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VXY Mogiana em MG
Índice de estações
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Pires Ferreira
Ipu
Abílio Martins
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Linha Norte - 1950
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ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: N/D
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E. F. de Sobral (1894-1909)
Rede de Viação Cearense (1909-1975)
RFFSA (1975-1997)
IPU
Município de Ipu, CE
Linha Norte - km 322,141 (1960)   CE-3157
Altitude: 233 m   Inauguração: 10.10.1894
Uso atual: usado pela Prefeitura (2014)   com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
 
 
HISTORICO DA LINHA: A origem da linha Norte foi o trecho da E. F. de Sobral que ligava Sobral a Ipu (havia o trecho inicial, de Camocim a Sobral, que virou ramal). Em 1909, toda a E. F. de Sobral (Camocim-Ipu) foi juntado com a E. F. de Baturité para se criar a Rede de Viação Cearense, imediatamente arrendada à South American Railway. Em 1915, a RVC passa à administração federal. A linha da antiga E. F. de Sobral chega a seu ponto máximo em Oiticica, na divisa com o Piauí, em 1932, dezoito anos antes de Sobral ser unida a Fortaleza pela E. F. de Itapipoca (1950). Esses dois trechos passam então a constituir a linha Norte. Em 1957 passa a ser uma das subsidiárias formadoras da RFFSA e em 1975 é absorvida operacionalmente por esta. Em 1996 é arrendada juntamente com a malha ferroviária do Nordeste à Cia. Ferroviária do Nordeste (RFN). Trens de passageiros percorreram a linha Norte até o dia 12 de dezembro de 1988, sobrando depois disso apenas cargueiros e trens metropolitanos no trecho Fortaleza-Boqueirão.
 
A ESTAÇÃO: O arraial de Ipu surgiu no final do século XVII. Tornou-se município em 1840, por transferência de sede de Campo Grande para ali.

A estação foi finalmente inaugurada em 1894 pela E. F. de Sobral, construída por Antonio Sampaio Pires Ferreira. O trem inaugural tinha 13 carros, puxado pela locomotiva "Rocha Dias", de nro. 7. Permaneceu como ponta de linha durante 16 anos, tempo suficiente para fazer a cidade crescer bem mais rápido.

O belo prédio da estação está ainda de pé, mas pouco antes, em 2007, vinte anos depois da desativação da ferrovia para passageiros, a situação era bem ruim para o prédio:

"É lamentável e vergonhoso o estado de abandono em que se encontra o formidável e histórico prédio da Estação Ferroviária de Ipu; cidade mediana, localizada na região centro-norte do Ceará. Tal prédio pertence ao conjunto arquitetônico da Estrada de Ferro de Sobral, e é testemunha inconteste da outrora florescente e promissora economia algodoeira e comerciária, promovida pela instalação da Estrada de Ferro de Sobral; feito ligado diretamente ao crescimento econômico e material de toda a zona Norte cearense. Iniciada pelo Imperador D. Pedro II, como forma de socorrer as vítimas da grande seca de 1877-79 e ainda assim, e ao mesmo tempo, acabando por dotar a região de uma formidável e dinâmica rota comerciária para o escoamento dos produtos agrícolas do alto sertão e da Serra Grande, a obra sobreviveu mesmo à queda da monarquia; e dezessete anos após seu início problemático, cortando tabuleiros ermos e caatingas vastas, os trilhos alcançaram finalmente a Ibiapaba. Tal feito, uma façanha dos políticos estaduais (auxiliados pelo drama da seca), e da moderna engenharia, ainda hoje se evidencia pela elegância e pelas dimensões singulares do edifício da Estação de Ipu. Aí estão preservados os sonhos de grandeza e de progresso de toda uma região; fora aí, na Estação de Ipu, no longínquo ano de 1894, que a engenharia venceu o sertão, e a locomotiva rompeu o isolamento secular da Ibiapaba. A história econômica e social da zona Norte cearense pode perfeitamente ser dividida em antes, durante e depois da construção da Estrada de Ferro de Sobral. Inicialmente, todas as povoações, vilas, fazendas e cidades desta área viviam mergulhadas num mar de conflitos individuais promovido pelos proprietários rurais em litígio entre si, ou entre estes e as paupérrimas populações caboclas originadas da mistura racial de índios, brancos e negros. Foi justamente o advento da ferrovia, cortando as fazendas e plantações, trazendo o comércio e o desenvolvimento, que acabou por impor à beligerante aristocracia interiorana as regras do estado Nacional e da economia de mercado. Sobral, Ipu e Camocim são cidades que cresceram na esteira do desenvolvimento trazido após a ligação do litoral norte com o alto sertão e com a Ibiapaba. Tais cidades tornaram-se entrepostos comerciais, absorvendo a produção das fazendas e plantações da região, e devolvendo produtos manufaturados e industrializados. Margeando a ferrovia, dezenas de pequenas e médias empresas produziam tecidos, tijolos, sabões, chapéis, etc. Mas o progresso tem seu preço; e as famílias tradicionais, herdeiras dos privilégios do período colonial, viram surgir à sua volta um grande número de bairros miseráveis; Cafute, Pedrinhas, Breguedof, Alto dos 14, dentre outros, nasceram compostos pelos camponeses pobres, que cansados da exploração patronal nas propriedades, atingidos pela fome, pelas secas periódicas e pela exclusão da posse da terra, buscavam as periferias da cidade para, de algum modo, beneficiarem-se com o comércio patrocinado pela movimentação dos trens. Em paralelo com tudo isso, era grande a migração para o Sudeste; o algodão entrou em declínio e simultaneamente nos anos 50 do século XX, o Estado brasileiro passou a buscar a atração das multinacionais automobilísticas para o país. Seria preciso formar um mercado interno para carros, caminhões e motocicletas; substituindo as ferrovias pelas rodovias. Todas as energias nacionais concentravam-se nas regiões mais desenvolvidas. Somente pelo artifício condenável da 'indústria da seca' o Nordeste conseguia convencer o restante da nação a investir recursos por aqui. O Sudeste precisava de mão-de-obra barata para a sua indústria; era só deixar morrer por anemia as ferrovias, contar com a inércia governamental, e deixar a seca e a fome fazerem o resto; e em poucos anos, milhares de jovens, saindo de Ipu, Sobral, Granja, Santa Quitéria, Reriutaba, São Benedito, Guaraciaba, Tamboril, etc., enchiam as favelas e periferias de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, dentre outros grandes centros. Tal como está, entregue aos cupins e transformado em banheiro improvisado para feirantes e desabrigados, o velho prédio da Estação de Ipu diz muito de nossa história. Seu abandono, mas do que uma casualidade, traduz o grau de 'civismo' e de 'requinte cultural' de nossa sociedade, de nossas instituições e de nossos homens públicos" (Raimundo Alves de Araújo, do site www.outrahistoria. com.br/nossa.htm, 20/01/2007).

Três anos depois do relato de Raimundo Araújo, em 24 de agosto de 2010, a estação foi entregue restaurada. O prédio havia sido adquirido pela Prefeitura e posteriormente tombada pelo IPHAN em 2007.

Em 2021 continuava muito bem.


ACIMA e ABAIXO: Em anbas as fotos, a estação de Ipu, ao fundo. Cada foto, infelizmente sem data, tirada de um lado da linha. Datas desconhecidas. Notar que a plataforma fica no centro dos dois prédios (Autor desconhecido; http://professorfranciscomello.blogspot.com).

"A parada no Ipu sempre demorava. Tinha dois carros de bagagens e cargas para Fortaleza. Geralmente frutas da serra grande. Neste intervalo de tempo, Teté Naval - era assim que a gente chamava, depois ficou Teté Cajão, ou Teté da Maria Cajão - Pois bem: Teté assumia o comando da Maria Fumaça e manobrava a locomotiva, desengatava da composição ia até depois da casa do chefe de trem e voltava de ré pela outra linha até a caixa d'água, para abastecer a maria fumaça de água e lenha" (www.ipu-ce.com/gerenciador.php).

ACIMA: A vista lateral da estação de Ipu. Ainda passam trens cargueiros por esta magnífica estação em 2021 (Foto: Geraldo Langovxky neste mesmo ano).

TRENS - Os trens de passageiros pararam nesta estação de 1894 a 1988. Na foto, trem do ramal em Amanaiara (1956). Clique sobre a foto para ver mais detalhes sobre esses trens. Veja aqui Veja aqui horários em 1954 (Guias Levi).
(Fontes: Paulo Regis; Raimundo Alves de Araújo; http://professorfranciscomello. blogspot.com; Revista Illustração Brasileira, 1922; www.ipu-ce.com/gerenciador.php; IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1959; www.outrahistoria.com.br/ nossa.htm; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
     

A estação de Ipu em 1922. Revista Illustração Brasileira, 1922

Estação de Ipu, c. 1957. Foto da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XVI, IBGE, 1959

Estação de Ipu, c. 2000. Autor desconhecido

Estação de Ipu em 2011. Foto Paulo Regis

A bela stação em 2021. Foto Geraldo Langovsky
 
     
Atualização: 19.12.2022
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.