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Doutor Privat
Camocim
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ramal de Camocim - 1950
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ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: S/D
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E. F. de Sobral (1881-1909)
Rede de Viação Cearense (1909-1975)
RFFSA (1975-1977)
CAMOCIM
Município de Camocim, CE
Ramal de Camocim - km 363,524 (1960)   CE-3156
Altitude: 4 m   Inauguração: 15.01.1881
Uso atual: sede da Prefeitura (2016)   com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
 
 
HISTORICO DA LINHA: O ramal de Camocim originalmente foi o trecho inicial da E. F. do Sobral (Camocim-Sobral), aberto nos anos 1881 e 1882. Em 1909, toda a E. F. de Sobral foi juntada com a E. F. de Baturité para se criar a Rede de Viação Cearense, imediatamente arrendada à South American Railway. Em 1915, a RVC passa à administração federal. A linha da antiga E. F. de Sobral chega a seu ponto máximo em Oiticica, na divisa com o Piauí, em 1932, mas, em 1950, com a ligação de Sobral a Fortaleza pelo ramal de Itapipoca, o trecho Sobral-Camocim passou a ser um ramal apenas, saindo da linha Norte, formada a partir de então. Trens de passageiros percorreram o ramal até agosto de 1977. A linha foi então desativada e, embora oficialmente tenha sido erradicada em 1994, seus trilhos foram retirados bem antes dessa data.
 
A ESTAÇÃO: Os primeiros habitantes de Camocim remontam ao final do século XVIII. Tornada porto pela habilidade de Gabriel Rocha em conduzir qualquer navio pela barra, a cidade foi crescendo rapidamente.

"A 3 de outubro de 1857, foi concedido a Tomas Dixon Lowden, pelo Governo Imperial, privilégio por 50 anos para construir uma estrada de ferro de Camocim até Ipu. Em 19 de junho de 1878, o Governo Imperial voltou a olhar o problema da construção da estrada de ferro, autorizando os estudos e construção do trecho de Camocim a Sobral. À tarde do dia 24 de julho do mesmo ano, os habitantes de Camocim foram agradavelmente surpreendidos com a entrada, no porto, do vapor Guará, conduzindo a ilustre comissão de engenheiros encarregada dos trabalhos da estrada referida. A população camocinense recebeu a comissão aludida com grande demostração de alegria e, em favor da deficiência de domicílios, algumas famílias cederam os seus, para abrigar os engenheiros e foram habitar em palhoças. A 5 de agosto de 1878, tiveram início os estudos para a construção da estrada de ferro. A 26 de março de 1879, realizou-se com assistência do Presidente da Província e solenidade de estilo, o assentamento do primeiro trilho da estrada de ferro em Camocim, sendo convidado, pelo Dr. Rocha Dias, para bater o primeiro grampo, o Dr. José Júlio de Albuquerque. Compareceram ao ato todas as autoridades de Granja e Camocim, além de elevado número de pessoas gradas. A inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro de Sobral, entre Camocim e Granja, numa extensão de 24,5 quilômetros, ocorreu no dia 15 de janeiro de 1881, dois anos após o início dos trabalhos. A antiga capela de Camocim, que por muitos anos serviu de matriz, foi iniciada em 1880 obedecendo à planta e direção do Engenheiro José Privat, primeiro diretor da Estrada de Ferro de Sobral (...)" (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XVI, IBGE, 1959).

A estação de Camocim foi, então, inaugurada em 1881 como ponto inicial da E. F. de Sobral. O município havia sido criado em 1879.

Seu porto se desenvolveu mais ainda com a ferrovia. Porém, em 1977, o porto já estava decadente e foi quando passou o último trem de passageiros na estação e no ramal, em agosto.

"Conheci o engenheiro que arrancou os trilhos deste ramal. Em 1980 ele era o Engenheiro Residente em Tirirical, em São Luiz, portanto a linha deve ter sido tirada bem antes disso" (Coaraci Camargo, 2005).

"A locomotiva no. 612 da Rede de Viação Cearense (RVC) era uma Whitcomb (USA) de rodagem C-C. A história é a seguinte: durante a época da sua dieselização e eletrificação, a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro (VFFLB), da Bahia, adquiriu 15 dessas locomotivas em 1949, recebidas em Salvador naquele mesmo ano. Entretanto, durante os testes e início de sua operação na Bahia, em 1949-50, essas locomotivas tendiam a "abrir a bitola" das linhas da Leste Brasileiro, tornando-se sub-utilizadas. Como a VFFLB já era uma ferrovia pertencente ao antigo DNEF (Departamento Nacional de Estradas de Ferro, precursora da RFFSA), essas 15 locomotivas foram transferidas para a Rede de Viação Cearense e operaram por lá até a sua baixa - não sei ao certo, mas devem ter sido baixadas na década de 1970" (Alexandre Santurian, 01/2007).

"A locomotiva Whitcomb Endcabe 650 hp - U.S.A, de n° 612, escreveu uma página negra na história ferroviária do Ceará. No ano 1951, na linha sul (Estrada de Ferro de Baturité) ao sair de Quincoê buscando Fortaleza, tombou com um trem de passageiros com saldo de 200 mortos (extra oficial).
Somente ela e um vagão permaneceram nos trilhos. Nesse ponto da fotografia iniciava-se a linha no rumo de Sobral, a antiga Estrada de Ferro de Sobral. Adiante a uns 300 m ficavam à direita as oficinas mecânicas e à esquerda o depósito de carros e o leito do rio Coreaú. Note os lambrequins em seu beiral preservadíssimos. Na foto (abaixo, de 2006), o antigo pátio de Camocim. Ao fundo a gare e a estação. À direita o deposito de carros e por trás deste os armazéns do porto. À esquerda a casa da administração e mais à diante sem visualização as oficinas. Nessa estrada carroçável saíam os trilhos rumo Sobral. E na foto das ruínas da oficina (também abaixo), as ruínas das oficinas mecânicas em Camocim resistem ao tempo. Perceba, longe e ao fundo, restos dos portais do depósito de locomotivas, olhando para a gare. E no plano maior, as oficinas olham para o rio Coreaú. A sua frente passavam os trilhos do pq. de manobras da 5° divisão buscando Sobral. No pé da foto, vestígios da velha rotunda. Ainda de pé, definha o velho depósito de carros. Em seu interior passavam três trilhos com valas para os serviços de manutenção. Está edificado a 50m adiante da gare, à esquerda" (Ney Robinson, 12/2006).
No início de 1950, consta que o governador do Ceará tentou extinguir o ramal de Camocim e houve um levante popular contra essa atitude, acabando por adiar a extinção do ramal, se é que realmente era esse o objetivo do Governador. Na verdade, parece que o que ele queria era fechar o porto, o que acabaria por levar à supressão do ramal, que perderia muito movimento, e, na época, a ferrovia era praticamente a única fonte de suprimentos e de transporte para Camocim. "O dia 24 de agosto de 1977 marcou a morte definitiva do ramal. O movimento cívico de 1950 não pôde se repetir e a bravura de outrora do povo camocinense se resumiu em acorrer à estação para se despedir do último trem e manifestar seu descontentamento com alguns poucos cartazes para serem mostrados pela televisão. Ironia do destino, o acervo da Estação foi transportado por via rodoviária para Sobral e todo o patrimônio foi relegado ao abandono e à intempérie dos tempos. Os reflexos da desativação na economia foram imediatos nos municípios beneficiados pelo ramal, como Camocim, Granja, Martinópole, Uruóca, Senador Sá e Massapê" .
AO LADO: Entre o porto e a estação (Cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim 1920-70, Carlos Augusto Pereira dos Santos, UFPE, 2008).

ACIMA: As oficinas de Camocim, anos 1900 (Cartão postal, autor desconhecido). ACIMA: Gare da estação de Camocim, restaurada, com um balcão horroroso da Previdencia Social no seu interior. Aqui existiam plataformas e trilhos. Daqui partiam os trens para o interior do Ceará até os anos 1970 (Foto Coaraci Camargo em 2/2013).

ACIMA: Gare da estação de Camocim, restaurada, com um balcão horroroso da Previdencia Social no seu interior. Aqui existiam plataformas e trilhos. Daqui partiam os trens para o interior do Ceará até os anos 1970 (Foto Coaraci Camargo em 2/2013).

ACIMA: Casa da vila ferroviária de Camocim em 2018 (Foto Geraldo Langovsky).

(Fontes: Coaraci Camargo; Wanderley Duck; Nilce Balieiro; Ney Robinson; Alexandre Santurian; Lourenço Paz; Wanderley Duck; Jornal de Alphaville, Barueri, SP; Carlos Augusto Pereira dos Santos: Entre o porto e a estação - cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim 1920-70, UFPE, 2008; IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1959; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Guias Levi, 1932-80; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
     

A revolta de 1949 na frente da estação. Acervo Wanderley Duck

A estação, c. 1957. Sobre as janelas superiores, a inscrição: "Estrada de Ferro de Sobral". Foto da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XVI, IBGE, 1959

Carro na gare da estação de Camocim, sem data. Acervo Wanderley Duck

Fachada da estação em 2005. Foto Jornal de Alphaville

A gare da ex-estação em 12/2006. Compare com a 3a foto, acima. Foto Ney Robinson

Antigo pátio ferroviário da estação de Camocim, em 12/2006. Foto Ney Robinson

Ruínas das oficinas em Camocim, em 12/2006. Foto Ney Robinson

Ruínas do antigo depósito de carros no pátio de Camocim em 12/2006. Foto Ney Robinson

A estação em 2007. Foto Custodio Netto

A estação em 2/2013. Foto Nilce Balieiro
   
     
     
Atualização: 23.05.2022
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.