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E. F. de Baturité
(1880-1909)
Rede de Viação Cearense (1909-1975)
RFFSA (1975-1997) |
ANTONIO
DIOGO
(antiga CANAFÍSTULA)
Município de Redenção,
CE |
Linha-tronco - km 80,793 (1960) |
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CE-3146 |
Altitude: 171 m |
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Inauguração: 14.03.1880 |
Uso atual: em reforma |
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com trilhos |
Data de construção do
prédio atual: n/d |
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HISTORICO DA LINHA: A
linha-tronco, ou linha Sul, da Rede de Viação Cearense
surgiu com a linha da Estrada de Ferro de Baturité, aberta
em seu primeiro trecho em 1872 a partir de Fortaleza e prolongada
nos anos seguintes. Quando a ferrovia estava na atual Acopiara, em
1909, a linha foi juntada com a E. F. de Sobral para se criar a Rede
de Viação Cearense, imediatamente arrendada à
South American Railway. Em 1915, a RVC passa à administração
federal. A linha chega ao seu ponto máximo em 1926, atingindo
a cidade do Crato, no sul do Ceará. Em 1957 passa a ser uma
das subsidiárias formadoras da RFFSA e em 1975 é absorvida
operacionalmente por esta. Em 1996 é arrendada juntamente com
a malha ferroviária do Nordeste à Cia. Ferroviária
do Nordeste (RFN). Trens de passageiros percorreram a linha Sul supostamente
até os anos 1980. |
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A ESTAÇÃO: A estação
de Canafístula foi inaugurada em 1880, no topo da serra
entre Fortaleza e Baturité.
Nos anos 1940 seu nome foi alterado para Antonio
Diogo.
"Poucas pessoas tomavam conhecimento dos feitos desses bravos
servidores públicos. Era seu costume, antes da partida,
em todas as viagens, vistoriar o trem, examinando as mangueiras de
freio a vácuo, os engates e o número de carros, aquilatando o peso
que sua locomotiva descolaria. E, naquela madrugadinha, avaliou que
teria sérios problemas na subida da serra do Itapaí, já que, dentre
os sete vagões da composição, dois eram muito pesados, os chamados
"carros verdes", feitos de laminados de aço e construídos aqui mesmo
no Ceará e lançados recentemente na ferrovia. Era o inverno de 1956
ou 57, não me lembro bem. E, por ser inverno, além dos trilhos ficarem
escorreguentos, os embuás, atraídos pelo clima frio, faziam verdadeiras
procissões quilométricas sobre o caminho de ferro e se constituíam
num verdadeiro problema na tração das rodas da máquina, que passavam
a deslizar e, às vezes, até mesmo parando o trem.
Enquanto as estações eram alcançadas rigorosamente no horário, ele,
agarrado aos comandos da "maria-fumaça", permanecia calado, ensimesmado,
falando tão-somente o necessário com o foguista, preocupado com os
embuás na subida da serra, bichinhos quase insignificantes, mas que
interfeririam, com certeza, na marcha do trem, conforme sua larga
experiência. Na estação de Amaro Cavalcante, a 500 metros do início
da subida da serra, ele teve um lampejo, a idéia clareou e o brilho
dos seus olhos azuis denunciou a solução. Consultou o foguista, que
concordou imediatamente. E, arrancando o trem da estaçãozinha, a potência
da locomotiva nº 316 - uma alemã cargueira - logo se fez notar e,
ao inserir-se o trem na grande curva do pé da serra, conhecida das
tripulações como o "velho Tinoco", a velocidade já era espantosa.
Os passageiros que olhavam para a máquina, viam, abismados, um homem
pendurado no limpa-trilhos, uma mão agarrada à plataforma e a outra
empunhando uma vassoura sobre o trilho, espanando a procissão de embuás,
deixando o caminho livre. Era o foguista Moacir Maia. Enquanto isso,
o maquinista, num esforço desesperado, dava conta dos comandos e fazia
o trabalho do foguista ausente, empurrando lenha na grande fornalha
- um sem número de vezes - e acionando os monitores de água para a
alimentação contínua da caldeira, providências exigidas numa rampa
como aquela, de nove quilômetros de extensão. E a 316 puxava aquele
trem pesado, serpenteando serra acima, numa velocidade superior a
30Km por hora, numa disposição espantosa para os trens da época. Vencida
a serra, lá em cima, na estação de Antônio Diogo, o Sr. João
Martins, antigo chefe do depósito de locomotivas de Quixeramobim,
que viajava no carro-bagageiro, procurou saber quem era o maquinista
daquele trem e, ao ver Chico Velho, deu-lhe os parabéns, dizendo-lhe
que, em todos aqueles anos de sua vida ferroviária, nunca tinha visto
uma locomotiva subir a serra naquela velocidade.
Eram esses os heróis anônimos da ferrovia cearense daquela época,
homens simples, mas competentes, verdadeiros laboratórios em que amalgamavam
a humildade, a dedicação e, principalmente, a grande responsabilidade
que suas funções exigiam, encerrados nas cabines desconfortáveis de
suas máquinas, como os maquinistas e os foguistas; nas andanças constantes
e enfadonhas, pelos corredores dos vagões, como os condutores; agarrados
às rodas arcaicas dos freios manuais, como os guarda-freios; atentos,
debruçados sobre os aparelhos telegráficos, varando as noites mal
dormidas, como os agentes de estação; percorrendo a linha diariamente,
alta madrugada, vergado ao peso do saco de grampos e talas, o trabalhador
da turma da "conserva", em cujas mãos estava a segurança dos trens.
Poucas pessoas tomavam conhecimento dos feitos desses bravos servidores
públicos e certas proezas, como essa aqui relatada, rapidamente caía
no ostracismo em que eram mergulhados aqueles pobres heróis desconhecidos.
Francisco Antonio de Oliveira, o Chico Velho, aposentou-se em 1958,
depois de 42 anos de bons serviços prestados à estrada de ferro do
Ceará e morreu em 1988, aos 87 anos de idade. Moacir Maia, o outro
herói, ainda vive, morador aqui de Fortaleza. Esta e outras estórias
antigas da Rede de Viação Cearense, me foram contadas por ele, Chico
Velho, que era o meu pai" (José Weidson de Oliveira, ©
2002, Editora Verdes Mares. Todos os direitos reservados. Diário do
Nordeste - 18/04/2004. Enviado por Clair de Melo Rodrigues).
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1880
AO LADO: Inauguração
das estações de Bahu, Canafistula e de Canoa
em 1880 - CLIQUE SOBRE A IMAGEM PARA VER A REPORTAGEM INTEIRA
E AQUI
PARA VER A 2a PARTE DELA (O Cearense, 17/3/1880)
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ACIMA: Trem da R. F. Baturité na estação
de Canafístula, provavelmente anos 1920 (site www.cfn.com.br).
ACIMA: A estação já abandonada (Foto sem data e de autor desconhecido)
(Fontes: Clair de Melo Rodrigues; José Weidson
de Oliveira; O Cearense, 1880; www.cfn.com.br; Diário do Nordeste,
2004; Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Mapa - acervo
R. M. Giesbrecht) |
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A estação em 2008. Foto Adilia Maria Machado Feitosa
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A estação em 2011. Autor desconhecido |
A estação mde Antonio Diogo em reforma, em 2021. Foto Geraldo Langovsky |
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Atualização:
13.10.2022
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