação do ramal em 1953/54. A fazenda Globo era muito movimentada na época e ponta de linha do ramal. Produzia além de leite e seus derivados, carne bovina e suina, mas o ramal tinha como finalidade principal o transporte de lenha para as locomotivas a vapor, maioria na época. A estação Globo ficava a aproximadamente 12 km de Santa Flora. O que lembro de Santa Flora é que era uma estação no meio do nada, mas que de repente quando o trem apitava, surgiam pessoas não se sabe de onde, era uma festa. Resido atualmente na cidade de Bauru".
AO LADO: Relato de Pedro de Jesus Pereira, 2/11/2011.

ACIMA: Ramal de Borebi até Santa Flora em mapa de 1950 (Carta Geral do Estado de S. Paulo, IGG, 1950). ABAIXO: Mapa de parte do município de Agudos nos anos 1950. O ramal lenheiro de Santa Flora ali aparece, proveniente da estação de Coronel Leite, em Lencois Paulista (esta estação não é mostrada neste mapa) e acompanhando a margem sul do rio Turvo, terminando numa estação de nome Restinga (IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XI, 1960).
O FIM DE SANTA FLORA
O projeto de lei no. 34, publicado no Diário Oficial do Estado de 19/3/1958, cita que o ramal lenheiro já havia sido fechado, abandonado e providenciada a "retirada do material ali empregado", e prevê a restituição dos terrenos, todos adquiridos entre os anos de 1937 e 1944, aos seus ex-proprietários. Se eles não estivessem interessados, seria procedida a alienação dos mesmos depois de avaliação de cada um deles. Cita também que o que motivou o fechamento do trecho foi a não construção do seu prolongamento até Quatá, devido aos melhoramentos implementados no trecho da ferrovia entre as estações de Botucatu e de Bernardino de Campos.
TRENS - De acordo com os guias de horários, os trens de passageiros não paravam nesta estação - aparentemente era uma linha interna da ferrovia para uso exclusivo dos funcionários.
(Fontes: Adriano Martins; Carlos Leite; Carta Geral do Estado de S. Paulo, IGG, 1950; Diário Oficial do Estado, 1958; Guia Oficial da E. F. Sorocabana, 1953; Relatórios oficiais de E. F. Sorocabana, 1900-1969; IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XI, 1960; A Vida Administrativa de São Paulo em 1943, Fernando Costa, IOESP, 1944; Guias Levi, 1932-69; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
     
     
     
     
Atualização: 26.09.2016
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.