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VXY Mogiana em MG
Indice de estações
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Bocaiuva
Camilo Prates
Eng. Pires e Albuquerque
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Linha do Centro - 1931
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ESTIVE NO LOCAL: NÃO
ESTIVE NA ESTAÇÃO: NÃO
ÚLTIMA VEZ: N/D
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E. F. Central do Brasil (1926-1975)
RFFSA (1975-1996)
CAMILO PRATES (antiga JEQUITAÍ)
Município de Bocaiuva, MG
Linha do Centro - km 1.056,834 (1928)   MG-3350
Altitude: 677 m   Inauguração: 01.09.1926
Uso atual: abandonada   com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d
 
 
HISTORICO DA LINHA: Primeira linha a ser construída pela E. F. Dom Pedro II, que a partir de 1889 passou a se chamar E. F. Central do Brasil, era a espinha dorsal de todo o seu sistema. O primeiro trecho foi entregue em 1858, da estação Dom Pedro II até Belém (Japeri) e daí subiu a serra das Araras, alcançando Barra do Piraí em 1864. Daqui a linha seguiria para Minas Gerais, atingindo Juiz de Fora em 1875. A intenção era atingir o rio São Francisco e dali partir para Belém do Pará. Depois de passar a leste da futura Belo Horizonte, atingindo Pedro Leopoldo em 1895, os trilhos atingiram Pirapora, às margens do São Francisco, em 1910. A ponte ali constrruída foi pouco usada: a estação de Independência, aberta em 1922 do outro lado do rio, foi utilizada por pouco tempo. A própria linha do Centro acabou mudando de direção: entre 1914 e 1926, da estação de Corinto foi construído um ramal para Montes Claros que acabou se tornando o final da linha principal, fazendo com que o antigo trecho final se tornasse o ramal de Pirapora. Em 1948, a linha foi prolongada até Monte Azul, final da linha onde havia a ligação com a V. F. Leste Brasileiro que levava o trem até Salvador. Pela linha do Centro passavam os trens para São Paulo (até 1998) até Barra do Piraí, e para Belo Horizonte (até 1980) até Joaquim Murtinho, estações onde tomavam os respectivos ramais para essas cidades. Antes desta última, porém, havia mudança de bitola, de 1m60 para métrica, na estação de Conselheiro Lafayete. Na baixada fluminense andam até hoje os trens de subúrbio. Entre Japeri e Barra Mansa havia o "Barrinha", até 1996, e finalmente, entre Montes Claros e Monte Azul esses trens sobreviveram até 1996, restos do antigo trem que ia para a Bahia. Em resumo, a linha inteira ainda existe... para trens cargueiros.
 
A ESTAÇÃO: A estação de Camilo Prates foi inaugurada em 1926, segundo o Guia Geral das Estradas de Ferro de 1960.

Porém, em maio de 1923 ela já existia com o nome de Jequitaí (O Estado de S. Paulo, 30/5/1923) e na revista O Malho de 22/3/1924 ela já constava como inaugurada com o nome de Camilo Prates (portanto, dois anos antes). É possível que a data de 1926 tenha sido considerada como a da inauguração dos trens definitivos e regulares para Montes Claros.

Nas páginas do “Curriculum Vitae” que meu bisavô Guilherme Giesbrecht, o “engenheiro alemão”, escreveu em 1947, consta nos escritos: “1923 – Chefe dos estudos preliminares do prolongamento da estrada de ferro Bahia-Minas, entre Montes Claros, Bocaiúva e Arassuaí”. Tal prolongamento jamais foi feito, embora tenha havido estudos para isso, feitos por Guilherme, nesse final de ano de 1923. Qual não foi minha surpresa ao ver que existe um relatório escrito por ele mesmo e publicado no jornal “A Manhã”, de 1926, que me foi enviado ontem por meu amigo Daniel Gentili, morador em Lins, SP. Por ele, sabemos que... “dia 11 (de dezembro de 1923): partida de Belo Horizonte e chegada a Buenópolis, MG”. Na época, era a última estação em cidade na linha do Centro da E. F. Central do Brasil. Além dela, havia tráfego funcionando até a estação de Jequitaí, hoje Camilo Prates, onde era a ponta da linha. Por que Guilherme desceu em Buenópolis, sessenta quilômetros antes? Possivelmente porque ali seria possível negociar um trem de lastro para seguir até além de Jequitaí. Foi o que ocorreu: um engenheiro residente da construção da linha até Montes Claros conseguiu um deles para Guilherme e sua comitiva até Malhada do Meio, oitenta e cinco quilômetros à frente. Eles pernoitaram nesta estação – que hoje tem o nome de Engenheiro Navarro – e fizeram preparativos para chegar até Bocaiúva. No dia seguinte, 13, “às 6:30 da manhã, partida para Bocaiuva, onde chegamos às 11 horas e nos hospedamos no hotel de D. Duca Versiani”. E ele já deveria saber que essa senhora tinha um hotel ali – afinal, Guilherme havia trabalhado com o engenheiro Pedro Versiani na E. F. Bahia-Minas, anos antes. Mas como chegaram a Bocaiúva? De trem de lastro? Demoraria um trem de lastro cinco horas para fazer apenas cinquenta e seis quilômetros numa linha provisória? Ou teriam ido de carroça, automóvel, tílburi, cavalo? Ficaram na cidade por seis dias aguardando a chegada de animais para transporte na jornada até Montes Claros e dali além. E foram colhendo o máximo de informações possíveis para a continuação da viagem. Guilherme tinha, na época, cinquenta e sete anos de idade. E continuava a se aventurar pelo desconhecido da mesma forma como fez em Paracatu, MG (1890), Jaguariúna, SP (1891), Aquidauana, MS (1908), quando era bem mais jovem. No fim, chegaram “cinco animais de carga”. No dia 20 de dezembro, partiram às 9:30 da manhã. “A nossa comitiva constava de um animal de carga, dois camaradas montados e do autor desta narrativa”. Depois de uma viagem num “dia horrivelmente quente”, chegaram em Montes Claros, no hotel da D. Duruta, “às 20 e 45. “Gastamos, sem as paradas, 9 horas e 20 minutos de viagem”. Ficaram quatro dias na cidade colhendo informações, “muito escassas”. Deixaram a cidade no dia 24 a cavalo (jegues?) às 7:50 da manhã e chegaram ao Ribeirão do Fogo às 13:00, onde pararam para descansar. Dali seguiram até a barra do ribeirão no rio Verde. Durante todas as viagens, Guilherme ia fazendo anotações: tipos de solo, vegetação, subidas e descidas. Atravessaram o (rio) Verde e subiram pelo divisor de águas do ribeirão do Juramento e, “às 16 horas, entramos no próprio vale do Juramento, que é bem povoado”. “Às 17:30, chegamos à fazenda do Dr. Daniel Chrispim de Macedo, situada a curta distância da margem esquerda do ribeirão; pernoitamos, com alguma relutância da família, pois o dono da casa estava assistindo à festa de Natal em Juramento”. Nessa época, ainda era costume dar hospedagem a viajantes nas fazendas isoladas. “Tivemos um calor de 39º durante o dia; nesta noite, ouvimos a primeira trovoada, mas com pouca chuva, festejada pelos lavradores”. Na manhã do dia 25 de dezembro, deixaram a fazenda agradecendo o Dr. Daniel, que havia retornado durante a noite, seguindo sempre pela margem esquerda do ribeirão Juramento. “Fizemos uma pequena parada na fazenda Maquiné, de propriedade do Sr. Luiz Maia, (...) atravessamos duas vezes o ribeirão e chegamos às 10:30 na povoação do mesmo nome, hospedando-se em casa do Sr. José Leão, demorarmos aí para fazer a nossa provisão e, por ser dia de Natal, celebrado com religioso respeito e muita alegria. No dia 26, partimos de Juramento às 7:30”. Quantos natais em seus 91 anos de vida Guilherme não terá deixado de passar com sua família por causa destas viagens hoje memoráveis?

Quanto ao nome Jequitaí, citado por Max Vasconcellos em 1928, deve ter sido o nome adotado durante o projeto e construção da linha. Camilo Prates foi um político mineiro da época.

Em 2010 o prédio estava abandonado, segundo Alberto Fernandes de Oliveira: "A estação não pode ser utilizada para outros fins como quer a administração municipal local porque a FCA alega não ser seguro o trânsito de pessoas no entorno ferroviário, pois as linhas estão ativas com o transporte de cargas". Não tenho fotografias atuais do local.

1923
AO LADO: Mudança de nome para o atual (O Estado de S. Paulo, 30/5/1923)

1926
AO LADO: Linha interrompida entre Camilo Prates e Bocaiuva (O Estado de S. Paulo, 19/2/1926)

1940
AO LADO: Descarrilamento próxmo a Camilo Prates (O Estado de S. Paulo, 7/4/1940)

 

pedagem a viajantes nas fazendas isoladas.

ACIMA: Parte do município de Bocaiuva nos anos 1950, com a linha do Centro da EFCB cortando-o de sul a norte e com pelo menos cinco estações na linha (IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. IX, 1960).

(Fontes: Alberto Fernandes de Oliveira; O Estado de S. Paulo, 1923; O Malho, 1924; Max Vasconcellos: Vias Brasileiras de Communicação, 1928; IBGE: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. IX, 1960; Guia Geral de Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)

     

Estação de Camilo Prates em 1924. O Malho, 23/3/1924
     
     
Atualização: 26.06.2023
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.