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L M N O P
Q R S T U
VXY Mogiana em MG
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Cordeirópolis
Remanso
Araras
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ramal de Descalvado-1935

IBGE-1960
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ESTIVE NO LOCAL: SIM
ESTIVE NA ESTAÇÃO: SIM
ÚLTIMA VEZ: 1996
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Cia. Paulista de Estradas de Ferro (1884-1971)
FEPASA (1971-1998)
REMANSO
Município de Araras, SP
Ramal de Descalvado - km 126,188   SP-2243
Altitude: 677,855 m   Inauguração: 04.11.1884
Uso atual: demolida   com trilhos
Data de construção do prédio atual: 1891 (já demolido)
 
 
HISTORICO DA LINHA: Em 1877, a Paulista abria o primeiro trecho, partindo de Cordeiros até Araras, do que seria o prolongamento de seu tronco. Em 1880, a linha, com o nome de Estrada do Mogy-Guassú, atingia Porto Ferreira, na mesma época em que a autorização para cruzar o Mogi e chegar a Ribeirão Preto foi indeferida pelo Governo Provincial, em favor da Mogiana. A linha, então, foi desviada para oeste e atingiu Descalvado no final de 1881, seu ponto final. Em 1916, as modificações da Paulista na área entre Rio Claro e São Carlos, na linha da antiga Rio-Clarense, fizeram com que o trecho fosse considerado como novo tronco, deixando a linha a partir de Cordeiros como o Ramal de Descalvado. Desde o começo em bitola larga (1,60m), ele funcionou para trnes de passageiros até julho de 1976 (Pirassununga-Descalvado) e até fevereiro de 1977 (Cordeirópolis-Pirassununga). Trens cargueiros andaram pela linha até o final dos anos 1980. Abandonado, o ramal teve os trilhos arrancados entre 1996 e 1997, sobrando o trecho inicial até Araras com seus trilhos enferrujando ao tempo até 2002, quando também foram arrancados.
 
A ESTAÇÃO: Aberta em 1884, sendo o fato registrado no relatório anual da Cia. Paulista, como "foi assentado um desvio de 175 m no km. 9 da 3ª secção, para a estação de Remanso". Teve suas aventuras, contadas no jornal A Província de S. Paulo da época:

Seis anos depois, um outro relatório da Cia. mostrava o estado precário da estação existente: "foi contratada por empreitada a construcção das estações definitivas de Remanso, Leme e Goabiroba, que urge não demorar em vista do máo estado que offerecem as provisorias construidas de taboas e com dimensões acanhadas..."

Em abril de 1891 foi anunciado o término da construção das três novas estações, e esta é data que mede a idade do prédio demolido há alguns anos, sobrevivendo portanto cerca de 102 anos.

Ela tinha o armazém incorporado à estação de passageiros. A estação atendia principalmente às fazendas Remanso e Paineiras, e era a mais alta do ramal, situada próxima no divisor de águas das
Joaquim Ferreira de Alvarenga escrevia para o mesmo jornal: ""na linha ferrea que segue á Descalvado, ha o costume de cortar-se o destino de passageiros. Já por duas vezes seguindo para a estação de Remanso, tive de fazer a vontade de quem mais manda e seguir para a estação de Araras. Estação das Palmeiras, 15 de Outubro de 1888" (31/10/1888) - ou seja, o trem não parava ali algumas vezes, seguindo direto para Araras, prejudicando os passageiros.

Um mês depois e a Hospedaria dos Imigrantes informava o envio de seis imigrantes para a estação do Remanso (4/12/1888).

Cinco anos mais tarde, 1893, um "desconhecido" saltou numa locomotiva em Pirassununga "que ali estava com fogos acesos e sem maquinista, fazendo-a correr rapida e infernalmente pela linha afora. Passou assim as estações de Guabiroba, Leme, São Bento, Araras, só parando na do Remanso, onde foi preso" (16/4/1893).

Como curiosidade, segue mais uma transcrição de um grave acidente ocorrido na estação, em 1904: "O accidente deu-se na estação de Remanso, quando se procedia a descarga de um wagon com inflamaveis e explosivos, tendo por causa a explosão de um volume com bombas, que ou caíra no assoalho do wagon ao ser aberta a porta, ou fora atirado na plataforma da estação bacias do Tietê e do Mogi-Guaçu: "sóbe pelo vale do Água Branca até a garganta do Remanso, ponto de passagem da baica do Tieté para a do Mogy-Guassú, e d'alli desce pelo corrego affluente das Araras até a villee deste nome" (2/3/1875).

Anos depois, foi ali que o "Sr. José Manoel da Fonseca, fazendeiro na estação do Remanso, prometteu libertar todos os seus escravos em 31 de dezembro de 1890" (24/7/1887). Como se sabe, a lei Áurea chegou dois anos e meio antes do prometido por José.

Em 1888, "Theodor Hatz (foi nomeado) para o (lugar de agente do correio) (da estação) do Remanso" (30/8/1888). Theodor teve problemas no início, basta ver a carta escrita ao jornal: "Quando não tinhamos agencia de correio no Remanso, acorresoindencia posta alli, no waggon, pela manhã, chegava a esta capital commercial da provincia no mesmo dia. Hoje ha agencia de correio alli, e a correspondencia entregue pela manhã, antes da passagem do trem, chega a Santos no dia seguinte! As estradas de ferro ainda fazem-nos o favor de de dar trem no mesmo dia em que parte de lá, poque, pois, o nosso correio não nos põe aqui as cartas senão no dia seguinte? (...)" (3/10/1888). No final do mesmo mês, pelos dous empregados do trem que faziam a descarga. Ambos ficaram gravemente feridos, tendo um, infelizmente, fallecido muitos dias depois do accidente e achando-se o outro em convalescença" (relatório annual da CP, 1904).

Em 1915, foi estabelecido por curto período de tempo um posto provisório, no km 128, apenas dois quilômetros à frente da estação.

A fazenda Paineiras era uma das principais usuárias da estação. De propriedade da família Matthiesen, chegou a ter 230 alqueires em 1929, com 129 mil cafeeiros, produzindo dez mil arrobas de café, além da criação de gado e outros animais. Em fevereiro de 1977, passou por ali o último trem de passageiros, voltando de Pirassununga para Cordeirópolis. Em 1986, ainda estava de pé, completamente abandonada e depredada. Foi demolida entre 1992 e 1994, segundo Marco Aurélio A. Silva, de Pirassununga, estando hoje no meio de um imenso canavial, mas com o local ainda identificável, embora tenha de ser necessário se abrir caminho entre o mato alto para se ver os trilhos e restos de tijolos antigos. A fazenda não se chama mais Paineiras, não é mais dos Matthiesen (hoje faz parte do canavial da Usina São João, de Araras) não planta mais café, mas cana e a sua colônia foi demolida em fins de 1996 para a plantação de mais cana. Sobrou apenas a pequena igreja (de 1935), desmontada para ser reerguida na chácara de seus antigos donos, em Sumaré. Os trilhos do trecho foram retirados em 2002 (Ralph Mennucci Giesbrecht - do seu livro "Caminho para Santa Veridiana - As ferrovias em Santa Cruz das Palmeiras") (Veja também Fazenda Paineiras)

1888
AO LADO:
Aberta a agencia de correios na estação de Remanso (A Provincia de S. Paulo, 14/8/1888).
1888
AO LADO:
Em Remanso, o correio era melhor quando não havia a agencia ali (A Provincia de S. Paulo, 3/10/1888).
1888
AO LADO:
Em Remanso, o trem só para se houver vontade do chefe to trem? i (A Provincia de S. Paulo, 15/10/1888).
1896
AO LADO:
Acidente em Remanso - nota: a citada Belem é a cidade de Belém de Descalvado (Belém de Descalvado) (O Estado de S. Paulo, 20/1/1896).
1896
AO LADO:
Ainda sobre o mesmo acidente em Remanso (O Estado de S. Paulo, 21/1/1896).
AO LADO: Na foto, meu tio Odair, sempre presente na minha história, com o primo José Osório e minha irmã, Arlete. Devo ser o fotógrafo improvisado. "Remanso" denomina, com bastante propriedade, aquele lugarejo bucólico e extraordinariamente tranqüilo que foi o palco de minha infância e pré-adolescência, dos 9 aos 14 anos. O conjunto arquitetônico do simpático "Remanso" constava de: estação e casa do "chefe da estação" (meu pai); uma casa do auxiliar do chefe, onde moraram as famílias do compadre Libânio, do Ary, do Bié e do Orlando; duas casas onde residiram os ferroviários, Salvador, Benedito e João Belatto; prédio no qual funcionava a "Escola Mista da Estação de Remanso". Um pouco distante ficava a casa do feitor da turma de conservação da linha. Fazendas populosas estendiam-se ao redor, cujos moradores proporcionavam a nossa típica vida social. Apesar da simplicidade de tudo e de todos, os cinco anos que passei lá foram dos mais felizes de minha vida. Daí os ter carinhosamente considerado "O Remanso da Minha Vida" (Foto e texto Luiz Gonzaga S. Ferreira).
AO LADO: "Escola Mista da Estação de Remanso" não desapareceu com o tempo, nem com a retirada dos trilhos da memorável e eficiente Companhia Paulista, nem com a agressiva invasão da cana de açúcar, nem mesmo com o passar dos seus privilegiados personagens. Não se perdeu nada do seu encanto; a mesma singeleza, o mesmo perfume das flores silvestres que ornamentavam as nossas carteiras... tudo está aqui, nesta cansada memória. Todos os dias eram igualmente felizes para nós. Diferenciados, porém, graças à imensa dedicação e criatividade da portentosa e inigualável professora, Da. Yolanda. Certo dia fomos notificados de que teríamos um recreio mais prolongado. Após faustoso lanche composto pela variedade de frutas e requeijão que os coleguinhas traziam dos sítios vizinhos, decidimos partir para uma "pelada" no nosso campinho de chão batido. Reclamamos da falta de um dístico para diferenciar as duas equipes. Prontamente atendeu-nos a "fada madrinha". Não houve tempo para maiores reflexões cívicas... Eis que vimos, com espanto, a Professora, assessorada por Da. Isabel, minha mãe, com grande habilidade, cortando em tiras verdes e amarelas, nada mais, nada menos, que a Bandeira Nacional. É certo que o "Pano-Símbolo", em questão, já havia sido "reformado", pelo tempo de digna ostentação cívica... Mas, confesso que, no momento, fiquei perplexo... Agora tenho certeza de que o civismo não se faz apenas com palavras, gestos, símbolos e bravatas mas, principalmente, com muito amor (Foto e texto Luiz Gonzaga S. Ferreira).

ACIMA: O "Chefinho da Estação" com a priminha Jozélia e o primo Lúcio.

ACIMA: A "porteira encantada", com Arlete, Jozélia, tia Zélia e tio Zelão. A velha porteira de madeira era a primeira coisa que divisávamos ao escancarar a janela do terceiro quarto da casa; aquele em que se instalavam, freqüentemente, os inesquecíveis hóspedes. Mas, nesse dia, a velha porteira não estava lá. Ela, que apesar de combalida pelo vai e vem constante, sempre apinhada de crianças alegres e felizes, orgulhava-se com razão, de ser o "play ground" da escolinha rural... não mais estava lá. Havia sido substituída por uma cancela novinha, toda pintada de branco. E, com a competente providência administrativa do chefe da estaçãozinha da CP. (Companhia Paulista de Estradas de Ferro), uma ordem expressa: "ninguém mais poderá ficar pendurado e balançando na porteira nova". Até um cadeado e uma corrente haviam sido providenciados. Como não podia ser de outra forma, a criançada logo protestou com veemência... Nenhuma palavra rude e subversiva, nenhum gesto desrespeitoso, nenhuma pichação - mesmo porque, nos idos de quarenta, a única "pichação" que se conhecia era feita pelas Casas Pernambucanas, nas porteiras das estradas. Mas, o protesto que transparecia nos semblantes da gurizada, da qual eu fazia parte, fora muito bem captado pela sensibilidade do "chefinho da estação", o meu pai muito querido de todos... E a nova porteira foi liberada ... para o encanto de todos. Assim como a "porteira encantada" da estaçãozinha de Remanso, todas as "porteiras" da nossa vida deveriam ser liberadas para que os nossos sonhos pudessem se concretizar... (Fotos e textos: Luiz Gonzaga S. Ferreira, talvez anos 1960).

TRENS - De acordo com os guias de horários, os trens de passageiros pararam nesta estação de 1884 a 1977. Na foto à esquerda, o trem do ramal está parado em Loreto. Clique sobre a foto para ver mais detalhes sobre esses trens. Veja aqui horários em 1964 (Guias Levi).

ACIMA: Por onde passavam os trilhos do ramal, ao lado da plataforma da estação já há muito demolida, em 2011 aparece a sujeira habitual deixada pelos sem-terra invasores (Fotos Prefeitura de Araras).

(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; Ulisses Lopes; Luiz Gonzaga S. Ferreira; João Mello; Marco Aurélio A. Silva; Filemon Peres; Prefeitura de Araras; FEPASA: Relatório de Instalações Fixas, 1986; A Província de S. Paulo, 1875-89; O Estado de S. Paulo, 1893; Ralph Mennucci Giesbrecht: Caminho para Santa Veridiana, Editora Cidade, 2003; Cia. Paulista: Álbum dos 50 anos, 1918; Cia Paulista: Relatórios anuais, 1872-1969; IBGE, 1960; Mapas - acervo R. M. Giesbrecht)
     

Remanso em 1918. Álbum dos 50 anos da Paulista

Remanso, em foto sem data. Foto cedida por João Mello

Plataforma de Remanso, abandonada, em 1986. Relatório Fepasa, 1986

Estação de Remanso, abandonada, em 1986. Relatório Fepasa, 1986

No lugar de Remanso, somente mato e desolação cercada pela cana (15/10/1996). Foto Ralph M. Giesbrecht

Em 2011, a plataforma de pedras da estação de Remanso está ali, cheia de mato sobre ela e com o canavial ao fundo. Foto Prefeitura de Araras
     
Atualização: 03.05.2021
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.