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VXY Mogiana em MG
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Guaxupé
Guaranésia
Catitó
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ramal de Passos - 1950

Guia Levi - 1941
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ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: N/D
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Cia. Mogiana de Estradas de Ferro (1912-1971)
FEPASA (1971-c.1990)
GUARANÉSIA
Município de Guaranésia, MG
Ramal de Passos - km 15,064 (1937)   MG-2512
Altitude: 769 m   Inauguração: 23.06.1912
Uso atual: escola primária (2016)   sem trilhos
Data de construção do prédio atual: 1912
 
 
HISTORICO DA LINHA: O ramal de Passos foi inaugurado em seu primeiro trecho de 15 quilômetros ligando Guaxupé a Guaranésia, em 1912. Foi sendo prolongado aos poucos, chegando a Passos, onde terminava, somente em 1921. Em fevereiro de 1977, o tráfego de passageiros foi eliminado, sobrando os cargueiros, que, com o tempo, passaram a atender somente ao carregamento de cimento da fábrica de Itaú de Minas, e vindo não por Guaxupé, mas por São Sebastião do Paraíso, ali chegando pela antiga linha da São Paulo-Minas. Com isso, o trecho entre Guaxupé e S. S. Paraíso foi abandonado, e teve os trilhos retirados por volta de 1990. O trecho entre Paraíso e Itaú de Minas ainda tem seus trilhos, mas as cargas de cimento deixaram de circular já há anos e o abandono da linha é total. O trecho final até Passos teve também os trilhos retirados.
 
A ESTAÇÃO: A estação de Guaranésia era a primeira do ramal de Passos, distando 15 quilômetros da estação inicial de Guaxupé. Foi inaugurada em junho de 1912, permanecendo por dois ou três meses como ponta do ramal, até ele ser prolongado até Catitó.

"Guaranésia é a cidade onde meu pai nasceu. Embarquei e desembarquei nessa estação muitas vezes. Minha familia é original de Três Pontas, MG. Meus bisavôs Andre Torres (português) e Elisa Becker (alemã) tiveram 5 ou 6 filhos, entre eles meu avô, Pedro. Quando meu avô ainda era pequeno, a família foi tentar a vida em Ipaussu, SP. Meu bisavô, alarmado com a alta incidência do que eles chamavam de "maleita" (malária), resolveu retornar para Minas, mas não para Três Pontas e sim para Guaranésia, que na ocasião ainda se chamava Santa Bárbara das Canoas (antes de 1901, portanto). Meu pai Dorivaldo, o último de uma fila de 10 irmãos, nasceu em 3/10/1930, dia da eclosão da revolução que acabou com a República Velha e instaurou o governo de Getulio Vargas. Como Guaranésia está a poucos quilômetros da divisa com São Paulo, a cidade foi rapidamente tomada por tropas revolucionárias mineiras; a população em pânico se escondeu onde era possível e minha avó deu a luz a meu pai no porão da casa. Houve correrias e tiros foram trocados entre os revolucio-nários e a incipiente guarnição policial local. Um dos tiros passou pela janela do porão onde minha família se escondia e quase acertou minha tia Alice, ainda bem pequena, abrindo um rombo na parede, logo atrás dela.

Segundo meu avô, a Mogiana chegou em Guaranésia no mesmo ano em foi inaugurada a energia elétrica, fornecida pela usina hidrelétrica de Caconde, SP. Na inauguração da estação houve os festejos de praxe e o primeiro trem, procedente de Guaxupé, trazia o Eng. André Reboucas à frente da locomotiva, em pé sobre o parachoques. A rua que liga o centro da cidade à estação tem, por isso o nome de Avenida Rebouças. Meu avô era proprietário de uma mercearia ("venda", como são chamados estes estabelecimentos no interior) e sempre mencionava o fato de que grande parte dos produtos manufaturados que ele vendia vinham de trem. Era comum ir de carroça até a estação para receber as mercadorias despachadas pelos fornecedores, cujos pedidos eram tirados pelos vendedores ("viajantes"), que passavam por lá uma vez por mês, também com o trem. Interessante notar que na época as garrafas de cervejas e refrigerantes (já da Antarctica) vinham embaladas em caixas de madeira, protegidas individualmente por folhas de palha de milho. Estas bebidas eram vendidas a temperatura ambiente, pois eram raros os estabelecimentos que possuíam algum tipo de refrigeração. Como Guaranésia
sempre foi uma cidade muito pequena, as escolas locais somente proporcionavam ensino ate o nível ginasial. Um irmão menor de meu pai, o único de todos que conseguiu freqüentar a universidade onde se tornaria médico teve que cursar o colegial na cidade vizinha de Guaxupé. Ele diariamen-te tomava o trem pela manha e retornava à tarde, utilizando os passes mensais que a Mogiana vendia. Como as perspectivas de melhoria de vida eram muitíssimo limitadas em Guaranésia, era muito comum os mais jovens deixarem a cidade para tentar a vida em São Paulo, Campinas ou Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo. Isso acontecia com freqüência, a exemplo de minha família, onde somente um de meus tios permaneceu por lá. Assim, alguns matutos ao virem para São Paulo, muitas vezes viajavam de trem pela primeira vez na vida.

Houve casos de passageiros que na
hora de fazer a baldeação em Casa Branca se equivocavam e tomavam o trem que voltava para Passos (ao invés do trem para Campinas), e após muitas horas de viagem estavam de volta em Guaranésia... De um bando de primas que meu pai tinha, a única que conseguiu se casar morreu logo depois juntamente com o marido, quando o carro em que estavam foi colhido por um cargueiro da Mogiana, numa passagem de nível perto da cidade.

A primeira vez em que fui à estação foi em 1971, ainda como Mogiana. Depois de muito insistir, meu tio me levou ate lá para ver a chegada do trem da tarde, que vinha de Casa Branca, Campinas e São Paulo. Era uma composição de três carros de madeira (primeira, com buffet, segunda e carro-bagagem) rebocados por uma GL8. Nada impressionante em termos ferro-viários, mas, enfim, era a Mogiana, ao vivo e em cores. A viagem de São Paulo a Guaranésia tinha cerca de 350 km e durava aproximadamente oito horas. Circulavam pelo ramal de Passos quatro trens de passageiros por dia, um diurno e um noturno em cada sentido. Também havia duas litorinas, mas estas somente iam até Guaxupé. Nos trens diurnos, havia baldeações em Campinas (da Mogiana para a Paulista) e Casa Branca-nova, do tronco para o ramal. Nos trens noturnos havia baldeação somente em Campinas, uma vez que o trem do ramal de Passos (NP1) já saía de lá ligado na cauda do N1, que era o noturno que corria no tronco, de Campinas a Araguari. Em Casa Branca-nova as composições eram separadas. Também corria um carro dormitório de Campinas a Guaxupé, que foi suprimido logo apos a criação da Fepasa, em fins de 1971. Originariamente as composições do ramal eram compostas de carros de madeira, sendo posteriormente substituídos
por carros de aço pintados de azul e branco, da Fepasa. Estes carros de aço eram aqueles construídos pela Mogiana, embora tenham circulado por lá alguns "Ouro Verde" ex-Sorocabana, igualmente pintados de azul e branco. É interessante mencionar que havia um carro Ouro Verde, ex-restaurante, transformado pela Fepasa em carro de primeira com buffet, especialmente para circular nesse ramal. A tração ficava sempre a cargo das GL8, já que as G12 eram muito pesadas para aquela linha. Em 1976 a Fepasa suprimiu boa parte dos trens de passageiros dos ramais, e ali passaram a circular somente os noturnos.

Em 1977, uma pequena ponte próxima a São José do Rio Pardo foi destruída pelas chuvas e este fato foi usado como pretexto para interromper de uma vez o tráfego no ramal. Desde
então, o ramal ficou praticamente abandonado, circulando apenas os trens de cimento entre S.Sebastião do Paraíso e Itaú de Minas, procedentes de Ribeirão Preto, pela linha da antiga São Paulo-Minas.

Em 1985, na última vez que estive na cidade, a estação de Guaranésia estava totalmente abandonada, porém ainda com os trilhos. Todas as passagens de nível dentro da cidade já haviam sido asfaltadas pela prefeitura local. Nessa mesma época, a estação de Guaxupé ainda estava ativa, porém despachando cargas via rodoviária, já que a mesma estava isolada pela via ferroviária. O pátio estava abandonado, assim como o depósito de locomotivas que lá havia
" (Maurício Torres, 12/2001).

Os trilhos foram retirados por volta de 1990.

"A estação hoje está abandonada. uma senhora que mora na vizinhança me disse que lá funciona uma creche, um tipo de centro de recreação para tirar as crianças das ruas; isso explica as traves de futebol improvi-sadas. mas um ex- telegrafista da fepasa, hoje aposentado, que mora em frente à estação, disse que não é bem assim ­ a casa é ocupada por andarilhos ocasionalmente, mas está abandonada; o centro de recreação quase não funciona, é mais uma desculpa, uma tentativa da comunidade de preservar o local como seu patrimônio. está em mau estado de conservação, com portas e janelas quebradas, e está sem trilhos" (Rossana Romualdo, 07/2001).

Em 2016, servia como escola primária já havia uns anos, depois de tempos abandonada. Neste ano iniciava-se uma reforma no imóvel, feita pela Prefeitura.


ACIMA: Construção da linha do ramal próximo a Guaranésia em 1912 (O Malho, 7/2/1912).
ACIMA: Três meses apenas após a inauguração da estação e um embarcadouro para gado era construído (O Estado de S. Paulo, 26/9/1912).
ACIMA: Em Guaranésia, em 1915, três anos após a chegada da linha, a família Freire (Odilon, banqueiro na cidade e seus irmãos Pedro e Paulo) tinha seu transporte de época. Coisa rara na região, faziam sucesso com certeza e mostravam quem estava com o dinheiro (A Cigarra, 20 de janeiro de 1915, acervo Paulo Castagnet).

1925
AO LADO:
Passagem no pátio da estação (O Estado de S. Paulo, 5/8/1925).

1926
AO LADO:
Pede-se o aumento da estação (O Estado de S. Paulo, 13/1/1926).

ACIMA: A estação de Guaranesia e sua localização em 1939. (CLIQUE SOBRE O MAPA PARA VER A ÁREA AMPLIADA) (Arquivo Publico Mineiro).

ACIMA: (direita) Anos 1970. Os últimos trens que chegam à cidade são puxados por locomotivas diesel pintados na cor amarela-azul da Mogiana (Autor desconhecido - cessão Jorge Hereth). (esquerda) Sessenta nos antes, em 1913, Locomotiva 4-6-0 #54 “Caldas” da CM com um trem de piquenique fretado pela família do Dr. Antônio Costa Monteiro, em Guaranésia. (Foto: Autoria desconhecida; acervo da Casa da Memória de Guaranésia, gentileza de Maria Valéria Vieira Carvalho).

ACIMA: Provavelmente nos anos 1970, a locomotiva diesel 3031 está parada junto à plataforma da estação de Guaranésia (http://guaranesiamemorias.worldpress.com).

ACIMA: Construções da ferrovia no pátio de Guaranesia em 1986 (FEPASA: Relatório de Instalações Fixas, 1986)

ACIMA: Esquema do patio de Guaranesia com as construções existentes em 1986 (E-estação, C - casa e CD - caixa d'água) (FEPASA: Relatório de Instalações Fixas, 1986).

(Fontes: Adriano Martins; Rossana Romualdo; Maurício Torres; Paulo Castagnet; Carmo Ferreira Bastos; Eduardo Roxo Nobre; Maria Valéria Vieira Carvalho; Jorge Hereth; Casa da Memória de Guaranésia; O Estado de S. Paulo, 1925; A Cigarra, 1915; Cia. Mogiana: Relatórios anuais, 1900-69; http://guaranesiamemorias.worldpress.com; Guias Levi, 1932-79; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
     

Estação de Guaranésia, provavelmente anos 1960. Autor desconhecido

O trem da Mogiana passa sobre o pontilhão da rua Quintino Bocaiúva, em Guaranésia, sentido Campinas, em 6/1/1971. Foto Carmo Ferreira Bastos

Estação de Guaranésia, 1983. Foto Carmo Ferreira Bastos

Estação de Guaranésia, 12/2001. Foto Eduardo Roxo Nobre

Estação de Guaranésia, 12/2001. Foto Eduardo Roxo Nobre

Estação de Guaranésia, 12/2001. Foto Eduardo Roxo Nobre

Estação de Guaranésia, 12/2001. Foto Eduardo Roxo Nobre

Estação de Guaranésia, em 19/9/2016. Foto Adriano Martins
 
     
Atualização: 22.05.2019
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.