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L M N O P
Q R S T U
VXY Mogiana em MG
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(1941-2001)
Ave Maria
Ayrosa Galvão
Pederneiras
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Tronco oeste CP-1970

IBGE-1970
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ESTIVE NO LOCAL: SIM
ESTIVE NA ESTAÇÃO: SIM
ÚLTIMA VEZ: 1999
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Cia. Paulista de Estradas de Ferro (1941-1971)
FEPASA (1971-1998)
AYROSA GALVÃO
Município de Jaú, SP
Linha-tronco oeste - km 291,908   SP-0946
Altitude: 438,420 m   Inauguração: 1941
Uso atual: moradia (2014)   com trilhos
Data de construção do prédio atual: 1941
 
 
HISTORICO DA LINHA: O chamado tronco oeste da Paulista, um enorme ramal que parte de Itirapina até o rio Paraná, foi constituído em 1941 a partir da retificação das linhas de três ramais já existentes: os ramais de Jaú (originalmente construído pela Cia. Rio-clarense e depois por pouco tempo de propriedade da Rio Claro Railway, comprada pela Paulista em 1892), de Agudos e de Bauru. A partir desse ano, a linha, que chegava somente até Tupã, foi prolongada progressivamente até Panorama, na beira do rio Paraná, onde chegou em 1962. A substituição da bitola métrica pela larga também foi feita progressivamente, bem como a eletrificação da linha, que alcançou seu ponto máximo em 1952, em Cabrália Paulista. Em 1976, já com a linha sob administração da FEPASA, o trecho entre Bauru e Garça que passava pelo sul da serra das Esmeraldas, foi retificado, suprimindo-se uma série de estações e deixando-se a eletrificação até Bauru somente. Trens de passageiros, a partir de novembro de 1998 operados pela Ferroban, seguiram trafegando pela linha precariamente até 15 de março de 2001, quando foram suprimidos.
 
A ESTAÇÃO: Aberta em 1941, a estação de Airosa Galvão "nova" passou a integrar o tronco oeste, já com bitola larga, substituindo e desativando a Ayrosa Galvão-velha, num ponto diferente, a cerca de 2 quilômetros, da estação velha.

Em 1967, a antiga ponte sobre o Tietê, pouco à frente na linha, foi substituída por outra, devido à construção da represa de Bariri.

A estação, no bairro hoje chamado de Potunduva, fica próxima à Usina Diamante, e, em 1986, ainda estava em estado regular de conservação; em 2016, porém, estava em completo abandono e descaracterizada.

"Um amigo de Jaú me disse hoje que a população de lá está passando graxa nos trilhos lá na subida de Ayrosa (em Potunduva). Daí, o trem patina, para e o pessoal arrebenta a trava do vagão e derrama a soja no chão. A carga não tem como ser recolhida, pois é transportada a granel, então é saqueada. Estão vendendo a saca de soja a 5 reais em Jaú. Aliás, ele me disse que a ferrovia em Jaú virou um estorvo. Não traz retorno nenhum à cidade e ainda é um abrigo de andantes e bandidos. Os tiroteios, ocorrências com drogas e mortes estão corriqueiros. Em Dois Córregos, estão tirando pregos de fixação da linha para que o trem tombe para saquearem a carga. Eu não sei onde vamos parar!" (Rodrigo Cabredo, 06/04/1999).

Mais tarde, na edição da Revista Ferroviária de maio de 1999, foi publicada matéria que confirmava o problema, mas que dizia que os saques não eram realizados com graxa, mas por indivíduos de Potunduva que pulavam dentro dos vagões, com as portas abertas e em baixa velocidade por causa do mau estado dos trilhos e do aclive, e retiravam a mercadoria. Ao lado da estação, fica o armazém, depredado, e uma casa que parece ter sido do chefe de estação, hoje habitada, mas ainda em estado externo surpreendentemente razoável. No final do ano 2000, pessoas da cidade de Jaú vinham tentando a restauração da estação e sua vila, com trabalho voluntário e apoio do município. "Passei muitas temporadas de férias na usina Diamante e eventualmente usava o trem da Cia. Paulista para ir até a estação de Ayrosa Galvão para chegar ao meu destino.

O trajeto era feito em vinte minutos. O trem saía pontualmente, às 9h20, e naquele tempo podia-se acertar o relógio pelo apito do trem. Passava pela estação de Ave Maria e chegava a Potunduva, como era conhecido o lugarejo onde estava a "estação da Ayrosa Galvão". A estação era como todas as outras da Paulista e tinha-se a impressão que elas foram trazidas desmontadas da Inglaterra: havia um pequeno barracão, o prédio onde ficava o chefe, o telégrafo, despacho, banheiros; um outro prédio onde ficavam os comandos do pátio de manobras e desvios de linhas, tudo mecânico, e as casas dos trabalhadores. O pátio de manobras era um verdadeiro playground, onde junto com o Betão, Marcos e outros moleques que moravam na usina, aprontávamos nossas traquinagens. Alguns vagões ficavam estacionados aguardando completar a carga de areia, extraída do rio Tietê, ali perto, e era enviada a São Paulo.

Enquanto a carga dos vagões não era completada, ficávamos brincando neles. Aprendemos a desbrecá-los e ficávamos observando a cara do maquinista quando encostava a locomotiva nos vagões e estes saíam andando. O chefe da estação, o seu Pereira, parecia estes gordinhos de caricatura. Ele ficava ordenando que fôssemos embora, que abandonássemos o pátio, mas nós ignorávamos seu apelo. Ele não tinha a agilidade necessária para correr pela linha do trem, mas, quando ameaçava, saíamos um grupo para a esquerda, outro para a direita e seu Pereira voltava para a gare resmungando. Um dos caminhos que fazíamos da estação até a usina passava pela pensão da dona Santana, baiana, viúva, que trazia os filhos e hóspedes "na rédea curta".

A pensão era uma construção grande, com muitos quartos, parecida com um trem, pois os quartos, um ao lado do outro, tinham uma porta e uma janela que davam para a estrada e não se comunicavam. Eram alugados aos safristas, migrantes que vinham do Nordeste para trabalhar durante a safra. Só que esse caminho tinha um problema: o cheiro do feijão que exalava das imensas panelas, que ficavam em um fogão a lenha na cozinha e que abria o apetite até de anoréxico. Talvez por este motivo o usássemos pouco. A administração da Usina Diamante era exercida por membros da família Franceschi. José Antonio, meu tio, era o chefe do escritório, pilotava uma enorme máquina de contabilidade que ficava em uma mesa em formato de "U" e poderíamos chamá-la de "computador mecânico".

Ele gostava de explicar o funcionamento daquela geringonça. Ayrton era o chefe do laboratório, aceitava nossa ajuda, medindo sacarose, brix e outras variáveis das amostras de cana, até o momento que alguma coisa não dava certo. Então ele abria a porta, agradecia e nos convidava a sair. Virgilio, Lilo, era o responsável pela parte agrícola, usava um Simca Alvorada, verde, que apelidamos de lagarto. Se nós pensássemos em fazer alguma coisa fora do programa, o "lagarto" sorrateiramente aparecia e Lilo dizia "o que é que os moços perderam por aqui?" A indústria era comandada por Antonio Sobrinho, o seu Nego. Como naquela época não havia segurança do trabalho, circulávamos por toda parte, desde as moendas até as centrífugas de produção do açúcar. Seu Nego nos via e, com aquele ar bonachão, dizia "tomem cuidado"; apenas isto. Havia também o Silvio, que era o tesoureiro da empresa e usava uma picape Ford cinza da cor dos carros da Brinks. Dizíamos que o carro era blindado, pois ele ia diariamente a Jaú para ir aos bancos. Realizávamos algumas tarefas durante as férias.

Uma época surgiu a necessidade de tijolos para uma expansão da usina e foi montada uma olaria num antigo terreiro usado para secagem de café. Nós nos transformamos em oleiros e lá fomos aprender a amassar o barro e fabricar tijolos. Fabricávamos sabão, com sebo, soda cáustica e cinza, que era vendido na cooperativa do Otávio Ionta; imprimíamos sacos para armazenar e comercializar a produção de açúcar; passávamos horas na balança pesando caminhões que chegavam carregados de cana; tentávamos "ajudar" os tratoristas e motoristas de caminhão, manobrando as máquinas quando estas voltavam no final do dia, eram abastecidas e estacionadas para pernoite no pátio do posto. Essa tarefa só era realizada quando o Orlando Possani se distraia, ou seja, quase nunca. Com o tempo, as férias na usina perderam a graça, já estávamos crescidos, muitas pessoas já haviam se mudado para Jaú. Mas guardo ótimas recordações dessa fase feliz da minha vida
" (Eurípedes Martins Romão, 12/2006).

(Ver também AYROSA GALVÃO-VELHA - RAMAL DE AGUDOS)

CLIQUE AQUI PARA VISUALIZAR A ESTAÇÃO VISTA DO SATELITE
(gentileza Antonio Carlos Mussio)


ACIMA: Locomotiva Box 6411 no pátio de Ayrosa Galvão em 15/3/1975 (Foto José Pascon Rocha).

(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; Mario Facaretto; José Pascon Rocha; Rafael Corrêa; Antonio Carlos Belviso; Ricardo Bagnato; Eurípedes Martins Romão; FEPASA: Relatório de Instalações Fixas, 1986; Cia. Paulista: relatórios oficiais, 1890-1969; IBGE, 1970; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)
     

A estação, em 1986. Foto Antonio Carlos Belviso

Estação de Ayrosa Galvão, no dia de acidente junto à estação, em 28/08/1988. Foto de um jornal de Jaú

A estação, c. 1995, com passageiros esperando o trem. Autor desconhecido

O prédio já abandonado e com as portas cimentadas, em 10/1999. Foto Ralph M. Giesbrecht

O armazém já depredado, ao lado da estação, em 10/1999. Foto Ralph M. Giesbrecht

O prédio já abandonado e com as portas cimentadas, em 10/1999. Foto Ralph M. Giesbrecht

O prédio já abandonado e com as portas cimentadas, em 10/1999. Foto Ralph M. Giesbrecht

Estação e cabina de controle de Ayrosa Galvão, em 03/2007. Foto Ricardo Bagnato

Estação de Ayrosa Galvão, em 03/2007. Note que a cobertura da plataforma já se foi. Foto Ricardo Bagnato
     
Atualização: 30.07.2017
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.